Edição nº 542

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 15 de outubro de 2012 a 21 de outubro de 2012 – ANO 2012 – Nº 542

Para medir a dor do
bebê na UTI

Enfermeira traduz e adapta escala que pode atenuar desconforto de crianças

É sabido que os recém-nascidos internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal são submetidos a muitos procedimentos e tratamentos considerados invasivos, dolorosos e estressantes. O problema é que eles não podem, muitas vezes, nem mesmo chorar, por estarem entubados. Foi pensando nisso que a enfermeira Flávia de Souza Barbosa Dias traduziu para o Português e validou para a população brasileira a única escala específica no mundo para se medir corretamente a dor prolongada nos bebês e que pode ser utilizada em qualquer unidade neonatal no país. “Desta forma, é possível determinar um tratamento adequado para amenizar o desconforto do recém-nascido, que já sofre por estar internado em uma UTI”, declara a enfermeira que apresentou dissertação de mestrado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), com orientação do professor Sérgio Tadeu Martins Marba.

De acordo com Flávia Dias, este tipo de dor prolongada ocorre depois de procedimentos cirúrgicos, quando há infecções ou doenças crônicas e em procedimentos repetitivos como, por exemplo, picadas de agulhas. Fazer uma avaliação acurada era uma das principais dificuldades encontradas pelos profissionais de saúde que atuam na área de neonatologia. Ela afirma que, por muito tempo, o assunto foi deixado de lado por diversos fatores. “Até a década de 1970, por exemplo, algumas cirurgias eram realizadas nos recém-nascidos sem analgesia”, lembra. A própria escala traduzida pela enfermeira é um caso da pouca atenção em termos de estudos.  Denominada Échelle Douleur Incofort Nouveau-Né (EDIN), ela foi publicada somente em 2001 na França, ainda que os primeiros estudos tivessem iniciado em 1994.

Depois da tradução, Flávia aplicou a escala em 107 bebês internados na UTI do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti – Caism Unicamp e no Hospital Estadual de Sumaré Dr. Leandro Franceschinni. Basicamente, o teste consiste em atribuir pontuação de zero a três em cinco indicadores de comportamento. Os parâmetros avaliam os aspectos da face, os movimentos do corpo, o padrão de sono do bebê, o relacionamento ou como o recém-nascido reage a estímulos e o grau em que ele consegue ser consolado – neste último caso é preciso aferir se o bebê se acalma facilmente ou não. Ao final, são somados os pontos totais dos cinco itens, que chegariam até 15. “Se o valor total somar mais do que seis, indica que o bebê está sentindo uma dor prolongada”, explica.

Para garantir a confiabilidade da escala traduzida, a enfermeira realizou as análises baseada na observação feita por dois profissionais que aplicaram a escala simultaneamente durante quatro horas, sendo que um não sabia o resultado do outro. Assim, ela pôde constar as semelhanças nos resultados finais e concluir se tratar de um instrumento válido e confiável. “Localizar a dor ou aferir a sua intensidade é algo subjetivo até mesmo para os adultos, por isso, a validação desta forma é importante para ter o olhar de dois profissionais”, esclarece.  Além deste, foram feitos outros dois testes estatísticos para analisar o peso dos cinco itens da escala e para comparar os resultados com os obtidos por outra escala existente para avaliar a dor aguda nos recém-nascidos. 

 

Publicação

Dissertação: “Tradução, adaptação cultural e validação de EDIN – Échelle Douleur Inconfort Nouveau-Né – para a Língua Portuguesa do Brasil”
Autor: Flávia de Souza Barbosa Dias
Orientador: Sérgio Tadeu Martins Marba
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
Financiamento: Capes