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Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 26 de setembro de 2014 a 05 de outubro de 2014 – ANO 2014 – Nº 608Telescópio
Água antes do sistema solar
A água que veio a encher os oceanos da Terra já existia na matéria primordial que vagava pelo espaço e que deu origem ao sistema solar, e é mais antiga que os planetas ou que o próprio Sol, diz artigo publicado na revista Science.
Os autores, ligados a instituições dos Estados Unidos e Inglaterra, usaram a taxa de deutério – um isótopo mais pesado do hidrogênio – na água encontrada no sistema solar para distinguir entre duas hipóteses: se o gelo de onde essa água veio já existia originalmente no meio interestelar, a partir do qual o Sol e os planetas se formaram, ou se foi produzido como parte do processo de criação do sistema.
O modelo gerado mostrou que os processos que teriam ocorrido durante a formação do Sol e dos planetas não são capazes de explicar a relação deutério/hidrogênio na água que hoje é detectada, sob forma líquida ou congelada, na Terra e em outros corpos do sistema, o que sugere que a substância já existia antes do início do processo. “A descoberta implica que, se a formação do sistema solar foi típica, há gelo interestelar em abundância para todos os sistemas planetários nascentes”, escrevem os autores.
Água fora do sistema solar
Pesquisadores dos Estados Unidos, Chile, Suíça e Reino Unido anunciam, na revista Nature, a detecção de água na atmosfera de um planeta localizado a mais 100 anos-luz da Terra, na constelação do Cisne. Esse planeta é semelhante a Netuno. De acordo com nota distribuída pelo periódico, trata-se do menor exoplaneta onde já houve descoberta de água, até agora.
Chamado HAT-P-11b, o planeta tem cerca de 4 vezes o tamanho da Terra, e 25 vezes a massa terrestre. Os autores realizaram observações com o Telescópio Espacial Hubble, com o Telescópio Espacial Spitzer, que faz imagens em infravermelho, e com o Observatório Espacial Kepler, que faz buscas por planetas localizados fora do sistema solar.
De acordo com texto de opinião assinado pela astrônoma Eliza Kempton, que acompanha o artigo sobre a descoberta, as observações que levaram à detecção da água em HAT-P-11b “permitem que os pesquisadores de exoplanetas respirem aliviados”, já que indicam que pequenos planetas não têm cobertura densa de nuvens, o que dificultaria as observações a serem feitas pelo Telescópio Espacial James Webb, que deve suceder o Hubble.
Moléculas no espaço
Moléculas orgânicas de cadeia ramificada foram descobertas no espaço, próximo ao centro da Via Láctea, informa artigo publicado na revista Science. Embora outros tipos de material orgânico já tivessem sido detectados flutuando no cosmo, a descoberta de moléculas ramificadas é importante porque estruturas fundamentais para a vida, como os aminoácidos, são desse tipo.
Há tempos que cientistas sabem que meteoritos podem trazer aminoácidos do espaço para a Terra, ou levá-los à superfície de outros planetas. Mas as moléculas detectadas no espaço, em regiões de formação de estrelas, até agora vinham se resumindo a estruturas de cadeia simples – fileiras mais ou menos retas de átomos de carbono. A descoberta de uma molécula ramificada fortalece a hipótese de que os aminoácidos encontrados em meteoritos possam ter se originado no espaço.
Conversa ao redor da fogueira
O domínio do fogo abriu espaço para novos tipos de interação social, permitindo que os membros de comunidades pré-históricas contassem histórias e conversassem sobre assuntos não relacionados às necessidades imediatas do grupo, sugere estudo feito por uma antropóloga americana entre bosquímanos do Kalahari, na África, e publicado no periódico PNAS.
“Muita atenção tem sido dada ao controle do fogo na evolução humana e ao impacto do cozimento de alimentos na anatomia e nos arranjos sociais e residenciais. No entanto, pouco se sabe sobre o que aconteceu quando a luz do fogo ampliou a duração do dia, criando tempo para atividades sociais que não entravam em conflito com o tempo produtivo para as atividades de subsistência”, escreve a autora, Polly Wiessner, da Universidade de Utah.
