A promessa de uma maior integração universidade-empresa foi uma das conclusões que sobressaíram do I Workshop “Academia e setor industrial: pesquisa, desenvolvimento e inovação” da Unicamp realizado na manhã desta quinta-feira (9) no auditório da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) de Limeira, um dos campi da Unicamp. O reitor José Tadeu Jorge, a pró-reitora de pesquisa Gláucia Pastore, representantes do setor industrial de Limeira e lideranças da cidade foram unânimes em reafirmar a necessidade de haver uma maior proximidade entre a academia e as indústrias para o desenvolvimento tecnológico daquele município, com vistas a atrair investimentos, gerar emprego e equidade social.
Tadeu Jorge contou que a ideia do workshop foi disparada por duas demandas principais: um ponto é a busca de apoio para a transferência do campus da Faculdade de Tecnologia (FT) para a FCA, a fim de um melhor aproveitamento de espaço, e outro ponto é a busca de uma maior relação com o setor industrial. Essas demandas chegaram à Reitoria através de visita protocolar do vereador de Limeira Valter Barbosa, que muito se empenhou na tarefa de instalar os campi de Limeira.
O reitor lembrou que a inteiração universidade-empresa era uma ação que já estava presente no DNA da Unicamp, nas delineações do então reitor Zeferino Vaz. Tanto que, para descrevê-la, Zeferino se reuniu com empresários para verificar quais deveriam ser as ações da Unicamp ao escolher cursos e direcioná-los da maneira mais adequada. “Ao longo de 50 anos, temos procurado nos manter fiéis a esse projeto original”, disse ele, que também recordou a vocação da Universidade para a pesquisa e a inovação. “Já criamos mais de 500 empresas, das quais 430 estão ativas. É uma das menores taxas de ‘mortalidade’ do mundo dessas empresas. Não chega a 20%”, revelou.
Ele sublinhou que a relação universidade-empresa é fundamental para os alunos atuarem profissionalmente e que as empresas juniores têm sido canais imprescindíveis para fazer esse engajamento. “Gostaríamos que esse evento de hoje fosse o embrião na intensificação das relações. Não temos limites geográficos para isso e vejo que se trata de uma relação ‘ganha-ganha’. Que esse início seja um catalizador do crescimento industrial de Limeira para gerar riqueza”, comentou.
A pró-reitora Gláucia Pastore, titular da pasta da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp, órgão que organizou o evento, abriu sua fala descrevendo indicadores da produção científica da Universidade Estadual de Campinas. Afirmou que a instituição está bem situada na pesquisa e que esse é um termômetro que permite corrigir rumos e ampliar horizontes e relações. Conforme ela, a média de artigos publicados pela Unicamp é de 12,2 por docente, maior que o das universidades estaduais paulistas, e tem também o maior impacto nas citações bibliográficas. Por essa e outras razões que sugerem a vocação da Unicamp para a pesquisa, a professora Gláucia Pastore acredita que as empresas devam procurar mais a Universidade. “Limeira pode favorecer muito o desenvolvimento de novos projetos de pesquisa, pois é um dos seus grandes trunfos a produção e o aproveitamento de biomassa, sem esquecer de lançar um olhar para a criação de novos cursos”, enfatizou. “Fico à disposição de vocês.”
O diretor executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp Milton Mori explicou detalhadamente a atuação da Inova. Pontuou que o Brasil está sim envolvido na produção científica e na geração do conhecimento, porém ainda está muito aquém em termos de inovação. “Ainda não aprendemos como transformar ciência em negócio”, realçou. "Esse fator é um dos gargalos a serem enfrentados. Estamos já na quarta revolução industrial e perdemos o bonde na produção de máquinas e de equipamentos. Também quanto ao índice de inovação, medido pela Cornell University, o Brasil figura no 69º lugar. É o pior desempenho em inovação entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A boa notícia é que a Unicamp tem 16 cursos entre os 100 melhores do mundo, de acordo com o ranking QS.”
