Edição nº 616

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 27 de novembro de 2014 a 31 de dezembro de 2014 – ANO 2014 – Nº 616

Em busca de novos indicadores para o fator de impacto

Especialistas defendem adoção de critérios que levem em conta o cenário multidisciplinar

A criação de indicadores que complementem o fator de impacto enquanto critério de avaliação de periódicos e que traduzam mais fielmente a circulação do conhecimento coloca-se como uma necessidade relevante no contexto da produção acadêmica e científica brasileira atual. 

Tal necessidade se acentua num cenário em que a produção multidisciplinar e interdisciplinar está ganhando cada vez mais espaço. Esses foram os eixos de discussão do evento comemorativo dos 20 anos da revista “Rua”, publicação do Laboratório de Estudos Urbanísticos (Labeurb/Unicamp).

“Os indicadores usados para avaliar os periódicos precisam ser contextualizados ou até substituídos”, defendeu o estatístico Rogerio Mugnaini, professor e pesquisador do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), durante sua palestra.

 

Novo sistema

Na opinião dele, é preciso oferecer às comissões responsáveis pela avaliação do sistema Qualis novos indicadores, mais vinculados à realidade nacional, a fim de que elas não se atenham exclusivamente ao fator de impacto. Mugnaini está coordenando uma pesquisa cujo objetivo é desenvolver um sistema de avaliação de periódicos complementar ao Qualis.

São vários os problemas e limitações do fator de impacto, apontados pelo pesquisador: desde a excessiva dependência da circulação em revistas de alcance internacional, até o fato de ele não levar em conta a produção de áreas que possuem poucas publicações indexadas – caso da área de História, por exemplo.

Nessa medida, apontou Mugnaini, os indicadores usados atualmente pelo Qualis não traduzem fielmente a realidade da produção e da circulação do conhecimento científico no Brasil. A pesquisa de Muganini deverá ser concluída em 2016 e o resultado esperado é um sistema de avaliação complementar ao Qualis.

“O Brasil possui peculiaridades principalmente pela abrangência dos esforços que vem empreendendo e que envolvem toda a comunidade científica: a plataforma Lattes, a avaliação da Pós-Graduação e o Projeto SciELO”, explica o professor da ECA. 

Em razão disso, afirmou ele, o país dispõe de fontes de informação em uma escala que não se vê em outros países, o que possibilita a criação de instrumentos de avaliação próprios, que não dependam estritamente de fontes comerciais.

Tal cenário é prejudicial à circulação da produção científica na área de humanas, afirmou o linguista Eduardo Guimarães, que é coordenador do Labeurb. Para ele, uma deficiência do Qualis é o fato de ele se pautar pelo modelo de produção de conhecimento nas ciências exatas e da vida – circulação de resultados nas revistas especializadas.  

“Esse modelo tem coagido as ciências humanas a abandonar um de seus instrumentos fundamentais de colocar em circulação o conhecimento, o livro”, assinalou Guimarães. Na visão dele, somente o livro é capaz de dar sustentação mais efetiva para certas reflexões que tragam novos caminhos para as ciências humanas. 

“A circulação de conhecimento nas áreas de ciências humanas no Brasil é bastante relevante”, defendeu.  “A área possui outras condições, que não prescinde dos periódicos para fazer seu conhecimento circular na sociedade. Mas que precisa, decisivamente, dos livros”, complementou o coordenador do Labeurb.

 

Interação

A produção multidisciplinar e interdisciplinar são dois desses caminhos. Para Arlindo Philippi Junior, membro do Conselho Superior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a complexidade da sociedade atual leva à interdisciplinaridade. “Este é o caminho para a produção de conhecimento que possibilite um enfrentamento mais adequado dos problemas”, afirmou. 

Segundo ele, desde o início de 2014, a área do conhecimento interdisciplinar – uma das 48 cadastradas pela Capes – foi a que mais apresentou propostas para a abertura de novos programas de mestrado e doutorado: cerca de 130 propostas num universo de 800.

 

Deslocamentos

Para a linguista Eni Orlandi, editora da revista Rua, tanto a multidisciplinaridade quanto a interdisciplinaridade operam deslocamentos da compreensão teórica, num movimento em que são forjadas novas perspectivas de análise, novos conceitos e novos objetos de estudo.

É neste contexto que a revista “Rua” se insere, aponta Eni, na medida em que trouxe, nos anos 1990, quando foi criada, um espaço inovador para lidar com os temas relacionados ao universo urbano. “A revista abriu espaço para a circulação de produções acadêmicas que ainda não tinham um espaço legitimado de circulação”, analisou. Um dos efeitos da abertura de canais de difusão dessa produção acadêmica foi o surgimento da linha de pesquisa Saber Urbano e Linguagem, apontou Eni.

O assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp Fernando Coelho defendeu que a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade propiciam a melhoria da qualidade do conhecimento produzido. “Quanto maior a interação, melhores os resultados”, enfatizou ele.