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Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 04 de março de 2016 a 11 de março de 2016 – ANO 2016 – Nº 648Nicolas Vlavianos em seis atos
Pesquisa desenvolvida para a tese de doutorado da arquiteta e artista plástica Eliane Cristina Gallo Aquino, defendida no Instituto de Artes (IA) da Unicamp, promoveu pela primeira vez no âmbito acadêmico um levantamento histórico da obra de Nicolas Vlavianos, escultor grego radicado no Brasil desde a década de 1960. O trabalho, orientado pelo professor Marco do Valle, identificou na extensa produção de Vlavianos a existência de seis diferentes períodos, cada um deles marcado pela predominância de temas, materiais, formas e técnicas.
A proposta de investigar a obra de Vlavianos partiu do professor Marco do Valle, que trabalhou com o escultor na década de 1970. Na oportunidade, o então estudante ajudou a soldar peças e a cortar moldes para as obras do artista plástico grego. “Foi uma experiência muito valiosa e que deu início à minha amizade com o Nicolas, que dura até hoje. Aliás, foi ele quem me aconselhou a fazer o curso de Arquitetura, como forma de ampliar o meus conhecimentos e repertórios na área da arte”, conta.
Ao tomar contato os trabalhos de Vlavianos, a quem não conhecia, Eliane imediatamente se apaixonou pela obra dele, sentimento que se aprofundou ao entrevistar o artista plástico para a tese. “Vlavianos é um escultor de grande virtuosismo técnico e uma pessoa extremamente acolhedora”, afirma a autora da pesquisa. De acordo com ela, o escultor grego deu importante contribuição ao desenvolvimento das artes plásticas no Brasil, país que adotou a partir de 1961, quando aqui desembarcou para representar a Grécia na VI Bienal de São Paulo.
Em sua tese, Eliane buscou identificar os repertórios presentes na obra de Vlavianos, vários deles recorrentes ao longo da carreira do artista plástico. Após exaustiva investigação, a pesquisadora identificou seis momentos distintos na trajetória do escultor grego, cada um marcado pela prevalência de distintos temas, formas, técnicas e materiais. Assim, a autora da pesquisa classificou como a primeira fase na carreira de Vlavianos o conjunto de obras produzidas em Paris, cidade para a qual se transferiu para estudar escultura na Académie de La Grande Chaumière, com Ossip Zadkine, e na Académie Du Feu, com Laszlo Szabo.
Naquele instante, conforme Eliane, Vlavianos trabalhava com bronze e latão, com partes soldadas. “Os volumes eram fechados e as formas das esculturas, orgânicas”, explica. O segundo momento também ocorre em Paris, quando o escultor produz obras com formas geométricas, ainda em bronze e latão. Depois disso, Vlavianos vem ao Brasil para participar da Bienal. Aqui, ele adota a mitologia e alguns personagens como temáticas. Entre as figuras frequentes em sua obra estão o pássaro, referência à tradição mitológica da Grécia, e o astronauta, alusão à chegada do homem à Lua.
É no Brasil que o artista plástico grego passa a trabalhar com outros materiais, como o aço e o alumínio.Neste contexto, surge o terceiro momento na carreira de Vlavianos, caracterizado tanto pelo maior nível de detalhamento quanto pela ampliaçãoNo quinto momento, emergem como temas das esculturas as máquinas e os instrumentos hieráticos (relativos ao sagrado), algumas produzidas em aço inoxidável e latão. A sexta e última fase da carreira de Vlavianos, conforme a hipótese da tese, é caracterizada pela produção de elementos com formas geométricas e carregados de referências mitológicas. “Além disso, nesta fase as peças também são mais leves. Ele opta pela utilização de parafusos, encaixes e dobras nas suas esculturas”, informa a autora da tese. da escala das peças. “Nicolas passa a produzir obras públicas de grandes dimensões, que são expostas ao ar livre, como a escultura chamada ‘Progresso’, que pode ser vista no Largo do Arouche, em São Paulo”, detalha Eliane. No quarto momento, Vlavianos retoma a figura do astronauta, mas adota também a planta e a nuvem como temas de suas obras. “Nessa fase, Nicolas começa a associar a solda à prensa, demonstrando um virtuosismo técnico impressionante”, relata.
De acordo com o professor Marco do Valle, o estudo sobre a carreira de Vlavianos está perfeitamente inserido em sua linha de pesquisa, que trata da “Produção Contemporânea do Objeto e Escultura Brasileira”. “Vlavianos é um artista muito importante, que contribuiu para o avanço da escultura, em particular, e das artes plásticas, em geral, no Brasil. Como eu não acompanhava a rotina dele nos últimos anos, fiquei impressionado com a quantidade de trabalhos que ele realizou em período mais recente. Trata-se de uma produção ampla e de extrema qualidade”, destaca.
Estudar personagens como Vlavianos, continua o docente do IA, é importante porque muitos artistas que se estabeleceram na academia têm se dedicado ao estudo dos próprios trabalhos. “Isso vem da tradição norte-americana. Ocorre que, quando isso surgiu, há cerca de 100 anos, os artistas tinham história e trabalhos
consagrados. Atualmente, não é mais assim. É possível estudar a arte a partir da própria prática? Sim, mas não considero que isso seja a melhor maneira de fazê-lo. No Brasil, ainda temos que dar conta de estudar os nossos grandes artistas. Temos que continuar falando da história da arte e da poética do artista, e foi isso o que a tese da Eliane fez com bastante competência. Tanto é assim que a banca recomendou o trabalho para publicação”, afirma Marco do Valle.
O artista
Nicolas Charilaos Vlavianos nasceu em Atenas, capital da Grécia, em 1929. Em seu país, ele se dedicava inicialmente à pintura. Mais tarde, porém, mudouse para Paris para estudar escultura. Em 1961 estabeleceu-se em São Paulo, depois de participar da VI Bienal. Vlavianos tinha um irmão que já morava no Brasil. Em 1969, assumiu a posição de docente de Expressão Tridimensional da Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo. Atualmente, é professor emérito daquela instituição, onde ainda atua. Vlavianos esteve na Unicamp para acompanhar a defesa da tese que tratou da sua obra, acompanhado de alguns de seus atuais alunos. “Foi uma honra tê-lo aqui. Ele ficou muito emocionado”, relata Eliane, autora do trabalho.
Publicação
Tese: “Nicolas Vlavianos: uma poética de tradição hierática e moderna na escultura”
Autor: Eliane Cristina Gallo Aquino
Orientador: Marco do Valle
Unidade: Instituto de Artes (IA)