Em visita de quatro dias encerrada nesta sexta-feira (28), a diretora de Ciência e Inovação Tecnológica do Ministério da Saúde de Cuba, Ileana del Rosário Morales Suarez, manifestou a intenção de firmar acordos de cooperação e intercâmbio com a Unicamp em ao menos uma dezena de temas.
Ileana del Rosário informou que as instituições cubanas estão interessadas em aprofundar as ações colaborativas de médio e longo prazos a serem realizadas entre a Unicamp e ministérios, universidades e centros de pesquisa de Cuba, em temas que vão da área médica ao setor cultural.
Membro do Departamento de Saúde Coletiva da Unicamp e executor de um convênio entre a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e a Universidade de Havana, o professor Sérgio Carvalho lembra que já estão em desenvolvimento frentes de investigação em áreas como políticas públicas de saúde, sistemas de saúde – em especial no campo da atenção primária à saúde – e formação de profissionais da saúde.
Ileana del Rosário disse ter iniciado negociações para a implementação de um projeto que pretende aprofundar os fundamentos dos programas de saúde coletiva da Unicamp e os de saúde pública de Cuba.
Esse programa conjunto teria como elementos básicos os conceitos de saúde comunitária, em que devem ser levados em conta os chamados “determinantes sociais”: aspectos como os indicadores de pobreza, a iniquidade, a vulnerabilidade, questões raciais, questões de gênero, aspectos específicos da saúde da mulher, doenças crônicas, envelhecimento, etc.
Por conta disso, o projeto envolveria especialistas em antropologia e cientistas sociais e garantiria a implementação de sistemas de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. “Não se trata de dizer que a questão biomédica não seja importante, porque é importantíssima, mas pensar a saúde como uma produção social”, disse a diretora. “A professora Ileana ainda nos traz uma questão absolutamente instigante, que é o mundo pós-covid. A determinação de pensar a vida e de identificar problemas cuja solução vai exigir ações para além do sistema de saúde”, acrescentou o professor Sérgio Carvalho.
Troca de informações
A diretora diz que também há interesse da parte de Cuba na troca de informações sobre a formação dos profissionais da saúde. Segundo ela, esse processo formativo em Cuba guarda algumas diferenças em relação ao ensino brasileiro.
O profissional médico cubano, diz a diretora, é orientado para a prática do atendimento na assistência básica desde os primeiros anos na escola. “Nós temos muita experiência na atenção primária, mas também queremos trocar informações sobre tecnologias inovativas e discutir questões como patentes, publicações”, afirmou. Em Cuba, as escolas de medicina estão ligadas ao Ministério da Saúde e não ao Ministério da Educação.
Outros temas
Ileana del Rosário diz vislumbrar outras possibilidades de interação em questões da área da saúde – como medicina tropical, microbiologia e epidemiologia; nas questões da mudança climática, da demografia, da nutrição e do que ela chama de saúde planetária – que é a relação da saúde humana com a dos animais e com o meio ambiente.
Além disso, afirma a diretora, há perspectivas de cooperação em diversos campos do setor cultural – abrangendo as áreas de música e artes plásticas.
Projetos em andamento
A representante do governo cubano esteve também na Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen) da Unicamp, onde conheceu uma série de projetos que estão em andamento na Universidade.
O sistema de pesquisa interdisciplinar foi apresentado à comitiva cubana por Ana Carolina de Moura Delfim Maciel, coordenadora do Cocen, e Raluca Savu, coordenadora-adjunta.
"A chefe de gabinete adjunta, Adriana Nunes Ferreira, nos convidou para apresentar o Sistema Cocen porque a Ileana já trabalha com a perspectiva de projetos interdisciplinares. Ela é uma pessoa da área da saúde, mas veio aqui também com a missão de expandir as possibilidades de parcerias, incorporando outros campos de atuação. Foi um encontro muito inspirador para todos que participaram dele. Ela não apenas ouviu propostas dos centros e núcleos [da Unicamp], como sugeriu várias ideias. Identificamos muitas conexões, muito além do que imaginávamos", disse Ana Carolina Maciel.
Canal direto
A visita serviu ainda para o estabelecimento de um canal direto de comunicação entre a Unicamp e o governo cubano com o objetivo de promover a articulação de parcerias e a implementação de intercâmbios.
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