Delia Rodriguez-Amaya, professora da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp e Renato Terzi, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), receberam na quinta-feira, dia 6, os títulos de professores eméritos da Unicamp. As entregas aconteceram em solenidades distintas. Delia foi homenageada pela Universidade em sessão extraordinária do Conselho Universitário (Consu) no período da manhã. Terzi recebeu seu título no período da tarde. O reitor José Tadeu Jorge presidiu as duas sessões.
Delia Rodriguez-Amaya
O currículo invejável da professora Delia Rodriguez-Amaya foi destacado várias vezes durante a cerimônia matutina. A cientista e autora de mais de 250 publicações na área de análise e química de alimentos e é um dos nomes mais citados na literatura internacional entre os pesquisadores da Universidade.
Em agradecimento, Rodriguez-Amaya, que também é poetisa “nas horas vagas”, declamou versos de um poema que escreveu e que recebeu o título de “Lições aprendidas”. Segundo ela, o poema traz os princípios que nortearam sua vida profissional. “Quando criança me foi ensinado que o tempo é um tesouro, nunca recuperado uma vez perdido. De meu pai um conselho enfático: que a honestidade seja preservada custe o que custar. Assegurando esta virtude, as demais virão naturalmente. De minha mãe uma lembrança: a regra de ouro deve sempre prevalecer; o sucesso é verdadeiro somente quando conquistado através da competência e trabalho, nunca pisando nos demais”.
A professora ainda afirmou que várias vezes se perguntou como chegou a ser reconhecida internacionalmente. “A minha resposta é: através das minhas publicações. É muito gratificante saber que um trabalho, um artigo, um livro, que eu escrevi num cantinho da Unicamp, é lido e utilizado no mundo inteiro”. Rodriguez-Amaya finalizou seus agradecimentos com outro poema sobre a família e os amigos. No final da cerimônia ela recebeu, além do título, um colar de flores naturais.
A solenidade foi conduzida pelo reitor José Tadeu Jorge e também teve a participação dos pró-reitores de Pesquisa, Gláucia Pastore, e de Desenvolvimento Universitário, Leandro Palermo, além do diretor da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), Antonio Meirelles e a chefe do departamento do Ciência de Alimentos da FEA, Juliana Pallone.
Tadeu Jorge enfatizou que a professora emérita agora integra a honrosa galeria de docentes que ajudaram a construir os pilares que permitiram à Unicamp se destacar no Brasil e no mundo. Ele mencionou as quase 8. 500 citações que a docente contabilizava, até o momento da cerimônia. "Todos nós docentes sabemos o que significa isso. É um número impactante para qualquer docente”. O reitor também relembrou que Rodriguez-Amaya recebeu três vezes o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico Zeferino Vaz, considerado um dos principais da universidade.
A pró-reitora Gláucia Pastore salientou a participação decisiva da professora emérita em eventos internacionais realizados pela FEA. Para Pastore, Rodriguez-Amaya, com muita simplicidade, colocou o Brasil no cenário internacional nos estudos da área de alimentos. A produção acadêmica da docente que projeta a Unicamp para o mundo também foi destacada pelo diretor da FEA, Antonio Meirelles, e pela professora Hélia Harumi Sato, que fez uma saudação em nome do Consu.
Finalizando a homenagem houve uma apresentação dos músicos Felipe Macedo e Weber Marely.
Currículo Lattes
A Dra. Delia Rodriguez-Amaya é atualmente Presidente da International Academy of Food Science and Technology (2014-2016). É a primeira mulher a ocupar esta posição. Eleita fellow em 2003 pelo seu destacado desempenho internacional, tem sido membro do Conselho Executivo da Academia desde 2008. De 1977 a 2010, a Dra. Delia foi professora da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Foi homenageada por quatro turmas de Engenharia de Alimentos; orientadora de 48 teses defendidas de mestrado e doutorado; Chefe do Departamento de Ciência de Alimentos; Coordenadora dos Programas de Pós-graduação (Mestrado e Doutorado) da FEA (Ciência de Alimentos, Tecnologia de Alimentos, Engenharia de Alimentos e Ciência da Nutrição) por dois mandatos; Coordenadora da Comissão de Docência da FEA por quatro mandatos. É autora de 249 publicações científicas (livros, capítulos, trabalhos completos), a maioria em circulação internacional. Vários dos seus artigos ficaram nas listas dos 10 mais citados e/ou 10 mais lidos de periódicos internacionais.Os seus três livros publicados em Washington DC são também largamente citados nos periódicos internacionais: A Guide to Carotenoid Analysis in Foods (974 citações), Carotenoids and Food Preparation (299 citações), HarvestPlus Handbook for Carotenoid Analysis (392 citações). Apresentou mais de 240 trabalhos em mais de 25 países, proferiu mais de 250 palestras convidadas em 30 países e