De projeções das alterações climáticas em longo prazo à disponibilização de informações em tempo real, a meteorologia tem implicações diretas na vida da população. Compreender ferramentas como o aplicativo SOS Chuva, por exemplo, pode evitar que pessoas se coloquem em situações de risco. Já a leitura de modelagens climáticas pode ser usada para prever alterações nos fluxos migratórios, possibilitando o planejamento de políticas publicas.
A busca de uma a linguagem comum que permita um melhor diálogo entre academia, sociedade e poder público sobre estudos em tempo e clima foi o principal objetivo do workshop Modelagem Meteorológica e Climática, nessa quarta-feira (22), no auditório da Embrapa Cnptia. O encontro fez parte do programa de seminários do Observatório das Migrações em São Paulo.
O professor Jurandir Zullo Júnior, coordenador da Cocen (Coordenadoria dos Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa) e pesquisador do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura), abriu o evento destacando as comemorações do Dia Mundial da Meteorologia, 23 de março, data da fundação da Organização Mundial de Meteorologia (OMM) da ONU.
Para Luiz Augusto Toledo Machado, coordenador do projeto temático Fapesp SOS Chuva, “o grande desafio dos pesquisadores é que a população entenda melhor as ferramentas para que tenha condições de reduzir sua vulnerabilidade”. O aplicativo SOS Chuva foi desenvolvido para que a população receba a informação diretamente no celular, entenda e possa agir sem a intervenção da defesa civil. A ferramenta já passa dos 50 mil downloads, e traz informações em tempo real sobre as chuvas, como a localização e intensidade de precipitação e raios (leia mais).
De acordo com Machado, a previsão imediata de eventos climáticos é uma ciência muito nova e surgiu com o aumento de desastres naturais devido a tempestades. “A urbanização e consequente ocupação de regiões de risco torna a previsão imediata muito importante para reduzir a vulnerabilidade da população”.
Mas não é apenas o curto prazo que preocupa a meteorologia. A modelagem climática foca escalas de tempo mais longas, com previsões trimestrais, semestrais e sazonais. Há ainda estudos em mudanças climáticas que avaliam, por exemplo, a elevação do CO2 na atmosfera, ou desmatamento, e as consequências disso para as próximas décadas. Estas informações têm implicações diretas no planejamento da agricultura e da geração de energia elétrica, mas sua utilização é ainda mais abrangente. “Qualquer atividade econômica que depende do clima pode ser beneficiária da modelagem climática”, afirma Marcos Heil Costa, professor da Universidade Federal de Viçosa, que ministrou a palestra Limites e potenciais da modelagem climática.
Um exemplo disso, é a influencia das projeções de mudanças de temperatura na produção de comodities e seu consequente reflexo nos fluxos migratórios dos trabalhadores em culturas sazonais. “A reconfiguração das plantações de cana e laranja, por exemplo, a partir das projeções sobre mudanças de temperatura, certamente, irão alterar os fluxos migratórios. Podem não mudar os espaços de origem, mas certamente vão mudar os de destino e a dinâmica das idas e vindas das migrações”, explica Roberta Peres, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População "Elza Berquó" (Nepo) e do Observatório das migrações, projeto temático da Fapesp/Cnpq que investiga a trajetória das migrações internas e internacionais no Estado de São Paulo. Para ela, esse estudo é fundamental para viabilizar políticas públicas que preparem as novas regiões para receber esses imigrantes (Acompanhe os trabalhos do grupo pelo Facebook).
No workshop, também foi exposto o trabalho Álbum de parentes desconhecidos, produzido por estudantes do Laboratório de estudos avançados em Jornalismo (Labjor) orientados pela professora Susana Dias e o pesquisador Sebastian Wiedemann.