Edição nº 538

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 03 de setembro de 2012 a 16 de setembro de 2012 – ANO 2012 – Nº 538

Cinema em
verbetes


 

Um conjunto expressivo de conhecimentos sobre o cinema nacional acaba de ser sistematizado em livro. São 836 páginas, 500 verbetes atualizados, 130 novas entradas acrescentadas, 188 fotografias, 50 autores de diversas regiões do país e dois organizadores especialistas em cinema nacional – Fernão Pessoa Ramos, professor do Instituto de Artes da Unicamp, e Luiz Felipe Miranda, do Centro Cultural São Paulo. Os números da terceira edição da Enciclopédia do Cinema Brasileiro, que acaba de chegar às livrarias pela Editora Senac, refletem o trabalho realizado pelos organizadores com o objetivo de incluir na obra a produção cinematográfica nacional do período entre 1999 e 2010.

A primeira década do século XXI correspondeu à fase da chamada pós-retomada do cinema brasileiro: surgiram novos cineastas, atores, atrizes e profissionais que contribuíram para o desenvolvimento cinematográfico, trazendo de volta às salas de projeção milhares de telespectadores, com filmes como Tropa de Elite, Cidade de Deus, Carandiru, Meu Nome Não é Johnny, entre outros. Fernando Meirelles, José Padilha e Karim Aïnouz são exemplos de diretores que surgiram neste período e, portanto, aparecem nos verbetes autorais com sua história e filmografia.

Da segunda para a terceira edição, a enciclopédia aumentou 30%, considerando-se os novos verbetes adicionados e o que foi incluído a mais no material que já existia na edição anterior. “Em certos momentos, tínhamos a impressão de estar às voltas com um novo livro. Ao escrevermos a atualização, sentimos como a produção cinematográfica dos últimos dez anos alterou-se e ampliou o panorama existente. Nossa intenção, como o novo material de pesquisa e crítica que apresentamos, é oferecer ao público leitor, no modo de verbetes, um panorama da viva dinâmica da produção mais recente do cinema brasileiro” escrevem os organizadores na apresentação à terceira edição.

Escolhas subjetivas

“Uma enciclopédia não é uma lista telefônica e muito menos uma tabela periódica”, compara Fernão Ramos, justificando as escolhas de cineastas, produções e temas que compõem os verbetes autorais e temáticos. Ele explica que o critério não foi listar pessoas ou filmes, mas imprimir um recorte pessoal e histórico aos verbetes, já que todos eles são assinados por especialistas em determinados temas. Segundo o docente, os pesquisadores tiveram bastante liberdade para expressar uma visão pessoal sobre o autor com o qual trabalhavam. “Neste sentido, a enciclopédia não é uma lista ‘fria’ de obras, prêmios ou filmes, mas sim possui textos autorais, assinados, que refletem o ponto de vista do pesquisador que escreveu aquele verbete. É opinião pessoal que envolve pesquisa. Na tabela periódica há elementos que não podem ser alterados e é impossível cada um fazer a sua, mas com uma enciclopédia é diferente: as escolhas dos verbetes são, de certo modo, subjetivas e refletem nosso modo de entender a história do cinema brasileiro”, afirma o docente.

O verbete “documentário”, por exemplo, é o mais longo da enciclopédia, quase um minilivro, ocupando 30 páginas, nas quais são contemplados tanto documentários mudos como sonoros. Para os organizadores, o crescimento vigoroso da produção de documentários nos últimos dez anos demonstra a valorização desse cinema pelas novas gerações e reflete a busca por formatos diferenciados.  Ramos conta que recebeu várias críticas pela inclusão de um verbete longo sobre pornochanchada, mas que não foi feito um juízo de valor e a inserção foi realizada porque este gênero do cinema nacional apresentou uma produção muito intensa durante quase 20 anos.

No verbete sobre José Mojica Marins, ficamos sabendo que ele nasceu na Vila Mariana, em 1931, e ganhou sua primeira câmera com 12 anos, o que lhe permitiu realizar seu primeiro filme, rodado num galinheiro. Seu avô era toureiro na Espanha e seu pai se tornou gerente do primeiro cinema construído no bairro onde moravam, razão para que Mojica entrasse em contato com filmes desde criança. No verbete sobre Humberto Mauro, sabe-se que sua produção cinematográfica ainda ocupa lugar central na produção brasileira e inspirou cineastas como Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos. Foi em um de seus filmes, que não existe mais, chamado Cidade Mulher, que Noel Rosa fez sua primeira e única incursão no cinema.

Os verbetes temáticos, por sua vez, cobrem, como nas edições anteriores, períodos e instituições significativas do cinema brasileiro, tais como Cinema Novo, chanchada, pornochanchada, documentário, Cinema Marginal, ciclos regionais, revistas, festivais, cinematecas, Embrafilme, etc. Retratam Estados com produção considerável, como Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Paraná, Rio Grande do Sul, etc, e abordam produtoras, entre as quais Cinédia, Brasil Vita Filmes, Vera Cruz e Saga Filmes. Há ainda verbetes temáticos por função (fotografia, cenografia, roteiro, etc) ou temas diversos, como livros, laboratórios, literatura, cantores-autores, etc. Tais verbetes buscam mapear o cinema brasileiro a partir de conjuntos estruturais que os organizadores consideram significativos.

Entre os autores estão André Gatti, professor do Departamento de Cinema da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e autor de Cinema Brasileiro em ritmo de indústria (1969 – 1990); Anita Simis, professora do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp); Carlos Augusto Calil, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Universidade de São Paulo (USP); Hernani Heffner, diretor de conservação  da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM\RJ) e Lúcia Nagib, professora da Universidade de Leeds e autora de A utopia no cinema brasileiro – matrizes, nostalgia e distopias, entre outros.

Para os organizadores, a intenção foi aglutinar o número necessário de pessoas que escrevem e trabalham com pesquisas sobre o cinema nacional.  “Acho importante sabermos que existe este campo de pesquisa que é o cinema brasileiro e conhecermos quem produz este conhecimento, assim como há pessoas que estudam e pesquisam sobre literatura brasileira, a arte brasileira, o teatro brasileiro. O cinema é pensado de maneira ampla e nós queríamos mostrar qual é o estado deste campo de saber. Queríamos mostrar que o cinema brasileiro existe. Olhando para esta enciclopédia é possível ver que há um campo importante de conhecimento e pesquisa que se chama ‘cinema brasileiro’. É possível ver que vale a pena saber, estudar, ensinar e pesquisar sobre ele”, finaliza Ramos.

 

SERVIÇO

Título: Enciclopédia do Cinema Brasileiro (ampliada e atualizada)
Organizadores: Fernão Pessoa Ramos e Luiz Felipe Miranda
Edição: 3ª
Páginas: 836 
Editora Senac
Preço: R$ 348,00