Vivenciar, se deslocar e vislumbrar outros países sem sair fisicamente do Brasil. Isso é possível através de um dispositivo de realidade virtual que nessa terça-feira (2) foi utilizado pela primeira vez por 22 alunos da Unicamp. A atividade fez parte da disciplina Narrativa Audiovisual do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e aconteceu no auditório da empresa PST Eletrônica. “Foi uma iniciativa pioneira”, qualificou Ana Carolina Moura Delfim Maciel, que apresentou essa nova ferramenta aos graduandos. Ela é pesquisadora associada do IFCH, pesquisadora do Centro de Memória Unicamp (CMU) e atual responsável pela Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares (Cocen) da Universidade.
Ana Carolina ministra a disciplina Narrativa Audiovisual e, como pesquisadora, vem aplicando e analisando o uso da narrativa audiovisual no campo da história. “Há 17 anos, realizo documentários em minhas pesquisas acadêmicas. Graças a essa prática, a imagem foi se impondo em minhas atividades, não como mera ilustração, mas como uma possibilidade narrativa. Nessa disciplina que ministro no IFCH, introduzimos os alunos aos textos teóricos, visionamos documentários e temos uma atividade prática audiovisual”, frisa. Ao planejar suas aulas, a pesquisadora julgou interessante proporcionar aos alunos essa experiência de realidade virtual. “Soube do uso da realidade virtual para fins didáticos através de um projeto da professora canadense Kristina Llewellyn, da Universidade de Waterloo.”
Segundo Ana Carolina, o dispositivo permite que os alunos possam “submergir” no universo das imagens, extrapolando uma postura passiva e bidimensional. “Como lido com a narrativa audiovisual e sua possibilidade de 'escrita' da história, acredito que essa experiência de virtualidade seja precursora, um prenúncio daquilo que será a narrativa audiovisual num futuro não muito distante.”
A pesquisadora conta que entrou em contato com a direção da PST Eletrônica, empresa localizada praticamente dentro do campus da Unicamp, depois de saber que a professora canadense empregava essa prática em sala de aula. “Conversei com o Sérgio Cerqueira Leite, quando soube que ele tinha esse equipamento. Disse que queria possibilitar essa experiência para meus alunos”, ressalta.
A realidade virtual tem como base displays estereoscópicos como óculos e headsets, muito empregados na área de entretenimento. Através da Internet, são baixados aplicativos. “Os nossos alunos empregaram o Google Earth, lançado recentemente. Baixamos também um cenário da cidade histórica de Palmira, na Síria, antes do bombardeio. Os alunos ficaram completamente maravilhados, sobretudo porque a sensação é de deslocamento para aquele determinado lugar de observação”, revela.
A ideia, afirma Ana Carolina, é que eles entendessem que o mundo está num momento divisor de águas nessa questão, principalmente porque já existem museus hoje que são totalmente voltados para vivências sensoriais. No Museu do Holocausto, nos Estados Unidos, as pessoas vestem uniformes e calçados, e entram num local semelhante a uma câmara de gás. Com esse tipo de tecnologia, as pessoas de fato andam nesses cenários históricos. “Vejo que, daqui a pouco, essa será a televisão que usaremos em nossas casas. Então estamos num momento de uma experiência muito moderna, porém que, daqui a um tempo, já vai estar por aí”, acredita.
Sérgio Cerqueira Leite, que é presidente da PST, relata que comprou o dispositivo de realidade virtual para sua empresa apenas por curiosidade. “Em nosso dia a dia, trabalhamos com componentes eletrônicos, mas não nessa área. Então fizemos o convite para que os alunos viessem à PST hoje para uma demonstração”, diz. “É um prazer contribuir com a Unicamp e propagar essa tecnologia que não é nossa. É um produto de prateleira já comercializado.”
Ele explica que o dispositivo é relativamente barato e que os programas em geral são gratuitos. Para usar o equipamento, é preciso ter acesso a um computador de gamer, com uma boa placa de vídeo. O equipamento custa, fora do país, menos que 800 dólares. "Creio que essa será a tendência mundial, apesar de ainda ser uma novidade agora. Daqui a pouco, esse dispositivo estará nos lares brasileiros. É só uma questão de tempo", salienta.
Para a aluna Thais Farias, essa atividade foi muito interessante porque, mesmo as pessoas podendo acessá-la, não se trata de uma aquisição já popularizada. "A realidade virtual permite uma experiência não comum, em que a sensação de imersão é completa. Em um determinado ponto, o dispositivo me colocou numa montanha. Estava na beirada de um precipício e parecia que eu ia cair, ainda que sabendo que estava numa sala com muitas pessoas à minha volta. Foi tudo muito real”, relata.
A aluna Maria Emília, de Santa Fé, Argentina, comentou que estuda na Universidade Nacional do Litoral e que no momento realiza um intercâmbio na Unicamp, que encerra no mês de julho. “Nunca vivi uma experiência como essa. Foi muito gostosa a sensação de estar numa cidade isolada da realidade. Impressionante.”