Aquecimento global, emissão de gás carbônico e mudanças climáticas foram algumas das questões abordadas na palestra "O Antropoceno: aspectos científicos, sociais e econômicos de uma nova era geológica", proferida nessa quinta-feira (17) pelo professor Paulo Eduardo Artaxo Netto, do Instituto de Física da USP. O evento foi organizado pelo professor Laszlo Nagy, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.
Alunos e docentes que compareceram à sala da Congregação do IB ouviram Paulo Artaxo falar sobre como os seres humanos tomaram o poder da força evolutiva do planeta durante o Antropoceno. Em conjunto com as forças geológicas, o homem vem causando uma modificação na estrutura do planeta. O professor chamou atenção para as mudanças que vêm ocorrendo no ciclo do gás carbônico e destacou que 91% da emissão desse gás vem da queima de combustível fóssil. Desse total, 26% é absorvido pelos oceanos, tornando-os mais ácidos.
O aumento da temperatura global também é alarmante. “O clima tem um sistema caótico forte. A partir da década de 60, houve um aumento crítico da temperatura do planeta”, apontou Artaxo. Segundo o docente, o planeta como um todo aqueceu 1°C, mas nas áreas continentais esse aquecimento foi maior. Tudo isso reflete no aumento do nível dos oceanos. De 1860 a 2010, houve um crescimento médio global de 23 cm do nível do mar.
A pergunta que se faz é: que futuro queremos para o planeta? “Temos que discutir essa nova capacidade que nós adquirimos de modificar a atmosfera do planeta, de modificar o aumento da superfície, de utilizar 90% da água doce disponível. Temos que ter uma estratégia de governança, uma estratégia baseada em ciência em relação ao que nós, seres humanos, vamos fazer para garantir a sustentabilidade da nossa própria espécie dentro desse novo planeta agora dominado pelo Antropoceno”, afirmou o professor.
Ao final da palestra, Artaxo e Nagy lançaram o livro Interactions Between Biosphere, Atmosphere and Human Land Use in the Amazon Basin, do qual são responsáveis pela edição, junto com Bruce R. Forsberg, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. De acordo com o professor Laszlo Nagy, “a ideia inicial do livro era juntar informações sobre vários programas de pesquisa da Amazônia, com foco na interação biosfera-atmosférica (Programa LBA), mas também destacar programas como o de Pesquisa em Biodiversidade (PPBIO) e o da Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), e as Redes Clima e ‘Geoma’". O livro, publicado pela editora Springer, faz parte da série “Ecological Sudies”, (vol. 227) - uma série destacada de livros da editora, tratando todos os aspectos da ecologia. É possível comprá-lo como e-book pelo site da Springer. O livro contém 21 capítulos e é escrito em inglês, mas já existe a intenção em produzir uma versão em português e espanhol.
Segundo Artaxo, a obra sintetiza cinco anos de trabalhos do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), que é um programa do governo brasileiro de estudos sobre o funcionamento do ecossistema amazônico. “É muito importante que possamos entender como um complexo sistema como o amazônico funciona e entender como a ação do homem está alterando o funcionamento básico desse ecossistema. Sem políticas públicas baseadas em ciência sólida e de boa qualidade, essas políticas em geral tendem a ser um fracasso. Então, é importante que possamos trabalhar para aumentar o conhecimento científico sobre a Amazônia, pois isso é estratégico para o planeta como um todo”, apontou o professor.