Em seu trabalho, Wiessner comparou 174 conversas diurnas e noturnas entre os bosquímanos, uma população de caçadores-coletores do sul da África. “Conversas diurnas concentram-se em assuntos econômicos e fofocas”, escreve a autora. “As atividades noturnas afastam-se das tensões do cotidiano e envolvem música, dança, cerimônias religiosas e histórias fascinantes”, de uma forma que é importante para a preservação das instituições e da cultura.
Além de analisar os hábitos dos bosquímanos, o artigo traz uma provocação para as sociedades industrializadas: “Fica aberta a questão de o que acontece quando o tempo economicamente improdutivo, à luz da fogueira, se transforma em tempo produtivo, sob luz artificial”.
EUA e Índia em órbita de Marte
O satélite Maven, da Nasa, entrou em órbita de Marte na última semana, após uma viagem de dez meses. Depois de um período de adaptação e de testes previsto para durar seis semanas, a sonda deverá iniciar o mais completo estudo da alta atmosfera marciana já realizado. A missão primária da Maven inclui cinco “mergulhos” na atmosfera, nos quais o ponto da órbita do satélite mais próximo da superfície será rebaixado em 25 quilômetros, para permitir um estudo detalhado das camadas atmosféricas marcianas.
Também na semana passada, a sonda indiana Mars Observer entrou, com sucesso, na órbita do planeta vermelho. O satélite da Índia tem como principais objetivos testar e demonstrar a capacidade tecnológica do país para levar a cabo uma missão dessa envergadura, mas também realizará levantamentos científicos da superfície marciana.
Mais simpatia na ciência
Levantamento feito por pesquisadores da Universidade Princeton mostrou que, para o público americano, os cientistas são vistos como uma categoria “competente”, mas de “pouco calor humano”. O estudo, publicado no periódico PNAS, pediu que voluntários classificassem 42 profissões tidas como as mais comuns nos Estados Unidos em duas dimensões: de competência e de calor humano. Com alta classificação nos dois critérios ficaram médicos, enfermeiros e professores; com baixa avaliação ficaram categorias como prostitutas e lixeiros.
Cientistas, advogados e engenheiros ficaram num grupo à parte, considerado altamente competente, mas também de grande frieza. “As pessoas envolvidas na divulgação da ciência precisam saber dessa reação”, disse a principal autora do trabalho, Susan Fiske, em nota distribuída pela universidade. “Desse ponto de vista, cientistas não são encarados como muito acolhedores. Suas intenções não são sempre tidas como confiáveis e eles podem, até, ser alvo de ressentimento”.
Ainda de acordo com ela, “as pessoas não são estúpidas, e o problema do público com a ciência não é, necessariamente, de ignorância (...) a comunicação científica precisa passar calor humano e confiabilidade, além de competência e expertise”.
Poeira de estrelas
A confirmação da existência de ondas gravitacionais deixadas pelo Big Bang, anunciada em março deste ano e saudada como a maior descoberta científica do século 21, pode não ter passado de um engano causado por poeira espacial.
Essa explicação frustrante para o efeito detectado pelo observatório Bicep2, baseado no Polo Sul, ganhou força na última semana, quando dados do telescópio espacial Planck, da Agência Espacial Europeia, mostraram que os fenômenos interpretados como sinal das ondas poderiam ter sido causados por partículas flutuando no espaço.
Um cosmologista do University College London disse ao jornal britânico The Guardian que, com os novos resultados, “os ventos sopram contra Bicep. O resultado deles não está totalmente morto, mas pode-se dizer que a análise original que fizeram se mostrou insuficiente” para sustentar a alegação sobre ondas gravitacionais.
Os resultados originais do Bicep2 já vinham sendo alvo de críticas há algum tempo. Se confirmados, eles seriam evidência em favor da hipótese da inflação cósmica – a ideia de que o universo passou por uma fase acelerada de expansão em seus primórdios.
EUA oferecem US$ 20 milhões para caça a bactérias
O governo dos Estados Unidos anunciou, em meados de setembro, uma série de iniciativas para combater a disseminação de bactérias resistentes a antibióticos. As ações têm uma dimensão regulatória, como maior controle sobre o uso de antibióticos; administrativa, com a criação de uma força-tarefa especial no âmbito federal e o estabelecimento de metas a serem cumpridas até 2020; e incluem ainda a criação de um prêmio de US$ 20 milhões para incentivar a produção de testes capazes de diagnosticar rapidamente infecções por bactérias resistentes, já no local onde o paciente está sendo tratado.