“O homem de ciência não estuda a natureza por um fator utilitarista e sim porque encontra prazer nisso.” Com essa fala, baseada na publicação "O valor da ciência", do físico Henri Poincaré, o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, discursou na Unicamp na manhã desta quinta-feira (23) durante o Simpósio e Diplomação de Novos Membros Afiliados da ABC dos quinquênios 2016-2020 e 2017-2021. O evento foi realizado no auditório da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Universidade e culminou com a apresentação de nove novos membros da ABC empossados e com uma cerimônia de diplomação.
Participaram da mesa de abertura do evento, além de Luiz Davidovich, o coordenador geral da Universidade, Alvaro Crósta; a pró-reitora de pesquisa, Gláucia Pastore; e o vice-presidente da regional SP da ABC, Oswaldo Luiz Alves, para o triênio 2016-2019. O coordenador geral da Universidade, Alvaro Crósta, recebeu a todos lembrando que dois professores da lista da ABC que foram empossados são docentes da Unicamp (Daniel Martins-de-Souza e Marco Aurélio Ramirez Vinolo, ambos do Instituto de Biologia - IB). “São jovens entusiasmados que iniciam de forma brilhante suas carreiras de professores numa universidade pública. Isso tem sido possível porque nossas instituições têm investido na renovação dos seus quadros. A Unicamp conseguiu, nos últimos anos, contratar quase um quarto do seu corpo docente. Trata-se de uma renovação importante na nossa história”, assinalou.
Davidovich começou abordando o valor da ciência para o Brasil. Pontuou exemplos de revoluções na área científica que tiveram implicações no dia a dia da sociedade e de pesquisas que contribuíram para diversas áreas do conhecimento. Também falou que a curiosidade e a paixão pelo conhecimento são as características fundamentais do ser humano que têm movido os cientistas a perseguirem as suas inquietações.
O presidente da ABC contou que a primeira universidade brasileira foi a Universidade Federal do Amazonas, criada em 1909, e que a primeira universidade estrangeira foi a de Bolonha, que surgiu quase 900 anos antes (em 1088). “Essa grande diferença, no caso do Brasil, foi motivada pela realeza portuguesa, que impediu a impressão de livros no país”, contou. A Universidade de Harvard data de 1636.
Apesar dessa discrepância, ele lembrou que a repercussão da ciência no Brasil teve como base o trabalho de empresas como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Comentou que, graças a uma pesquisa de Johanna Döbereiner, que falava a favor do aproveitamento das associações entre plantas e bactérias fixadoras de nitrogênio, fez com o Brasil tivesse o menor custo de produção de soja do mundo, se estabelecendo como um dos maiores produtores. A produção de soja cresceu quatro vezes mais no país.
Davidovich ressaltou que, em razão do trabalho dos cientistas pioneiros, a formação de recursos humanos foi cada vez melhor, permitindo que uma empresa como a Petrobras ganhasse vários prêmios internacionais na área de perfuração de petróleo. Segundo ele, não faltam exemplos de inovação tecnológica. "Não obstante, ainda muitos fazem pouco caso da ciência no Brasil. E muitos economistas, em grande parte, contribuem para isso, por não falarem do papel do desenvolvimento econômico”, criticou.
Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, o professor Davidovich frisou que 2,8 são aplicados em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e que o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, foi um campeão de investimentos nessa questão. Na opinião do cientista, competirá às lideranças motivarem a sociedade e os jovens a desenvolverem ciência. “Aqui no Brasil a situação econômica e política é muito difícil, porém não faltam bons projetos. A própria ABC tem colaborado com publicações relevantes sobre doenças negligenciadas, recursos hídricos e muitos outros temas”, informou. “Ocorre que, sem dinheiro e sem prestígio político, as instituições científicas têm vivido a maior crise orçamentária da história”, lamentou.
O presidente da ABC ainda discutiu para que serve a ciência básica, dando exemplos de cientistas renomados que não tinham a menor ideia do que viria anos mais tarde. “O grande ideal deles era a paixão. Na época em que viveram, não pensavam em mudar o mundo; antes, queriam unicamente entender o mundo”, constatou.
Ele comentou sobre o surgimento da física quântica e suas primeiras dificuldades de compreensão pelos estudiosos da física moderna até o princípio do século 20. Isso se deveu, basicamente, à dificuldade de medir e avaliar resultados e comportamentos de elementos na física. “A ciência básica leva anos para se materializar, contudo felizmente hoje se reconhece a sua presença fantástica na criação dos chips e no desenvolvimento do laser e dos aparelhos de ressonância magnética para o diagnóstico de muitas patologias.”
A ABC
A Academia Brasileira de Ciências é uma entidade independente, não governamental e sem fins lucrativos que atua como sociedade científica honorífica e que contribui para o estudo de temas de primeira importância para a sociedade, visando dar subsídios científicos para a formulação de políticas públicas. Seu foco é o desenvolvimento científico do país, a interação entre os cientistas brasileiros e destes com pesquisadores de outras nações. A ABC recebe contribuições de seus membros individuais e corporativos, além de apoio financeiro de agências governamentais.