O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, esteve na quarta feira, 21, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) para apresentar à Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informação o projeto para criação de um Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS). A apresentação foi feita a convite do presidente dessa comissão, deputado Sergio Victor (NOVO).
O reitor iniciou sua apresentação contando aos membros da Comissão que o projeto do HIDS tem origem na aquisição da Fazenda Argentina, uma área com 1,4 milhão de metros quadrados, contígua ao campus da Universidade, no Distrito de Barão Geraldo, em Campinas. “Poderíamos simplesmente ocupar a área com prédios, com novas unidades de ensino, mas temos a possibilidade de criar algo diferente, novo. Nós pensamos algo que explorasse esse cenário em que vivemos, de forte crescimento e disseminação de uma série tecnologias disruptivas, como inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT)”, disse.
De acordo com o dirigente, o HIDS está sendo imaginado como uma estrutura integrada de modo harmônico aos campi da Unicamp e à cidade de Campinas, capaz de atrair centros de pesquisa de empresas e de universidades do Brasil e do exterior, cujas atividades estejam fortemente integradas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). “Vemos esse projeto fortemente integrado ao programa que criou 11 polos de desenvolvimento econômico, lançado pelo Governo do Estado de São Paulo em maio desse ano”, completou.
Nascido na Unicamp, o projeto do HIDS despertou o interesse de outras instituições e ganhou parceiros institucionais como a PUC-Campinas, a Prefeitura de Campinas, o Centro Nacional de Pesquisa de em Energia e Materiais (CNPEM), o CPqD, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Cargill e o Centro de Processamento de Dados do Banco Santander, todos presentes no entorno da Fazenda Argentina, somando uma área total de mais de 11 milhões de metros quadrados. “Um dos principais desafios para a consolidação do projeto é estabelecer um novo modelo jurídico que viabilize as parcerias entre todas essas instituições e outras que queiram se estabelecer ali, algo que não é trivial”, lembrou Knobel. “Queremos criar algo como uma ‘zona franca de conhecimento’, ideia trazida por um aluno da PUC-Campinas, um território com um modelo de governança que estimule a produção de conhecimento e a criação de um laboratório vivo de soluções para os desafios de estabelecer um desenvolvimento sustentável”, destacou. “Isso depende fortemente de um novo modelo jurídico em termos de legislação, que evidentemente terá que passar por esta Assembleia”, complementou.
O reitor da Unicamp destacou alguns princípios que poderiam estar presentes no modelo de ocupação do HIDS, como por exemplo o uso misto do solo, simbiose industrial, tratamento de efluentes, emissão líquida zero de carbono, lixo zero fundamentado em análise de ciclo de vida, programa de reciclagem e reutilização de resíduos, todos alinhados com os ODS. “Temos consciência da ousadia do projeto, mas estamos entusiasmados com as possibilidades que estão se abrindo a partir de diálogos com o Governo do Estado de São Paulo, com a Prefeitura de Campinas, empresas e proprietários privados. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aprovou um recurso de US$ 1 milhão a fundo perdido para a elaboração de um master plan para toda a área”, contou Knobel. Segundo ele, os próximos passos incluem a formalização de um Conselho Fundador do HIDS que terá como membros as instituições presentes no território e ainda empresas como a CPFL e a Sanasa.
A deputada Beth Sahão (PT) elogiou a iniciativa do HIDS, especialmente na questão do lixo zero, segundo ela, um princípio que tem sido adotado em cidades importante em todo o mundo. Ela lembrou, no entanto, da importância de manter a transparência nos modelos das parcerias com empresas. “A universidade precisa se integra mais com a sociedade e comunicar melhor o conhecimento produzido”, disse. Knobel disse que, de fato, as universidades têm dificuldade de comunicar seus resultados, mas que esse tem sido um esforço constante da Unicamp. Sobre as parcerias com empresas, ele destacou que todos os convênios, contratos e parcerias com empresas têm como premissa a autonomia e a liberdade do pesquisador para conduzir seus estudos.
A deputada Marina Helou (Rede Sustentabilidade) concordou com a ideia de que o HIDS pode ser um modelo internacional de distrito sustentável. “Sou uma entusiasta do HUB e coloco meu mandato à disposição para ajudar na institucionalização do HIDS, projeto que deve ser visto ele deve ser considerado como prioridade pelo Estado de São Paulo”, afirmou Helou. Na mesma linha, o deputado Professor Kenny (PV), afirmou que é muito positiva a ideia de criar uma zona franca do conhecimento e sugeriu que os membros da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informação apresentem um projeto com um esboço de lei para viabilizar o modelo de governança para o HIDS. “O projeto tem um perfil altamente inovador que poderia repercutir em todo o país”, apontou.
Fechando a sessão, o deputado Sergio Victor, lembrou que a Unicamp já é uma referência no país quando se trata de relação universidade-empresa. Ele propôs a criação de uma subcomissão composta por deputados, especialistas da universidade, da iniciativa privada para desenhar caminhos legais para viabilizar o Hub. O deputado também sugeriu uma aproximação com o Ministério Público para fazer esse assunto avançar “O HIDS pode ajudar a amenizar esse distanciamento entre a universidade e a população, gerando mais integração com a sociedade como um todo”, finalizou.
Polos de desenvolvimento econômico - Em maio o Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, lançou um programa que criou 11 polos de desenvolvimento econômico no Estado. Os polos estão concentrados em setores industriais específicos como saúde e fármacos, metal-metalúrgico, máquina e equipamentos, automotivo, etc., que terão políticas públicas para alavancar a produtividade e a competitividade. A cidade de Campinas aparece em cinco dos 11 polos: agritech; alimentos e bebidas; automotivo; químico, borracha e plástico e saúde.