O
centenário Colégio Sagrado Coração de Jesus foi a primeira
escola confessional (pertencente a igrejas ou confissões
religiosas) católica feminina fundada por uma congregação
europeia francesa em Campinas. Daí a sua importância histórica
para o resgate dos primórdios da educação feminina na cidade.
Com este objetivo, a historiadora Isabela Cristina Salgado
mergulhou ao longo de dois anos na documentação mantida
pelo colégio e, graças à sua experiência com arquivos históricos,
conseguiu obter diversas novas informações sobre a escola.
Ela não encontrou, por exemplo, nenhuma outra indicação
de colégio confessional católico no período da Primeira
República nos mesmos moldes da criação do Coração de Jesus,
cuja fundação ocorreu em 1909.
Todo material colhido minuciosamente resultou,
num primeiro momento, na revista em comemoração aos 100
anos do colégio, publicada em 2009, durante o aniversário
da escola. Na sequência, a historiadora aprofundou a pesquisa
e apresentou dissertação de mestrado sobre o assunto na
Faculdade de Educação (FE), sob orientação do professor
Sérgio Eduardo Montes Castanho. “Fui aluna do Coração de
Jesus no primário, sempre trabalhei com arquivos históricos
e o acesso à documentação possibilitou traçar o perfil da
escola, acrescentando mais uma parte à história da educação
em Campinas”, destaca a autora do estudo.
Isabela Salgado explica que a Congregação
das Irmãs de Nossa Senhora do Calvário ou calvarianas, fundada
em 1833 por Pierre Bonhomme, em Gramat, na França, chegou
ao Brasil em 1906 com o objetivo específico de fundar instituições
de ensino, uma vez que naquele país elas estavam proibidas
de lecionar por conta do processo de laicização das escolas.
Segundo apurou, o caráter assistencial que definiam as congregações
que chegavam ao país não era uma característica das calvarianas.
Pelo contrário, a natureza das missões empenhadas por freiras
vindas dos países europeus era cuidar de enfermos em casas
de misericórdia. Já as freiras calvarianas mantinham em
torno de 65 escolas na França, nos anos de 1890, em que
recebiam algum tipo de subvenção do governo. A vinda ao
Brasil era pretendida para estender a atividade educacional.
Na
formação da primeira turma em 1909, o colégio contava com
90 alunas, em regime de internato, basicamente oriundas
da elite campineira. A escola mantinha as categorias de
jardim da infância, primário e secundário; além disso, chegaram
a atender deficientes auditivas de 1929 a 1933. Depois esta
atividade específica foi transferida para São Paulo, onde
até hoje permanece o Instituto Santa Terezinha.
As instalações do colégio localizavam-se
na Rua José Paulino, onde permaneceu até 1983, quando as
irmãs se mudaram para uma chácara, adquirida em 1950, no
Jardim Paraíso, onde o colégio funciona até hoje. O antigo
prédio foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).
Segundo Isabela, já existiam outras instituições
de ensino públicas e privadas na cidade naquele período.
O Colégio Progresso, por exemplo, contemporâneo do Coração
de Jesus, mantinha suas atividades com rigor nos rituais
religiosos, mas não pode se dizer que se tratava de um colégio
confessional católico. “A diretora da escola era bastante
religiosa e imprimia no colégio as mesmas características
e rigidez de uma instituição católica. Não tinha nenhuma
congregação por trás da sua fundação ou nas ministrações
de aulas”, explica Isabela, lembrando ainda do Colégio Ave
Maria, que só viria a ser fundado em 1930.
Outro ponto a ser destacado no trabalho
realizado pela historiadora é a trajetória marcada pelas
lutas das irmãs calvarianas para a sobrevivência da congregação,
cuja base era a instituição. “O colégio bastante tradicional
chegou a ter três mil alunos e hoje conta aproximadamente
com mil estudantes matriculados. No início, não era diferente
de outras instituições católicas que tinham como característica
marcante o rigor com a disciplina e a inserção de professores
gabaritados”, relata.
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■ Publicação
Dissertação: “A educação
católica da elite campineira na Primeira República: o Colégio
Sagrado Coração de Jesus (1909-1930)”
Autor: Isabela Cristina Salgado
Orientador: Sérgio Eduardo Montes Castanho
Unidade: Faculdade de Educação