Bibliotecas públicas no Texas, EUA, agem como facilitadoras de acesso

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A pedagoga Liane Martins vive há 19 anos nos EUA. Ela contou, durante entrevista ao Portal Unicamp, sua experiência pessoal de trabalho em bibliotecas públicas da região de Dallas, Texas, antes da sua palestra no auditório da Biblioteca Central "Cesar Lattes", na tarde desta quinta-feira (24). Falou a um público predominantemente de bibliotecários e abordou temáticas como circulação, referência, serviços infantojuvenis e adultos, marketing e divulgação pública, e coordenação de voluntários. Começou como voluntária na Biblioteca de Richardson, ao perceber que esse era o trabalho que mais a motivava a fazer até hoje. Prestes a mudar para a Carolina do Sul, ela espera trabalhar com bibliotecas públicas, ainda que como voluntária. Esse evento faz parte de uma agenda de qualificação profissional que está inserida no Programa de Competência em Informação do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU). Trata-se de um conjunto de atividades oferecidas pelo SBU aos servidores e usuários das bibliotecas e aos interessados em geral. Leia a entrevista a seguir.

Portal Unicamp - Há muitas bibliotecas públicas na região dos EUA em que você mora?
Liane – Em Dallas, são praticamente 19 bibliotecas públicas, sem falar nas das cidades satélites. Muitas são municipais. Cada cidade tem suas bibliotecas. Algumas tentaram centralizar, enquanto outras tentaram dividi-las pelos bairros da cidade. A cidade de Plano, por exemplo, tem cinco bibliotecas públicas. Garland tem três. Richardson, onde eu trabalhava, é uma só porque decidimos centralizar. Agora, não é tão grande a região. Então é fácil para o cidadão se locomover até lá e, os que não podem, a biblioteca oferece um acesso. Levamos os materiais também a pessoas da terceira idade. Existem ônibus que os conduzem às bibliotecas gratuitamente.

Portal Unicamp - Qual é o público que mais frequenta a biblioteca de Richardson? Além dos acervos, quais atividades vocês ofertam?
Liane - Temos público de todas as idades e de todas as etnias. Todos vão à biblioteca. Mas, no verão, temos um atendimento tão intenso de crianças que temos cerca de 50 adolescentes que são cadastrados para ajudar nos programas infantis.

A biblioteca oferece os acervos de livros impressos, digitais e também mídia, desde música, DVDs e filmes. Além disso, tentamos ofertar toda tecnologia que está surgindo: leitoras digitais, impressão digital, 3D. Tentamos apresentar esse material para o público. Temos computadores com Photoshop, para que eles façam os próprios projetos, visto que não adianta dar informações se eles não têm acesso.  

Portal Unicamp - As bibliotecas públicas fazem esse trabalho. E as universidades públicas?
Liane - As bibliotecas das universidades são chamadas de acadêmicas. As pessoas da comunidade podem usar também. Só que não podem fazer empréstimos. O que fazemos nos EUA que é muito interessante é o empréstimo entre bibliotecas. Funciona muito bem. Quando a minha biblioteca não tem algum livro, eu o busco no sistema. Se encontro em uma biblioteca da Califórnia, eu posso pedir emprestado e ela vai me enviar, e eu vou passar para o usuário. 

Portal Unicamp - Existe no governo local estímulos para que as pessoas leiam, pesquisem?
Liane - Sim, isso ocorre desde bebê. Temos um programa de leitura a partir de seis semanas de idade, chamado Baby Steps. Esse programa é desenvolvido na Biblioteca de Richardson para ensinar aos pais a importância da leitura e como ensinar seus bebês algumas atividades para que sua leitura evolua, facilitando esse processo. Essa semana, a nossa biblioteca distribuiu para o Hospital Metodista de Richardson vários kits para bebês. São diversos materiais informando a importância da leitura para os bebês. Também fazemos visitas às casas de repouso, com nossa biblioteca itinerante. 

Portal Unicamp - Nos EUA, as bibliotecas são obrigatórias? 
Liane - Não são obrigatórias, contudo nunca vi uma cidade que não tenha bibliotecas públicas nos EUA. Quando não há uma biblioteca física, há uma parceria com alguma cidade vizinha e seus cidadãos são aceitos como usuários. Logo, todos têm acesso a uma boa biblioteca. O que vejo no Brasil é a falta dessas bibliotecas. Conversando com vários profissionais, apesar de estar aumentando o uso e a importância das bibliotecas públicas, a sua presença ainda é muito falha nas escolas. Também poucas universidades têm cursos de Biblioteconomia. Nos EUA, essa é uma profissão muito bem-quista e, na maioria das bibliotecas públicas, é preciso ter mestrado em Ciências da Informação para atuar, não apenas a graduação. 

Portal Unicamp - Como foi na sua biblioteca a transição do livro papel para o sistema digital?
Liane - As pessoas tinham um pouco de medo que a biblioteca desaparecesse, mas o que temos visto agora é o contrário. As pessoas gostam de segurar o livro na mão, o papel. Gostam de virar a página, manusear e sentir o cheiro. Ao mesmo tempo, elas emprestam o livro digital, porém mais por comodidade. A pessoa leva o tablet com o livro que ela quer ler durante suas viagens, no percurso até o seu destino. Mas, se está em casa, usa mesmo o livro em papel. Até setembro passado, emprestamos mais de 1 milhão de livros. Por outro lado, os e-books também têm sido muito empregados, mostrando números impressionantes.

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004