“São muitos besouros. Eu não imaginava que tinha tanto besouro assim. Eu não sabia nem que caruncho era um besouro. E, imaginar que com um besouro você poderia resolver casos forenses, piorou!”, conta Wanderli D. Dias, estudante da Etecap (Escola Técnica Estadual Conselheiro Antonio Prado), que participa até sexta-feira (3) da 15ª edição do programa Ciência & Arte nas Férias (CAF). Ela faz parte do grupo de 225 estudantes de 73 escolas públicas de ensino médio de Campinas e região que escolheram passar as férias descobrindo como se produz ciência no Brasil, dentro de uma das diferentes faculdades e institutos da Unicamp.
Wanderli, que escolheu a Biologia (IB) para sua temporada, conta que nunca imaginou que existisse algo como Entomologia Forense, “quando eu fiquei sabendo dessa área, achei incrível! Usar mosca e besouro para datar o tempo de morte! Gente, como eles fazem isso!?” Ela e Pamela Silva, aluna do Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), participam do projeto Diário de um besouro, orientado pela professora Patricia Jacqueline Thyssen e levado a cabo por seu time do Laboratório de Entomologia Integrativa, do IB, que desenvolve pesquisas nas áreas de Entomologia Médica e Entomologia Forense.
“Quando eu vi o nome, Diário de um besouro, achei que fosse um negócio mais quadrado, mais simples. Não imaginei que iriam aprofundar tanto e dar tanta atenção pra gente”, ressalta Pamela. A percepção de Pamela não é equivocada. O grupo da professora Thyssen realmente se dedica ao CAF. Desde o planejamento da temporada, a professora convoca monitores e estudantes para estruturar coletivamente o programa que será desenvolvido. Todos os alunos se envolvem, da graduação ao doutorado. “O Laboratório inteiro para um mês para dar aula para o Ciência e Arte nas Férias”, conta a professora orgulhosa. Ela explica que o CAF não só uma oportunidade para os adolescentes terem contato com a Universidade. É, também, uma chance profissional para os seus alunos, que têm que dar aulas e enfrentar o desafio de adequar o conteúdo de suas pesquisas ao público de ensino médio.
Natane Sibon Purgato, monitora nesta edição do CAF e doutoranda da professora Thyssen, corrobora a opinião da sua orientadora: “não é só o conteúdo que a gente passa; são pessoas que a gente está cuidando. Isso é uma coisa que a gente não percebe quando está dentro de uma sala de aula com 40 alunos, quando faz estágio. Aqui dentro a gente está passando uma experiência que gosta e vendo eles gostarem. Dá um orgulho! A gente vê crescendo dentro da gente a vontade de dar aula”.
Os dois programas oferecidos pelo Laboratório este ano, Diário de um besouro e Jogos Entomolípicos, buscaram, através da elaboração de histórias em quadrinhos, mostrar o ciclo de vida dos insetos e sua importância para determinadas áreas da pesquisa do laboratório. De acordo com a professora, o objetivo foi apresentar para os estudantes um novo olhar sobre os insetos. “Culturalmente as pessoas acham que insetos apenas fazem mal a saúde. Então, a gente quis mostrar que eles têm funções extremamente importantes na natureza, como a reciclagem de nutrientes”, explica Thyssen.
Vitória Compagnone, também aluna do Cotuca, que participou do projeto Jogos Entomolípicos, explica que, mesmo as baratas sendo vetores patógenos (transmissores de doenças), têm muito a nos ensinar. “Elas têm propriedades biológicas interessantes. Por exemplo, a maneira como elas sobrevivem a situações extremas. Elas são legais!”, defende.
A inspiração para esse projeto surgiu dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A professora Patricia Thyssen explica que a ideia foi mostrar para os estudantes as particularidades de cada inseto. “Um inseto pode saltar, proporcionalmente, até muito mais que o homem, como a pulga”, exemplifica.
A professora, que participa pelo décimo ano consecutivo do CAF, coleciona histórias positivas do programa. “Tenho uma estudante que conheceu a Universidade e decidiu sua área de atuação a partir dele, por exemplo”, diz. Ela refere-se a Aline Marrara, que participou do CAF em 2010, quando era aluna da Escola Estadual Felipe Cantusio. Hoje, ela cursa graduação em biologia na Unicamp e faz iniciação científica com bolsa Fapesp. “Ela tem uma linha de pesquisa dela”, conta orgulhosa a professora. Aline trabalha com descrição de imaturos (larvas) de moscas da família Fanniidae, família esta com grande importância forense. No ano passado, ela ganhou menção honrosa durante o Congresso Paulista de Parasitologia.
Enquanto isso na Biblioteca Central...
Na Biblioteca Central Cesar Lattes (BCCL), as tecnologias de leitura foram tema de dois projetos: 3D: Leitura em movimento e Ferramentas de software e hardware livre para a acessibilidade musical do deficiente visual. No primeiro, os estudantes aprenderam um pouco sobre realidade virtual e, ao final, construíram os óculos cardboard. O projeto foi idealizado por Valéria dos Santos Gouveia Martins, coordenadora associada do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU), e pela professora Vera Regina Toledo Camargo, pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor).
O segundo grupo foi coordenado pelos professores José Eduardo Fornari Novo Júnior, pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS), e Vilson Zattera, do Instituto de Artes (IA). Os alunos participaram do desenvolvimento de modelos computacionais para músicos deficientes visuais.