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Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 07 de março de 2014 a 16 de março de 2014 – ANO 2014 – Nº 589Telescópio
Vendaval de buraco negro
Buracos negros ativos injetam muito mais energia no ambiente que os cerca do que astrônomos imaginavam, diz artigo publicado na revista Science. Quando um buraco negro atrai grandes quantidades de gás, as partículas são aceleradas e compactadas de tal forma, antes de mergulhar de vez no abismo, que acabam emitindo radiação. Além disso, a energia transmitida pelo buraco negro para o material ao seu redor pode produzir ventos e jatos que expelem matéria em alta velocidade.
Cientistas já sabiam que a radiação gerada pelo mergulho de material num buraco negro não pode superar um certo limite – o chamado Limite de Eddington – porque, do contrário, a pressão da luminosidade levaria à dispersão dos gases que tentam cair no abismo, interrompendo o processo. No entanto, não estava claro se a energia cinética da matéria soprada para longe dos buracos negros também teria de respeitar a mesma limitação.
Agora, pesquisadores australianos e americanos informam que, após um ano de observações, determinaram que um buraco negro afastado do núcleo da galáxia M83 gera ventos com energia cinética que supera o Limite de Eddington para um astro de sua massa, que é cerca de 100 vezes maior que a do Sol.
De acordo com nota distribuída pela Science, isso indica que buracos negros são capazes de injetar muito mais energia no ambiente que os cerca do que se imaginava, o que tem repercussões para o estudo da história e da evolução das galáxias.
Prevendo a evolução da gripe
Vírus de gripe têm uma proteína em suas carapaças, a hemaglutinina, que gruda na membrana de algumas células humanas e prepara o caminho para a invasão que leva à doença. A hemaglutinina e o sistema imunológico humano vivem numa permanente “corrida armamentista”, e é a rápida capacidade de mutação do gene responsável pela proteína que faz com que a vacina contra a gripe tenha de ser atualizada com frequência.
Na revista Nature, pesquisadores da Alemanha e dos Estados Unidos apresentam um modelo que parece ser capaz de prever a evolução anual de hemaglutinina do vírus da gripe A/H3N2. “Inferimos os componentes da aptidão das cepas em circulação num dado ano, usando dados de genética das populações de todas as cepas anteriores”, escrevem. “Da aptidão e da frequência de cada cepa, prevemos a frequência das cepas descendentes no ano seguinte”.
Os autores sugerem que seu modelo pode fornecer novos critérios para a seleção de vacinas contra a gripe, além de apresentar uma ligação entre genética de populações e epidemiologia que “será explorada mais a fundo em trabalhos futuros”.
Europa lançará missão em busca de planetas em zona habitável
Dos mais de mil planetas já descobertos fora do Sistema Solar, desde que o primeiro desses astros foi encontrado, em 1992, a grande maioria é composta por mundos gasosos, mais parecidos com Júpiter ou Saturno que com a Terra, e nenhum dos poucos planetas rochosos encontrados se mantém dentro da chamada “zona habitável” de suas estrelas, a distância que permite a existência de água em estado líquido e, em tese, de vida.
Para preencher essa lacuna, a Agência Espacial Europeia decidiu financiar a missão Plato, que pretende identificar e caracterizar milhares de planetas, com ênfase em astros terrestres e localizados em zonas habitáveis. “Plato” é a sigla em inglês de Trânsitos Planetários e Oscilações estelares e também o nome, ainda em inglês, do filósofo clássico grego Platão.
Plato será posicionada num dos chamados pontos lagrangianos do sistema Terra-Sol, onde a gravidade dos dois astros se equilibra, criando uma zona de estabilidade. A sonda será dotada de 34 diferentes telescópios. A missão deve ser lançada do espaçoporto mantido pela França em Kourou, na Guiana Francesa, em 2024.
O estado das florestas do mundo
Um novo website interativo, o Global Forest Watch (“Vigia Global das Florestas”, em inglês) permite acompanhar, praticamente em tempo real, as mudanças na cobertura de florestas do mundo. O site, lançado pelo World Resources Institute, agrega dados de satélites como o MODIS e o Landsat, além de outras fontes, incluindo o Instituto Imazon, do Brasil.
A tela principal do site é um mapa-múndi que pode ser colorido de modo a apresentar a geografia da cobertura florestal, marcar as regiões onde há mais desmatamento ou maior ganho de florestas, onde estão as florestas preservadas e outras informações.
O site contém ainda uma seção de relatos, para onde cientistas e moradores de áreas de floresta podem enviar fotos e depoimentos. Acesse no link.
