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Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 03 de outubro de 2014 a 12 de outubro de 2014 – ANO 2014 – Nº 609Física é fundamental para a indústria, diz Eric Cornell
Existe um espaço importante para a ciência fundamental, que vai além das aplicações mais óbvias da engenharia, na indústria e na inovação, disse Eric Cornell, ganhador do Prêmio Nobel de Física em 2001, que participou do Fórum de Física na Indústria, que aconteceu ao longo da última semana na Unicamp. Cornell ponderou que “existe uma grande sobreposição” entre física e engenharia, mas que o físico está preparado para ir mais fundo que o engenheiro em questões fundamentais. “A ideia desta conferência é que existe espaço para a física na inovação e na indústria”.
“O engenheiro não costuma ser treinado para ver os limites fundamentais, para entender o trabalho que está fazendo no nível mais básico e para fazer melhorias nesse nível”, disse. “A física, por sua própria natureza, tenta entender coisas bem básicas, e buscar compreender os princípios por trás das coisas às vezes pode ser extremamente útil”.
Cornell, que é pesquisador do Instituto JILA, localizado no campus da Universidade do Colorado em Boulder, dividiu o Nobel de Física de 2001 com Wolfgang Ketterle e Carl Wieman, pela produção de um novo estado da matéria, o condensado de Bose-Einstein. O material obtido tem uma temperatura extremamente baixa, de poucos bilionésimos de grau acima do zero absoluto.
Cornell está, atualmente, envolvido em um experimento para gerar condensados de Bose-Einstein a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS). O equipamento deve passar a operar no espaço em 2016. “Esperamos que a microgravidade vá nos ajudar a deixar os átomos ainda mais frios e menos densos do que conseguimos aqui na Terra”, explicou ele. “Para fazer um experimento com átomos gelados na Terra, é preciso sustentá-los contra a gravidade, e ao sustentá-los é inevitável que eles se espremam um pouco, e ao espremê-los nós os esquentamos”.
Cornell diz que a maior parte de seu trabalho diz respeito a física básica, mas que sua interação com a física aplicada e a indústria é grande. “Meu laboratório é um grande consumir de lasers”, contou. “E acabo treinando físicos que ficam muito bons com lasers, e alguns deles acabam indo trabalhar em empresas do setor óptico, que acabam me vendendo novos lasers”. Ele também procura levar a abordagem da ciência fundamental para questões práticas, como a busca por energia renovável. “Tenho grandes interesses na área de ciência aplicada, mas meu modo de tratá-los é com uma abordagem matemática, básica, que às vezes pode ser útil”.
Mesmo o condensado de Bose-Einstein já encontrou aplicações no “mundo real”, incluindo um novo tipo de laser. “Existe o laser, existe gente usando para navegação e sensoriamento remoto”, disse. “E também há a computação quântica. O condensado não é um computador quântico, em si, mas a computação quântica requer temperaturas muito baixas, então algumas pessoas veem o condensado de Bose-Einstein como o ‘gás freon’ dos computadores quânticos”.
Sobre o Fórum realizado na Unicamp, Cornell disse que é importante levar esse tipo de evento aos países em desenvolvimento. “Países como o Brasil ou a Indonésia têm uma imensa necessidade de novas tecnologias, mas também são muito promissores, com seu grande número de jovens cientistas e engenheiros”.
O tema do fórum, que ocorreu de 29 de setembro a 3 de outubro, foi “Capacitação em física industrial em economias emergentes”. O objetivo da iniciativa foi promover a aproximação entre cientistas e a indústria para atender às necessidades da sociedade relacionadas ao avanço tecnológico sustentável. O fórum foi uma iniciativa do IFGW, do Instituto Americano de Física (AIP) e do Centro Internacional de Física Teórica (ICTP), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).