Psicodélicos na história são tema do Fórum Penses

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A grande questão que o estudo dos “psicodélicos” contempla não é a química em si da substância ou da sua interação com a química orgânica, mas a sua capacidade de constituir o universal simbólico imaginário que é compartilhado com vários veículos, não necessariamente o veículo químico. Essa foi a conclusão que o historiador da Universidade de São Paulo (USP) Henrique Carneiro ao falar sobre “A história dos psicodélicos” no Fórum Caleidoscópio dos Psicodélicos: Ciência, Saúde e Sociedade, realizado nesta segunda-feira (21) no Centro de Convenções da Unicamp. O evento, promovido pelo Fórum Pensamento Estratégico (Penses) com o apoio do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Leipsi), prossegue até terça-feira (22). Veja a programação.

Psicodélico normalmente associa-se a quem está sob a ação de algum alucinógeno e faz com que tenha uma percepção de aspectos da mente que desconhecia, alterando a sua consciência e tendo sensações semelhantes ao sonho, psicose e êxtase religioso. O termo também está ligado a festas "rave" que em geral envolvem drogas alucinógenas. O termo psicodélico parte de um neologismo que vem de psicopatia e cuja abordagem envolve controvérsias, a priori seu uso terapêutico. 

O conferencista comentou que o termo oficial na Farmacologia é alucinógeno e que envolve sobretudo substâncias excitantes, hipnóticas, inebriantes, euforizantes e fantásticas. Ele lembrou que, na obra Sociedade Excitada, Filosofia da Sensação, Christoph Turcke disse queo sonho continua a ser a vida alucinatória cotidiana indispensável para suportar o mundo com melódicas interrupções na consciência desperta, excitada e atenta. Com a dessedimentação global dessa estrutura mental, a contemporaneidade reduziu a realidade à atualidade imediata. 

Hoje, conforme Carneiro, os artefatos eletrônicos audiovisuais e de comunicação se tornaram o principal veículo interativo da cultura. "Nós nos tornamos uma espécie de reféns de uma produção sistemática de imagens que nos perseguem por todas as janelas multimidiáticas: dentro do bolso, no escritório ou em qualquer sala de refeitório. "As televisões, os celulares, as telas dos computadores, esse tipo de produção imagética, também são uma forma alucinatória."

Acelera-se a produção eletrônica de imagens e de sons, que criam uma dependência de estímulo audiovisual por um fluxo incessante e altamente viciante no culto fanático das microferas portáteis, que colonizam o espaço público e privado, ao tornar a emissão on-line informações, sentimentos, imagens e sons, com dados que crescem exponencialmente. Seu monitoramento, análise e interferências se tornam a maior indústria e a maior esfera pública dessa época, a maior arena de trocas e vigilância e um dos maiores fronts da guerra contemporânea, que é o ciberespaço”, contextualizou. 

A dimensão alucinatória é coletivamente partilhada e se forma, ao lado de todas as tradições religiosas, uma espécie de dimensão visionária que não depende exclusivamente do uso de drogas. "Com a realidade virtual, com a impressão tátil, em poucos anos chegaremos à droga eletrônica, uma forma psicodélica não química. Seria a impressão dos sentidos por meio dos recursos protéticos – próteses visuais e acústicas que numa imaginação de ficção científica poderão até se incorporar biologicamente por meio de chips, cyborgues, que se tornarão capazes de modelar e modular a subjetividade como algo que até hoje estava apenas no campo da imaginação.

Fórum
O coordenador do Penses, professor Júlio Hadler, comentou que os fóruns do Penses acabam de gerar o livro Cadernos Penses, que será lançado no início de dezembro. Trata-se dos cinco primeiros cadernos da série. Serão distribuídos 1.000 exemplares, principalmente a gestores e políticos, com vistas a influenciar as políticas públicas do país. “Já ultrapassamos 24 fóruns e muitos deles tiveram qualidade excepcional, ao longo desses três anos que promovemos esse evento", revelou. Uma das funções do Penses é aproximar a Unicamp da sociedade de modo geral e iluminar o debate junto à comunidade universitária de modo desafiador. 

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004