Tártaro dos dentes traz informação da Idade Média
Pesquisadores de universidades da Europa e dos Estados Unidos conseguiram analisar em detalhe o DNA contido no tártaro dentário – formado por placas bacterianas enrijecidas e mineralizadas – de esqueletos de um monastério medieval alemão. De acordo com os autores do trabalho, publicado no periódico Nature Genetics, o resultado é um verdadeiro tesouro de informação sobre a relação entre seres humanos e micróbios, mil anos atrás – além de uma boa fonte de dados a respeito da dieta da Idade Média.
Uma das conclusões dos pesquisadores foi de que, a despeito dos avanços na higiene bucal nos último milênio, as bactérias que infestam a boca humana e causam problemas como gengivite continuam praticamente as mesmas. “Reconstituímos o genoma de um importante patógeno periodontal e apresentamos a primeira evidência, até onde sabemos, de biomoléculas da dieta recuperadas de cálculo dental antigo”, diz o artigo.
A bactéria reconstituída a partir dos vestígios encontrados nos dentes foi a T. forsythia, “conhecida moradora da placa supragengival e subgengival, associada a formas avançadas de doença periodontal e descrita em lesões de arteriosclerose”. Também foram detectados no tártaro genes ligados à resistência das bactérias a antibióticos, “ilustrando como o microbioma oral funciona como fonte e reservatório de novas resistências”.
Morte de cônjuge aumenta risco cardíaco por 30 dias
Levantamento sobre a saúde de mais de 30 mil viúvos do Reino Unido, entre 2005 e 2012, encontrou uma elevação no risco de problemas cardíacos durante um período de 30 dias após a morte do cônjuge, diz artigo publicado no periódico JAMA Internal Medicine.
Os viúvos participantes do estudo tinham idade de 60 a 89 anos, e seus dados foram comparados aos de um grupo de controle com as mesmas características de sexo, faixa etária e condição geral de saúde, mas que não havia perdido um cônjuge no mesmo intervalo de tempo.
O estudo encontrou uma elevação de mais de 100% no risco de infarto do miocárdio e de derrame nos viúvos, em comparação com os controles. Essa elevação desapareceu, com o risco voltando a ser compatível com o dos controles, após um período médio de 30 dias.
Mais de 120 artigos de congressos são bobagem gerada por computador
As editoras Springer e IEEE Publications estão retirando mais de 120 “artigos científicos” de suas bases de dados, depois que uma investigação de dois anos, realizada por pesquisadores franceses, determinou que os textos haviam sido gerados automaticamente por um programa de computador. Todos os trabalhos excluídos haviam sido publicados em atas de conferências científicas, os chamados “proceedings”, que reúnem os textos das pesquisas apresentadas ao congresso.
Os artigos gerados eletronicamente foram todos produzidos com base no programa SCIgen, inventado em 2005 por pesquisadores do MIT exatamente para provar que “conferências aceitam artigos sem sentido”, de acordo com nota publicada pelo site da revista Nature. Os pesquisadores franceses que detectaram os artigos fraudados haviam criado um software para identificar o uso de SCIgen.
A maioria das conferências que aceitaram os artigos gerados por computador teve lugar na China, e os artigos eram assinados por pesquisadores chineses ou baseados na China. Não está claro, no entanto, se os supostos autores estavam praticando fraude ou se nem mesmo sabiam que seus nomes estavam sendo usados para subscrever páginas sem sentido.
Cientistas testam voto eletrônico via celular
O periódico Human Factors publica um estudo, realizado por pesquisadores da Rice University, sobre o uso de smartphones como “urnas eletrônicas”. O título do trabalho é “Toward More Usable Electronic Voting: Testing the Usability of a Smartphone Voting System” (“Rumo a um Voto Eletrônico Mais Fácil de Usar: Testando a Usabilidade de um Sistema de Votação de Smartphone”).
Os autores argumentam que os sistemas atuais de voto eletrônico apresentam dificuldades que vão desde a interface com o usuário a questões de sigilo e segurança, e que o voto por celular eliminaria inconvenientes como as filas nas seções eleitorais. De acordo com eles, voluntários já familiarizados com o uso de smartphones cometeram menos erros votando por celular, em eleições simuladas realizadas como parte do estudo, do que ao utilizar outros sistemas.
Os autores reconhecem que mais pesquisa ainda é necessária para garantir que o voto por celular atinja os níveis necessários de inviolabilidade e segredo, no entanto.