Edição nº 572

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 26 de agosto de 2013 a 01 de setembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 572

Telescópio


‘Guerra às drogas’ prejudica avanço
da ciência e da medicina, diz artigo

A política internacional de “guerra às drogas” prejudica, quando não impede, o estudo das propriedades medicinais das substâncias banidas, e a proibição de muitas dessas substâncias carece de base científica, diz um artigo de opinião publicado na edição de agosto do periódico Nature Reviews Neuroscience.

Usando como base a lista de substâncias controladas definida pela ONU, os autores argumentam que a relação foi elaborada com critérios “pouco claros e inconsistentes”, que podem ter sido “políticos, e não relacionados à saúde”.

O artigo menciona que algumas drogas psicoativas, incluindo anfetaminas e derivados do ópio, têm uso médico autorizado, enquanto outras, como maconha, ecstasy e LSD são duramente controladas. “Essa distinção não é baseada no risco relativo das drogas”, afirmam os autores, mas “é um mero acidente histórico”, causado pelo fato de a medicina ter adotado as drogas mais antigas antes que as leis “draconianas” da atual era de guerra às drogas fossem adotadas.

O texto traz uma lista de drogas altamente controladas que despertam interesse em pesquisas de neurociência e psiquiatria – entre elas, derivados da maconha, LSD e ecstasy. “As leis (...) têm tido um impacto negativo no progresso da pesquisa em neurociência e no desenvolvimento de tratamentos. O potencial terapêutico dessas drogas é claro, mas a investigação é prejudicada pelos obstáculos e custos que a regulamentação impõe”. Os autores mencionam que a produção legal, para fins científicos, de um grama de psilocibina – a droga presente nos cogumelos alucinógenos – chega a custar US$ 12 mil, nos Estados Unidos.

O texto é assinado por David J. Nutt e Leslie A. King, do Reino Unido, e David E. Nichols, dos Estados Unidos. Nutt é um psiquiatra e psicofarmacologista especializado no estudo dos efeitos de drogas no cérebro humano. Nichols é um especialista em farmacologia, que trabalha com drogas psicoativas desde a década de 60.

Mudança climática deixa maçãFuji
menos ácida e mais doce

Quem aprecia o sabor peculiar e a textura das maçãs Fuji, geralmente mais rígidas, menos doces e mais ácidas que as demais variedades, tem um motivo a mais para se preocupar com as concentrações de CO2 na atmosfera, que alimentam a mudança climática causada pela atividade humana.

Um levantamento realizado no Japão e descrito no periódico online Scientific Reports, do grupo Nature, mostra que, nas últimas décadas, essas frutas têm chegado ao período de colheita cada vez mais doces, menos ácidas e menos firmes, numa progressão relacionada ao aquecimento global. “Essas mudanças nos atributos qualitativos são provavelmente causadas pelo florescimento prematuro e pelas temperaturas mais elevadas no período de maturação”, escrevem os autores. “Os resultados sugerem que os atributos de sabor e textura das maçãs no mercado estão passando por uma transformação na perspectiva de longo prazo”. Os sinais dessa transformação tendem a se tornar mais evidentes “se o aquecimento global prosseguir”.

Facebook torna
os jovens infelizes

Quanto mais tempo um jovem passa no Facebook, menos satisfeito ele se sente com a vida, diz estudo publicado no periódico online PLoS ONE e realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan. Para chegar a essa conclusão, os autores enviaram a 82 jovens voluntários – a idade média foi de 19 anos e meio – mensagens de texto cinco vezes ao dia, por duas semanas, com questões como: “Como você está se sentindo?”, “Você está preocupado?”, “Você se sente solitário?” e “Quanto você usou o Facebook, desde a última vez em que perguntamos?”.

Pesquisas anteriores já haviam relacionado o uso do Facebook à infelicidade, mas não tinham permitido estabelecer a natureza da relação entre os fatores: se são as pessoas infelizes que buscam mais a rede social, ou se é a rede que as torna infelizes.

Este novo trabalho, argumentam os autores, estabelece que é o Facebook que causa insatisfação: “Quanto mais as pessoas usavam o Facebook num momento, pior elas se sentiam quando mandávamos a mensagem de texto seguinte; quanto mais usaram o Facebook nas duas semanas, mais sua satisfação com a vida declinou com o tempo”. Um artigo anterior, publicado por pesquisadores peruanos também na PLoS ONE, havia associado o uso do Facebook à perda de qualidade de sono.

Comentando o resultado do estudo de Michigan, a revista The Economist cita um trabalho realizado por pesquisadores alemães, envolvendo 584 usuários da rede social, todos na faixa dos 20 anos. Esse estudo europeu mostra que a emoção mais produzida pelo Facebook, nessa população, é a inveja. O que talvez explique o mal-estar associado à rede.

