Um dos maiores expoentes da Unicamp, o professor Yaro Burian Júnior, colocou “toda” a sua vida em prol de “todas” as escolas de engenharia do país. Foi assim que iniciou o seu discurso o professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) José Cláudio Geromel, um dos proponentes do nome de Yaro para receber, na tarde desta segunda-feira (10), o título de Professor Emérito da Unicamp. Yaro é professor aposentado da FEEC, mas continua atuando como colaborador e, portanto, são 45 anos de atividade ininterrupta nesta Universidade.
A cerimônia de outorga do título, na sala do Conselho Universitário (Consu), contou com a presença do professor Osires Silva, ex-ministro da Infraestrutura e ex-ministro das Comunicações do Brasil, que foi colega de turma de Yaro no Instituto de Aeronáutica (ITA) e fundador da Embraer. “Ele fez engenharia eletrônica e eu engenharia aeronáutica. Yaro, em 1962, foi o primeiro colocado do ITA e é uma pessoa de quem devemos ter orgulho”, disse Osires ao lembrar do companheiro de turma.
Participaram ainda da solenidade o reitor da Unicamp José Tadeu Jorge, o coordenador geral da Universidade Alvaro Crósta, o pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Leandro Palermo, o pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico Meyer, o diretor da FEEC João Marcos Travassos Romano e o professor associado do Departamento de Semicondutores, Instrumentos e Fotônica Fabiano Fruett. Yaro foi introduzido ao recinto do Consu pelos filhos Paulo e Natália Procópio Burian. Sua esposa, Ana Cristina Cavalcante Burian, sentou-se na primeira fileira da tribuna.
Geromel contou que foi aluno de pós-graduação de Yaro na Unicamp a quem qualificou como um "verdadeiro mestre". Lembrou de algumas facetas do homenageado. Disse que ele se graduou no ITA, um ícone da engenharia; sempre esteve entre os melhores alunos da instituição; foi convidado a trabalhar no CNRS (em português, 'Centro Nacional da Pesquisa Científica'), o maior órgão público de pesquisa científica da França e uma das mais importantes instituições de pesquisa do mundo. Na França, tornou-se um dos primeiros engenheiros brasileiros a obter o título de Doutor de Estado.
Além de sua atuação na engenharia, Yaro também transitou com grande facilidade na área cultural, tocando com desenvoltura violino e viola. Foi diretor do Instituto de Artes (IA) na década de 1980. Criou uma disciplina eletiva de graduação em acústica aplicada à música e iniciou, com outros colegas, um certificado de estudos nessa área. “Generoso com os alunos, desvendou para eles, em contraposição à aparente aridez da engenharia elétrica, as doçuras do violino, da fotografia como hobby e das orquídeas”, registrou o texto do cerimonial da outorga. “Seu brilho e excelência sempre pairou sobre os seus orientandos”, realçou Geromel.
Sua tese de mestrado foi a sexta do ITA inteiro e uma das primeiras do país em Engenharia Elétrica. Foi autor de livros técnicos, entre eles Osciladores Eletrônicos e Circuitos Elétricos, adotados como referência em todas as escolas de engenharia do país. “Mesmo aposentado, não deixou a Unicamp. E vem se mantendo na linha de frente, dedicado e presente, muito mais que se possa esperar de um professor. Por tudo isso, já se consolidou como exemplo de valor e de competência”, exaltou Geromel.
Com a palavra, João Marcos Romano ressaltou na solenidade o prazer de participar dessa prestigiosa e justa homenagem a um professor da envergadura de Yaro. Citou Rainer Maria Rilke, em Cartas a um Jovem Poeta, nas quais o autor coloca sua opinião sobre diversos aspectos da vida e da arte. Diz que o amor é difícil... e que por isso os jovens são imperfeitos. "O amor não é somente o amor romântico. Existe o amor a uma causa, ao ensino e a quem a se ensina", apontou, fazendo alusão a Yaro. Ainda afirmou que "felizmente a FEEC tem um exemplo acabado de dedicação que anda pelos corredores e pelas salas de aula, da onde saem tantas conversas interessantes e produtivas”.
