Estadão publica artigo de Marcelo Knobel e Teresa Atvars

Compromisso com a sociedade

Marcelo Knobel e Teresa Dib Zambon Atvars (*)

A Unicamp construiu uma trajetória de sucesso, sendo a melhor universidade do País em produtividade científica per capita e em citações por publicação. Até completar 50 anos, em 2016, esteve entre as 50 melhores universidades do mundo no ranking da Times Higher Education de instituições de ensino superior com menos de 50 anos e se consolida como referência nacional na área da saúde, atendendo de maneira exemplar, exclusivamente pelo SUS, uma população que extrapola sua região de abrangência. Já no quesito registro de patentes, a Unicamp ocupa o terceiro lugar no País (atrás somente da Whirpool e da Petrobrás). Esses são resultados únicos no contexto latino-americano.

Por isso entendemos que, principalmente neste momento, a sociedade em geral e a comunidade acadêmica em particular precisam defender as bases para uma universidade pública gratuita, de qualidade e com autonomia, que valorize o diálogo e esteja atenta às mudanças de nossos dias. Essa defesa é ainda mais necessária no momento em que as três universidades públicas paulistas (USP, Unicamp e Unesp) atravessam uma crise orçamentária sem precedentes, como decorrência direta do quadro recessivo instalado no País nos últimos três anos.

O risco deste cenário de crise é que ganhe corpo na opinião pública a persistente difusão de propostas de privatização como forma de resolver o problema de financiamento e manutenção das atividades universitárias. Para preveni-lo é urgente mostrar não só que a cobrança de mensalidades jamais resolverá os entraves da educação superior brasileira, mas, ao contrário, os aumentará. Isso porque os custos de uma universidade como a Unicamp não podem ser equacionados com mensalidades, já que são muito altos. E são altos principalmente porque a Unicamp é muito mais que um espaço onde são dadas aulas: é, sobretudo, um lugar onde se produz conhecimento pela interação de pesquisa, ensino e extensão, propiciando a seus egressos, além de uma formação científica que lhes permita enfrentar com criatividade e competência os desafios da contemporaneidade, uma formação ampla, cidadã, que desde a graduação lhes permite contribuir (na extensão e na assistência) para o desenvolvimento científico, social, cultural e artístico da sociedade brasileira. Contribuição, aliás, que não é só dos estudantes, mas também dos professores, pesquisadores e funcionários, cujos esforços se conjugam para construir esse espaço único que é a universidade pública.

Não resta dúvida de que a universidade pública é, por excelência, a instituição capaz de aliar pesquisa, ensino e extensão para oferecer à sociedade contribuições que resultem em desenvolvimento efetivo. Essas ações devem necessariamente incluir a inovação e o fortalecimento das atividades acadêmicas, com políticas que garantam sua sustentabilidade, e a valorização das culturas e dos conhecimentos, com a efetivação de programas que ampliem e qualifiquem as ações de inclusão social.

A história das três universidades estaduais paulistas mostra que ser pública, gratuita e ter autonomia financeira são condições essenciais para cumprir as demandas sociais com a qualidade necessária e inclusão social, pois permitem estimular e aproveitar talentos de toda a comunidade, do Brasil ou do exterior, formá-los no ambiente de produção de conhecimento e assim contribuir de maneira efetiva para a formação de pessoas comprometidas com a constante atualização do conhecimento, com a democracia e a justiça social.

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A universidade pública é instituição capaz de contribuir para o efetivo desenvolvimento do País
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Com base no conhecimento adquirido nessa experiência profícua de interação com a sociedade, as parcerias e pesquisas cooperativas podem e devem agora ser incrementadas, e ampliadas para outros órgãos e organismos sociais, incluindo mais fortemente as áreas públicas e áreas de amplo apelo social. Para isso a gestão universitária precisa também estar atenta às necessidades e aos interesses dos diferentes setores da sociedade, qualificando-os em razão dos objetivos centrais da universidade pública, que é, antes de tudo, instituição formadora de profissionais competentes, críticos, criativos e proativos, capazes de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, menos desigual, mais democrática.

Tendo em vista esse objetivo, a universidade pública poderá promover com eficiência e responsabilidade as ações necessárias, que incluem, por exemplo, a continuada inovação no ensino, pesquisa e extensão, por meio da valorização das culturas, dos conhecimentos gerados e apropriados pela sociedade, da interdisciplinaridade, da internacionalização, da sustentabilidade, de ações afirmativas, de inclusão social e de permanência estudantil em todas as suas dimensões.

Para esse novo salto qualitativo e quantitativo alguns aspectos da vida da universidade devem ser remodelados: a gestão deve se voltar para o atendimento e incremento das atividades-fim, apoiando efetivamente docentes, pesquisadores, funcionários e estudantes; as atividades de apoio ao ensino, pesquisa e extensão devem estar preparadas e qualificadas para atender eficazmente às múltiplas demandas internas e externas; a infraestrutura física, material e de comunicação deve estar permanentemente atualizada e disponível para as atividades acadêmicas e científicas; e o parque instrumental e sua estrutura devem ser constantemente atualizados para atender aos novos modelos de pesquisa colaborativa nacional e internacional.

É nossa convicção que a universidade do século 21 exige que sejamos solidários, inclusivos, dinâmicos, inovadores e que tenhamos responsabilidade, implementando um projeto institucional e acadêmico em sinergia com a sociedade em constante transformação. A tarefa não é fácil e as variáveis do momento são muitas. Mas a Unicamp, como as demais universidades estaduais paulistas, impõe que tenhamos ousadia e responsabilidade para defender a universidade pública, gratuita, de qualidade e com autonomia, para sustentar um projeto institucional e acadêmico que honre a sua trajetória e fortaleça seus vínculos com a sociedade.

*Respectivamente, reitor e vice-reitora da Unicamp
 

(O Estado de S. Paulo - 4 de maio de 2017, página2) 
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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004