ministrou cursos de curta duração em vários países como Filipinas, México, Argentina, Chile, África do Sul, Tanzânia e China, patrocinados principalmente pela FAO e HarvestPlus. Coordenou 25 projetos financiados por órgãos de fomento nacionais e internacionais, inclusive dois projetos do PRONEX (Programa de Apoio a Núcleos de Excelência). Foi bolsista de produtividade em pesquisa na categoria 1A por 20 anos. Participou de vários FAO-WHO Expert Consultation Meetings e de comitês ad hoc do Ministério de Saúde. Foi representante da área na CAPES e membro do Comitê Assessor de Ciência e Tecnologia de Alimentos no CNPq por dois mandatos. Também é reconhecida pela organização de congressos científicos internacionais de alto nível. Recebeu numerosos prêmios, incluindo o Título de Pesquisador Emérito do CNPq 2015, o 2012 Presidential Award Pamana ng Pilipino (Philippine Heritage), o 2010 East-West Center Distinguished Alumni Award, o prêmio de reconhecimento Zeferino Vaz três vezes (1994, 1997, 2003), o prêmio André Tosello (2005) e o PAFT (Philippine Association of Food Technologists) 50th Anniversary Recognition Award (2010). Mesmo após sua aposentadoria, continua a se destacar por suas atividades internacionais, como assessora científica da International Foundation for Science sediada na Suécia, membro do Governing Council e comitês (Nominations, Scientific Committees) da International Union of Food Science and Technology, membro do Corpo Editorial dos periódicos Current Opinion in Food Science, Frontiers in Nutrition, Trends in Food Science and Technology, Plant Foods for Human Nutrition, Food Control, African Journal of Food, Agriculture, Nutrition and Development, Archivos Latinoamericanos de Nutrición, Alimentos e Nutrição e Revista do Instituto Adolfo Lutz. Foi membro do Corpo Editorial de outros seis periódicos, incluindo o Journal of Food Composition and Analysis por uma década (2001-2011). É professora visitante sênior pela CAPES da Universidade Federal da Fronteira Sul. Ela possui graduação B.S. Food Technology, Araneta University (Filipinas), Magna Cum Laude; M.S. Food Science, University of Hawaii como bolsista do East-West Center, EUA; Ph.D. Agricultural Chemistry, University of Califórnia, Davis, como bolsista do Board of Regents da University of California; e pós-doutorado, University of Rhode Island como bolsista do NIH, EUA. É único autor do livro Food Carotenoids: Chemistry, Biology and Technology (IFT-John Wiley, 2016).
Renato Terzi
O sonho de Terzi era ter na área hospitalar da Unicamp a melhor unidade de terapia intensiva (UTI) do país. O sonho está praticamente consolidado e hoje se reconhece que isso se deveu ao trabalho incansável do cirurgião Renato Giuseppe Giovanni Terzi, professor titular da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Esse foi um dos vários feitos de Terzi que o fez merecer o título de Professor Emérito da Unicamp, distinção que recebeu das mãos do reitor José Tadeu Jorge por solicitação do Departamento de Cirurgia da FCM. Mais do que isso, a outorga foi atribuída em razão dos relevantes serviços prestados por Terzi em prol do desenvolvimento da instituição.
Um grande contingente de pessoas esteve na sala do Consu para homenagear Terzi, entre familiares, ex-alunos da FCM, funcionários, docentes e convidados. Participaram da mesa diretiva dos trabalhos, além do reitor, o pró-reitor de Graduação Luis Alberto Magna e o diretor da FCM Ivan Toro.
Todas as falas enfatizaram o espírito empreendedor de Terzi que, depois de ter se “aposentado” das atividades de cirurgião, se dedicou inteiramente ao desenvolvimento da terapia intensiva, visto que em Campinas por décadas a cidade tinha sido desprovida de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
O também cirurgião Nelson Andreollo lembrou que, na antiga Santa Casa, onde embrionariamente funcionou a Unicamp, as cirurgias eram feitas inicialmente sem o devido suporte de UTI. “Não tínhamos nem respiradores para que os pacientes, no pós-cirúrgico, pudessem se recuperar mais rapidamente.”
Hoje após 30 anos de funcionamento, a UTI da Unicamp conta com 50 leitos (expansíveis para 66) e 315 funcionários alocados nas seguintes funções: 3 médicos docentes, 43 médicos plantonistas e diaristas, 73 enfermeiros, 169 técnicos de enfermagem e pessoal de apoio, e 27 fisioterapeutas. É uma das três maiores unidades de terapia intensiva do Brasil.
Andreollo enalteceu Terzi pelas contribuições que ele trouxe à Unicamp, como a implantação do curso de fisioterapia respiratória e o curso de metabologia cirúrgica no Departamento de Cirurgia. Depois de sua aposentadoria, em 2007, organizou e executou o primeiro curso de pós-graduação lato sensu em Medicina Intensiva, através do Instituto Terzius, coordenado por ele. Em 2008, profissionalizou a estrutura administrativa do curso de pós-graduação em Medicina Intensiva de Adulto.