Mori crê que, nos próximos dez anos, muitas novas empresas estarão adentrando o parque tecnológico da Unicamp e que isso poderá ajudar a gerar recursos para a própria Unicamp. “Temos hoje 44 empresas graduadas, 19 empresas incubadas e 434 empresas ativas. São aproximadamente 22 mil novos empregos gerados ao todo e um faturamento anual de mais de R$ 3 bi”, frisou.
O workshop teve a participação de representantes de cerca de 50 indústrias da região, que também tiveram a chance de esclarecerem dúvidas e de mostrarem as suas expectativas – que vão no sentido de reforçar de imediato uma maior integração com a Unicamp. Para o prefeito do município de Limeira, Mário Botion, o maior desafio é a qualificação profissional. Em sua opinião, avanços nessa área poderão colaborar muito com a estruturação e a instalação de um parque tecnológico em Limeira.
A subsecretária de ensino superior do Estado de São Paulo, Elisabete Correia, substituindo o vice-governador de São Paulo Márcio França, disse que a ideia é que o ensino superior seja cada dia mais destacado, mas reconhece que esse deve ser um trabalho contínuo, para que os planos sejam executados. O aluno Gabriel Lima, representante das empresas juniores da Unicamp, abordou como se gera impacto hoje no setor empresarial e contou que as empresas juniores dessa instituição têm tido algumas iniciativas para trazer empresários para mais perto da Universidade em palestras e outros eventos.
O vereador de Limeira Vagner Barbosa convidou os participantes do Workshop para participarem de uma sessão solene na Câmara Municipal de Limeira na próxima segunda-feira (13), às 19 horas, para a concessão do título de Cidadão Limeirense ao reitor da Unicamp, pelos relevantes serviços prestados à cidade. “É um privilégio entregarmos esse título ao professor Tadeu. Ele agora é um limeirense”, expressou.
Veja o que falaram outros participantes do Workshop:
Peter Schulz, diretor da FCA – Existem muitas possibilidades de relações não dimensionadas na moldura institucional. Limeira põe uma grande expectativa no setor industrial, muito por causa da Unicamp - que tem duas de suas unidades na cidade. Não existe fórmula pronta para fazer uma aproximação da instituição com as empresas. Existe sim muita boa vontade. Creio que nossos estagiários são uma ponte para viabilizar esse processo.
Renato Falcão, diretor associado da FT – A FT ajuda muito na formação profissional, mas falta fazer mais e mais pesquisas dentro das próprias empresas. Contratem doutores para suas empresas. Nosso corpo docente tem contribuído com a cidade auxiliando com soluções. Muitas empresas nos procuram. Temos promovido a semana de tecnologia, feira de profissões, cursos de extensão. Precisamos melhorar a questão dos estágios. Os alunos precisam de estágios e as empresas precisam de estagiários. Essa captação está sendo estudada. Os empresários devem aproveitar todo esse potencial de uma das melhores universidades do mundo [a Unicamp].
Paulo Saran, diretor do Colégio Técnico de Limeira (Cotil) – Ofertamos 600 vagas por ano no Cotil, são cerca de 4 mil inscritos e atualmente temos 1.456 alunos, sendo 44% de Limeira. A maioria, vem de outras cidades. Agora aprovamos a revisão da nossa certificação e teremos um docente para trabalhar o contato com as empresas, para melhor atender o mercado. Temos aqui profissionais de alta capacidade ocupando cargos de direção. Temos convênios com empresas da região e queremos ampliá-los.
Flamínio de Lima Neto, diretor do Ciesp – Existe uma grande dificuldade de chegar até as empresas. A academia fala uma linguagem diferente da empresa e ambas, muitas vezes, querem a mesma coisa. Vamos dar um passo à frente. Precisamos interagir com o pessoal de propaganda e marketing. Precisamos dos alunos. É um trabalho complicado mostrar que a indústria vai ganhar com a participação da Universidade, pois o empresário não tira o olho do caixa.