Maioria dos homens gostaria
que a namorada dividisse a conta

O estudo foi realizado nos Estados Unidos, mas o resultado talvez não fosse muito diferente se a amostra tivesse sido composta por brasileiros: de acordo com pesquisa apresentada na reunião anual da Associação Americana de Sociologia, 64% dos homens gostariam que suas namoradas se oferecessem para dividir a conta num jantar. Das mulheres, 57% disseram que se oferecem para pagar, mas dessas, 39% fazem a oferta esperando que o homem vá recusá-la.

Os autores, David Frederick, da Universidade Chapman, Janet Lever, da Universidade Estadual da Califórnia, e Rosanna Hertz, do Wellesley College, conduziram a pesquisa entre 17 mil respondentes. Outros dados levantados mostram que 44% dos homens deixariam de namorar uma mulher que nuca se oferece para dividir a conta, embora 76% dissessem se sentir culpados em aceitar dinheiro da namorada.

No geral, a disposição das mulheres em compartilhar despesas aumenta com o tempo de relacionamento: apenas 40% das pessoas entrevistadas disseram que as contas de jantar eram divididas no primeiro mês, mas 74% dos homens e 83% das mulheres disseram dividir os gastos depois de seis meses.

Até a qualidade da música
é julgada com os olhos

O pesquisador Chia-Jung Tsi, do University College London, pediu a voluntários – incluindo músicos experientes e iniciantes – que avaliassem as performances dos finalistas de dez importantes concursos internacionais de música erudita, e tentassem adivinhar quais tinham sido os ganhadores. Para tanto, foram apresentados ou clipes de vídeo contendo trechos de som e áudio de cada performance, ou apenas o áudio, sem imagens, ou apenas o vídeo, sem a trilha sonora.

Todos os participantes declararam que o som seria a parte mais importante da avaliação, mas no fim, a maior proporção de palpites corretos veio, tanto no caso dos especialistas quando dos iniciantes, das pessoas que assistiram apenas ao vídeo mudo – sem áudio.

“Este conjunto (...) de experimentos sugere que o juízo dos novatos espelha o dos profissionais; tanto novatos quanto especialistas julgam a performance musical de modo rápido e automático, com base em informação visual”, escreve o autor, em artigo publicado no periódico PNAS. Ele acrescenta que o resultado tem “significado prático estatístico”, apontando para uma primazia das preferências visuais “mesmo nos níveis mais elevados de perícia musical”.

Chia-Jung especula que a primazia do visual pode ter surgido na evolução da espécie por boas razões, mas que “quando essas decisões envolvem outras informações com mais poder de prever desempenho, seja na contratação de funcionários, em consultas médicas ou na escolha de líderes políticos, temos de tomar cuidado com nossa tendência de confiar na informação visual, com o sacrifício outros conteúdos mais relevantes”.

Mais antigos artefatos de
ferro nasceram no espaço

Nove pequenos cilindros de ferro, usados como joias no antigo Egito há mais de 5 mil anos – cerca de 2 milênios antes que a tecnologia para fundir o metal fosse desenvolvida – tiveram origem no espaço: foram feitos de material que chegou à Terra em meteoritos.

Atualmente em exibição no Museu Petrie, do University College London (UCL), os cilindros foram produzidos da seguinte forma: fragmentos de metal foram martelados até se reduzirem a folhas delgadas, que então foram enroladas para dar forma às contas que, depois, acabaram usadas como parte de um colar que apresentava também pedaços de ouro e pedras preciosas.

A origem meteorítica das contas de ferro, descobertas numa escavação em 1911, foi determinada por uma equipe liderada pelo arqueólogo Thilo Rehren, do UCL Qatar, um campus avançado da instituição britânica no Oriente Médio, e apresentada em artigo publicado no periódico Journal of Archaeological Science. As joias estavam numa tumba de 5.200 anos atrás.

Em nota distribuída pela universidade, Rehren diz que o resultado mostra que os metalurgistas da época já sabiam como trabalhar o ferro meteorítico, composto de uma liga de ferro e níquel muito mais dura que o cobre, o metal mais comum da época. Isso sugere que, quando o ferro finalmente passou a ser fundido, milênios depois, já havia uma boa experiência acumulada sobre como lidar com o metal.

A equipe de Rehren usou feixes de raios-X, nêutrons e raios gama para analisar em detalhe os cilindros, e determinou que eles continham, além de ferro e níquel, altas concentrações de cobalto, fósforo e germânio, em quantidades características do ferro vindo de meteoritos. Essa mesma análise permitiu que os pesquisadores vissem a estrutura interna dos cilindros, descobrindo que haviam sido produzidos a partir de folhas de ferro enroladas.