"Não mais se ouvirão os coros das vozes dos cantores do Guayrá. Não mais apreciarão a arte talhada nos santos e as armas forjadas no Guayrá. Não se achará mais nada em ti, Roma. Não se achará mais nada em ti, Portugal. Não se achará mais nada em ti, Espanha. Não se achará mais nada em ti, ó juruá!"
Essa breve descrição tem um destinatário: você, leitor. E o destino? Guayrá. Esse é o nome do novo romance de 320 páginas lançado pelo escritor e professor da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp Marco Aurélio Cremasco. Na obra, ele faz alusão à região do Paraná que era conhecida como Guayrá no século 17.
A região do Guayrá está incrustada na geografia paranaense, delimitada por seus grandes rios Paranapanema ao norte; Paraná no oeste; Tibagi a leste; um pedaço do Iguaçu no sul; Ivaí e o Piquiri a sudeste e sudoeste. Ao longo das margens desses rios, ou de suas proximidades, foram instaladas reduções jesuíticas e vilas espanholas, depois destruídas por moradores da Capitania de São Vicente.
O livro apresenta poeticamente um tempo-espaço de conflitos e disputas que envolviam cultura, economia, mitologia, religião e política que aconteciam num lugar selvagem em que conviviam colonizadores espanhóis, padres portugueses e povos indígenas. O autor empregou elementos históricos e incorporou à narrativa o universo mítico e linguístico dos povos indígenas e também do mundo bíblico.
Segundo o autor, o livro pode ser entendido como "uma ficção histórica, uma vez que a História canônica, ainda que sirva de base para o enredo, é questionada para permitir olhares distintos e conflitantes, inclusive pelo amálgama entre ficção e mitologia, de forma a tornar a História personagem de si própria".
O romance, publicado pela Editora Confraria do Vento, procura, através da linguagem, reconstituir o ambiente em que culturas distintas estabeleceram contato e conflito. Ele aborda a riqueza histórica que ainda permanece obscura na memória do Paraná e salienta que Guayrá também pode significar "aquele tempo resiste", mesmo após 400 anos.
Nascido em Guaraci, Paraná, Marco Aurélio Cremasco é um dos fundadores da revista de literatura Babel. É autor de cinco livros de poesia, além do romance Santo Reis da Luz Divina (Editora Record, 2004), vencedor do I Prêmio Sesc de Literatura e finalista do Prêmio Jabuti em 2005; As Coisas de João Flores (Editora Patuá); e contos Histórias Prováveis (Editora Record, 2007).
É de sua autoria também livros de caráter mais técnico, como Fundamentos de Transferência de Massa, Vale a pena estudar Engenharia Química, Operações Unitárias em Sistemas Particulados e Fluidomecânicos (Editora Blucher) e Histórias Prováveis (Editora Record).