O pró-reitor João Frederico Meyer frisou que Yaro marcou a sua passagem pela Unicamp. Assinalou outras importantes participações dele em algumas ações na Adunicamp e na época da sua exoneração, por ato arbitrário, dentro do processo de intervenção, quando foi diretor do IA (1980-1981). “Yaro sempre demonstrou bom-humor em todas as circunstâncias e sempre procurou colocar a ciência a serviço da comunidade. O senhor é um grande exemplo da extensão que se faz em nosso meio.”
Em seu discurso, Yaro Burian comentou a emoção pela honraria. Contou pequenas histórias, entre elas a sua chegada a Campinas e sua atuação no IA, tocando ao lado do compositor Almeira Prado, de um professor da Física (que fabricava cravos) e do médico Joel Giglio. “Com Joel, fizemos vários duetos. Tocamos inclusive num banquete na casa do Plínio de Moraes”, revelou. Uma particularidade: Yaro criou o Conjunto de Câmara da FEEC, o qual integra desde a primeira formação.
Yaro foi um dos introdutores da multidisciplinaridade na FEEC. Ele também lembra que, ao ministrar uma palestra sobre controle de máquinas, passou a ser chamado para diversas bancas de mestrado e doutorado. "Tornei-me um maquineiro”, brincou. Teve a oportunidade ainda de participar de uma excursão organizada por Hermógenes Leitão para coleta de plantas, de quem ganhou um elogio: "ele me disse que eu era um bom taxonomista".
O homenageado falou da sua preocupação com a questão da excessiva cobrança de produtividade dos professores, uma obrigatoriedade nas universidades. Classificou como um avanço o debate sobre outras formas de avaliação a partir de 2009. “Isso deve ser levado em conta, pois os professores têm múltiplas tarefas."
Yaro também expôs que muitos professores encaram como sua única motivação a publicação para enriquecimento do currículo. Eles deveriam, em sua opinião, se dedicar ao aprofundamento do tema, não visando apenas benefícios pessoais em detrimento do conhecimento. “O tempo dedicado à produção de paper deveria ser empregado para o ensino”, defendeu. Aproveitou para lançar uma reflexão sobre os atuais rankings universitários e sobre os editais de concursos para admitir docentes. “O examinador é proibido de examinar a qualidade”, lamentou. Terminando as suas considerações, Yaro foi seguidamente aplaudido pelo público que compareceu à sala do Consu.
Alvaro Crósta reconheceu a enorme contribuição de Yaro à Unicamp em várias atividades como mestre e formador de uma geração de engenheiros. “Além de cientista, é um artista do violino”, recordou. Agradeceu particularmente a participação de Yaro na Comissão da Verdade, a convite de Crósta. “Você fez um trabalho brilhante. É muito merecedor dessa homenagem e seu nome engrandece a FEEC e a Unicamp”, destacou.
O reitor da Unicamp manifestou sua satisfação pessoal e institucional de homenagear Yaro, principalmente pelo fato de poder lhe entregar a maior honraria que se pode oferecer aos docentes da Universidade. “A sua trajetória espelha orgulho e dignifica a Unicamp”, disse. Enfatizou que a preocupação com a formação adequada dos alunos é o traço mais marcante da personalidade de Yaro e o que mais reflete a sua longa contribuição nesses 45 anos dedicados à Unicamp. "Os resultados aparecem e mostram essa trajetória ímpar", finalizou.
Yaro Burian graduou-se em Engenharia Eletrônica pelo ITA em 1962, fez mestrado em Ciências também pelo ITA (1964) e Doutorado de Estado (Docteur D'etat) pela Université Toulouse (1968), França. Sua experiência principal é na área de Engenharia Elétrica, atuando nas especialidades de circuitos elétricos, eletrônica e máquinas elétricas. Pertence ao Departamento de Máquinas, Componentes e Sistemas Inteligentes.
Assista vídeo produzido pela TV Unicamp