Para Andreollo, Terzi é um exemplo a ser sempre seguido. “Com toda a certeza, ele é a peça mais importante do meu currículo na Universidade”, ressaltou.
Ivan Toro destacou que Terzi foi um divisor de águas no Departamento de Cirurgia e na Terapia Intensiva do país. Magna, que foi aluno de Terzi, afirmou que acompanhou a sua carreira e que ele certamente merece esse título e outras homenagens.
O reitor José Tadeu Jorge qualificou como tarefa nada fácil homenagear Terzi, depois de ouvir tudo o que ele realizou no HC, na FCM e na Unicamp. “Agradecemos tão brilhante história cuja contribuição permitiu que a Universidade alcançasse a excelência de hoje. O professor Terzi demonstra na prática o acerto da concepção do projeto inicial de Zeferino Vaz”, discursou. “A sua trajetória em todos os momentos envolve o ensino, a pesquisa e a extensão. Nossos cumprimentos enfáticos por projetar a Unicamp na sociedade acadêmica e internacional. O senhor merece esse título com distinção e louvor”, ressaltou
Renato Terzi fez um discurso amplo e bem-articulado. Agradeceu a todos e introduziu sua fala dizendo que esse é um momento precioso de sua vida. “Esse título muito me honra e envaidece”, garantiu. Agradeceu Andreollo pelo depoimento a seu respeito e retribuiu salientando que sempre admirou Andreollo pelo cuidado humanitário com seus pacientes.
Recordou que recebeu o diploma de Medicina das mãos de Zeferino Vaz na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP. Ao abordar o início de sua carreira, comentou sobre sua esposa Sylvia Bueno Terzi, já falecida, que também foi professora da Unicamp no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Sylvia atuou por anos com a Educação de Jovens e Adultos (EJA), principalmente na área de Letramento, e foi coordenadora do Programa Alfabetização Solidária em municípios carentes de Alagoas, Ceará, Tocantins, Sergipe e Paraíba de 1997 a 2011.
“Sylvia foi minha companheira por quase 50 anos. Acompanhei o seu trabalho. A ela devo o orgulho de ter meus três filhos: Renato, Eduardo e Cristina”, acentuou. Emocionou-se tanto que não prosseguiu o relato sobre ela.
Terzi foi o cirurgião que atendeu Zeferino Vaz em seus últimos momentos de vida, antes de ser transferido para São Paulo, onde faleceu vítima de complicações coronarianas. Foi ele que também contratou os primeiros médicos para trabalhar na UTI do HC. “Todos começaram com trabalho e dedicação comovente. Iniciamos em 1986 com o primeiro paciente – um pós-operatório de transplante renal”, contou.
Ele relembrou os amigos e cada profissional que esteve ao lado dele nas atividades relacionadas à terapia intensiva e ao seu trabalho no Departamento de Cirurgia. Falou da visão de futuro que tem da medicina. Sublinhou que o jovem de hoje, em busca de informação e habituado a navegar na internet e nas redes sociais, ruma para outro sítio, quando o texto é longo e enfadonho. “Com novos paradigmas pedagógicos, os volumosos tratados de medicina estão em processo de extinção”, lamentou.
Hoje exige-se acesso rápido à informação, prosseguiu ele. “A informação tem que ser completa, precisa, concentrada e atual. A busca de artigos da literatura internacional somente interessa ao acadêmico, quando elabora suas teses e trabalhos científicos.”
Ele acredita que, com as atividades à beira do leito, fica impossível atualizar-se totalmente e ler os milhares de artigos em todas as revistas científicas, “mesmo porque artigos de baixa qualidade científica podem gerar mais dúvidas do que certezas”. Crê que justamente por isso entidades internacionais têm produzido consensos, guias e diretrizes. Com essa ferramentas, aliadas à educação a distância e à simulação realística, será possível atender a essa nova geração mais “individualista”.
“Mais do que obter informações, os alunos deveriam ver no mestre um exemplo a ser seguido. Vejo que esse modelo está se perdendo por vários motivos: a crise econômica e as novas formas de contrato de docentes nas universidades públicas e privadas. Eles têm desmotivado a dedicação integral. Como será o ensino de medicina daqui a dez anos? Tenho certeza de que grandes desafios serão impostos aos futuros professores, que deverão se adaptar de alguma forma à nova realidade”, pontuou.
Renato Terzi graduou-se em Medicina pela USP em 1960. Fez residência em Cirurgia Geral no Bronx-Lebanon Hospital Center de N. York (1962-1966) e em Cirurgia Torácica e Cardiovascular na Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, de 1967-1968. Fez doutorado em Cirurgia pela Unicamp em 1973 e pós-doutorado pela Universidade de Harvard, no Massachusetts General Hospital de Boston de 1981 a 1982.