Edição nº 602

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 11 de agosto de 2014 a 24 de agosto de 2014 – ANO 2014 – Nº 602

Tese revela incidência da asma infantil em Teresina


Mais de 20% das crianças com idades entre 6 e 7 anos de Teresina (PI) sofrem de asma, doença pulmonar crônica e inflamatória. Destes, 6,3% são acometidos pela asma grave, que provoca tosse e falta de ar, levando a morte em muitas situações. Ao mesmo tempo, os casos não diagnosticados ultrapassam os 13%. O retrato da doença na capital do Piauí e município mais populoso do Estado faz parte de um estudo inédito produzido pela enfermeira Rosana dos Santos Costa, pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e docente da Universidade Federal do Piauí (UFPI). 

“A maior parte das capitais brasileiras já tem estudos que identificaram a prevalência da asma. Teresina e Piauí, de uma forma geral, não têm nenhum estudo sobre isso. Esta foi uma das motivações da pesquisa, ou seja, saber se o município tinha índices semelhantes à média nacional. E realmente foi identificado que a prevalência de asma em Teresina, como em todo o Brasil, é alta. Trata-se de uma doença com subdiagnóstico considerável e elevado índice de crianças apresentando sintomas graves”, situa Rosana Costa, cuja pesquisa integrou tese de doutorado defendida em junho último junto ao Programa de Pós-Graduação da FCM. 

O trabalho desenvolvido pela enfermeira contou com a orientação da professora Maria de Lourdes Zanolli, que atua no departamento de pediatria da FCM. Rosana dos Santos Costa obteve coorientação da docente Lidya Tolstenko Nogueira, vinculada ao Departamento de Enfermagem da UFPI. A prevalência de asma foi identificada junto a uma amostragem de 683 crianças. Os dados foram coletados nos domicílios dos participantes entre 2011 e 2013 por meio de entrevistas individuais. Para validar os resultados obtidos, a estudiosa da Unicamp utilizou o International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC), instrumento de pesquisa reconhecido internacionalmente. 

“É um retrato muito preocupante porque o número de casos não diagnosticados é alto. Sem diagnóstico não há tratamento, obviamente; e a asma pode matar, sobretudo na infância. Outra preocupação é que Teresina não tem nenhum grupo que trabalha especificamente com esta doença, como existem em outras capitais, que possuem ambulatórios específicos, tanto em doenças respiratórias crônicas, como em doenças alérgicas. São crianças que ficam, de certa forma, desassistidas”, expõe. 

Os resultados da pesquisa também apontam a fragilidade da Estratégia Saúde da Família (ESF), serviço de atenção básica oferecido à população pelo município, afirma a enfermeira Rosana Costa. As crianças que integraram a amostragem do estudo residem em áreas cobertas pelo ESF. “Este serviço não está dando conta do recado neste sentido. As crianças não estão sendo devidamente acompanhadas e tratadas. A única opção que resta aos pais é recorrer aos serviços médicos de urgência. Cerca de 20% das crianças têm atendimento nas urgências pediátricas por asma. É, muitas vezes, um tratamento que poderia ser feito em casa se houvesse uma orientação adequada”, critica. 

Ela acrescenta que falta aos profissionais da Estratégia de Saúde da Família uma visão mais holística sobre a doença. “O êxito no tratamento da asma infantil, que é a melhoria da qualidade de vida do doente, requer, também, uma assistência abrangente voltada à criança, para compreendê-la dentro de sua realidade cultural, de forma que as intervenções planejadas tenham uma maior efetividade. Neste sentido, é muito importante que os profissionais de saúde conscientizem o paciente e seus familiares acerca da asma, sobretudo em hábitos que contribuam para o controle das crises. Essas orientações são essenciais para o controle da doença.” 

 

Superproteção prejudicial

O estudo traz também aspectos relevantes sobre a percepção dos familiares em relação à asma. Rosana Costa identificou que os pais remodelam o estilo de vida, alterando suas atividades rotineiras para dedicar mais cuidados aos filhos, superprotegendo-os na maioria das vezes. Este cuidado em excesso pode prejudicar, segundo a pesquisadora, o desenvolvimento da criança, trazendo, inclusive, problemas emocionais. 

“A asma é uma doença muito debilitante. Com medo da crise, os pais começam a restringir as atividades dos seus filhos. ‘Não pode andar de bicicleta, não pode jogar futebol...’ Portanto, começa esse ‘não pode’ e a criança perde autonomia e acaba desenvolvendo problemas emocionais, que afetam a própria asma. A criança vê a outra fazendo e é cerceada. Ela tem, na maior parte das vezes, esse direito limitado, causando um dano ao seu crescimento e ao desenvolvimento. É algo preocupante pois a brincadeira é fundamental nesta fase.”

 

Cenário nacional

Em seu estudo, a pesquisadora da Unicamp explica que as doenças respiratórias crônicas, frequentes na infância, têm aumentado sua prevalência nas últimas décadas. Entre as principais causas estão a irritação brônquica de origem infecciosa causada por vírus, e a não infecciosa, determinada por alérgenos, como fumaça de cigarro e poluentes atmosféricos. 

Ainda de acordo com ela, a asma destaca-se, entre estas doenças, como a enfermidade que mais acomete crianças, tendo como consequência um elevado número de procura aos serviços de emergência, consultas ambulatoriais e internações hospitalares no Sistema Único de Saúde (SUS). 

Os dados coletados no estudo indicam que as prevalências de asma e do subdiagnóstico de Teresina foram semelhantes à média nacional. Enquanto a doença atingiu 23,3% da população infantil em Teresina, nacionalmente o índice foi de 24,3%. Do total destas ocorrências, os casos de asma não diagnosticadas no município ultrapassaram os 13%, enquanto a média nacional foi de 10%. 

“Em 2011, a asma foi responsável por mais de dois mil óbitos e, no ano de 2012, por quase 150 mil internações no Brasil, correspondendo à segunda causa de internamento. Entre as doenças do aparelho respiratório, ela é superada apenas pela pneumonia. Trata-se, portanto, de um problema de saúde pública do país. E como é uma doença que não tem cura, os tratamentos atuais objetivam o controle da doença”, dimensiona.

 

Projeto de extensão

Os resultados da pesquisa servirão como base para o desenvolvimento de um projeto de extensão para atacar o problema no município. Segundo Rosana Costa, será uma parceria entre a Universidade Federal do Piauí, cujo campus está localizado em Teresina, e a Secretaria Municipal de Saúde. “O projeto de extensão que estamos propondo fará um acompanhamento das crianças na comunidade. O doutorado fez o mapeamento das principais áreas acometidas e dos números de cada bairro e este projeto pioneiro em Teresina irá intervir nas principais lacunas. Além do atendimento de saúde às crianças, haverá uma central para tirar dúvidas e orientar as famílias”, revela.  

 

Publicação

Tese: “Asma na infância: prevalência, conhecimento e percepção dos pais sobre a doença”
Autora: Rosana dos Santos Costa
Orientadora: Maria de Lurdes Zanolli
Coorientadora: Lidya Tolstenko Nogueira
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

Comentários

Comentário: 

Com moderação a criança tem é mais que pular, brincar e etc., só assim com o tempo ela cria sua própria imunidade. Em relação "Superproteção Prejuducial"

rmarques@fcm.unicamp.br