Representantes do acampamento Marielle Vive estiveram na Universidade para discutir segurança hídrica

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Um grupo de 15 pessoas do Acampamento Marielle Vive esteve no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp na última semana para prosseguir com um projeto de extensão voltado à melhoria da segurança hídrica — o “Ciclo das Águas no Marielle Vive”. A comunidade do Movimento Sem Terra, localizada em Valinhos (SP), já havia recebido, em maio, uma equipe da Unicamp, que identificou pontos sensíveis quanto à água e levantou temas para discussão. Nessa primeira visita ao IG, foi possível analisar os locais da área acampada mais favoráveis para a localização de caixas d’água e os métodos para que esta água chegue mais facilmente aos 33 núcleos de base em que é dividido o acampamento.

De acordo com o docente do IG Jefferson Picanço, que recebeu o grupo, “o projeto de extensão busca construir, junto com os acampados, propostas que tenham por objetivo a melhoria da segurança hídrica do acampamento”. Segundo Wilson Lopes, um dos líderes do acampamento, a visita ao IG busca avançar na proposta de identificar a quantidade de água disponível na área e de aumentar o volume de reserva. “Hoje passamos uma dificuldade muito grande, porque não temos água potável. A água da mina não é própria para consumo. Recebemos da prefeitura de Valinhos um caminhão pipa com 10 mil litros de água por dia, mas padecemos com falta de água para consumo e para irrigação”, diz Lopes.  Picanço destaca que o objetivo do projeto é “uma criação conjunta, ou co-criação, a partir das reais necessidades dos acampados, partindo do princípio de que a ciência é um conhecimento importante, mas está prioritariamente à serviço das pessoas e entende e dialoga com os conhecimentos tradicionais”, destaca. 

O docente do IG Jefferson Picanço que recebeu o grupo d acampamento: análise de locais mais favoráveis para a localização de caixas d’água 
O docente do IG Jefferson Picanço que recebeu o grupo do acampamento: análise de locais mais favoráveis para a localização de caixas d’água 

Na visita ao IG, em uma oficina, foram discutidos problemas relacionados ao ciclo da água detectados nas reuniões anteriores. “A discussão destes temas elencou alguns dos problemas que podem redundar em projetos a serem realizados conjuntamente pelos participantes da Unicamp e pelos acampados, como a alocação dos recursos da água que é fornecida pela prefeitura de Valinhos e a água das fontes na área do acampamento. Pensamos nos locais mais favoráveis para a localização de caixas d’água e dos métodos para que esta água chegue mais facilmente a todo o acampamento”, destaca Picanço.

Wilson Lopes lembra da importância do estreitamento de relações institucionais que vem se estabelecendo entre o acampamento Marielle Vive e a Unicamp. “Esse tem sido nosso objetivo, e temos caminhado firmemente nesse sentido, tendo inclusive a possibilidade de envolver outros cursos como Pedagogia, Engenharia Civil, Medicina”, diz Lopes. “Com o curso de Letras, há uma proposta de realizar a formação com educadores dentro do acampamento. Estamos avaliando a  possibilidade de interação entre estudantes e o acampamento”, complementa. 

O acampamento Marielle Vive foi estabelecido em 2018. Hoje, reúne cerca de 350 famílias, com cerca de 100 a 120 crianças e adolescentes. De acordo com Lopes, há no local uma escola popular com aulas de reforço, de informática, de inglês e educação de jovens e adultos. Há também uma horta com produção orgânica de hortaliças e legumes, que atende principalmente a demanda interna  do acampamento. Também fazem doação para a Santa Casa de Valinhos e comercializam em duas feiras em Campinas. A questão hídrica é, portanto, muito importante para o acampamento. 

Um dos líderes do acampamento Wilson Lopes: avançar na proposta de identificar a quantidade de água disponível na área
Wilson Lopes, um dos líderes do acampamento Marielle Vive: avançar na proposta de identificar a quantidade de água disponível na área

Na abertura da visita ao IG, Jefferson Picanço lembrou que a proposta é fazer um diálogo em que o discurso científico não é mais importante que os conhecimentos passados de geração em geração.  “Esse conhecimento está junto com o conhecimento da ciência. A ideia é trazer essa união entre saberes para solucionarmos um problema da comunidade”, disse. Lopes complementou que “existe uma ponte entre a sociedade e a universidade que está sendo atravessada”. 

O projeto, que é aberto à comunidade acadêmica, conta com a participação do docente do IG Jefferson Picanço; dos estudantes de pós-graduação do IG Henrique Santana, Matheus Busca, Diego Salvador, Bruno Puttini, Letycia Venancio, Pedro Cheliz e Isabella Barbosa; e dos estudantes de graduação do IG Giovanna Tomita e Hiago Nascimento. Além dos acampados, também foram convidados para a oficina no IG Igor Tadeu, do coletivo Dínamo de Engenharia Popular, e Thiago Monaco e Roberta Selingardi, da Tapiá Projetos Agroflorestais. Em agosto, haverá outra reunião, desta vez no Acampamento Marielle vive, onde serão detalhados os projetos e realizados o cronograma de sua realização, bem como a indicação de outros projetos a serem realizados a médio prazo.

O projeto é aberto à comunidade acadêmica; discussões foram realizadas nos dias 22 e 23/6  
O projeto é aberto à participação da comunidade acadêmica; discussões foram realizadas nos dias 22 e 23/6  

 

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Nessa primeira visita ao IG, foi possível analisar os locais da área acampada mais favoráveis para a localização de caixas d’água e os métodos para que esta água chegue mais facilmente aos 33 núcleos de base

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004