O Brasil tem que passar pelo aumento da infraestrutura de transporte, não só ferroviário, mas de rodovias, hidrovias, portos e aeroportos, para fazer o país alavancar e crescer, destacou Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), que esteve no Simpósio de Engenharia Ferroviária 2017 realizado nesta quinta-feira (11) no auditório Nova Iorque da Casa do Professor Visitante da Unicamp.
O evento, com 77 participantes, foi organizado pelo Laboratório de Interação Veículo-Via (Labvia) da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), pela Universidade Federal do Espírito Santo e o Instituto Federal de São Paulo. Marcaram presença na mesa de abertura o professor Antonio Carlos Bannwart, diretor da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM); o professor Alberto Luiz Francato, diretor associado da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), e o professor da FEC Carlos Alberto Bandeira Guimarães, que atua na área de Engenharia de Transportes. O professor da FEM Auteliano Santos, um dos organizadores do evento, conduziu os trabalhos.
De acordo com Vicente Abate, embora o simpósio seja o primeiro dessa série que aborda o transporte ferroviário de carga, a Unicamp já fez outros eventos no passado abordando os temas ferroviários. “É inadiável, para que possamos desenvolver o setor ferroviário, equipamentos e tecnologia de ponta. As indústrias, inclusive associadas à Abifer, têm procurado fazer essa aplicação e, com isso, vêm incentivando o crescimento do transporte ferroviário de carga e de passageiros”, disse.
Em sua opinião, o gargalo no setor de transporte ferroviário está na questão das linhas. “É preciso modernizar as linhas ferroviárias, as vias permanentes, e expandi-las. Temos hoje apenas 30 mil quilômetros de ferrovias de carga e, desses 30 mil quilômetros, uma boa parte não é utilizada. Na parte de passageiros, há só mil quilômetros no Brasil todo, e só na parte urbana”, informou.
“Precisamos de trens regionais de média e de longa distância. Para isso, o governo de São Paulo deve lançar nesse ano um edital de trens entre as cidades que vai sair de São Paulo vindo até Americana, passando por Campinas, inclusive pelo Aeroporto Internacional de Viracopos. A medida visa resgatar o transporte ferroviário de passageiros sobre trilhos a partir desse projeto que chama trem entre as cidades”, contou o presidente da Abifer.
Desinvestimento
Vicente Abate lembrou que, a partir da década de 1960, o transporte ferroviário historicamente passou a ter menos investimento no país. Nos anos de 1980, foram perdidas muitas indústrias. "Foi a década perdida do Brasil e do setor ferroviário", qualificou ele. Na década seguinte, iniciou a sua recuperação com a desestatização do sistema de carga. “Passamos a ter empresas privadas que fizeram investimentos principalmente a partir do ano 2000. Com isso, conseguimos ressurgir com a indústria, isso na área de cargas”, contou.
Na área de passageiros, começou um movimento a partir de 2006-2007, quando o governo de São Paulo investiu no metrô, na própria Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Hoje quatro milhões e meio de pessoas usam o metrô por dia e três milhões na CPTM. A ideia é que isso seja estendido a todo o país.
O presidente da Abifer comentou que o país sempre lidou com limitações no transporte público. Hoje, recordou, é possível ter principalmente as linhas de ônibus com BRTs (Bus Rapid Transit), linhas que podem fazer as pessoas chegarem à linha principal. “Estamos com o transporte melhor estruturado e ele tende a melhorar."
A expectativa é que, com os investimentos na linha do metrô até 2020, ela dobre de tamanho. "Temos atualmente 80 quilômetros e mais 80 em construção. Então teremos uma rede muito melhor aliada aos ônibus. Sempre preconizamos a importância da integração entre os transportes. Mas não é só um modo de transporte que vai resolver os problemas do país. Temos que ter integração entre todos os modos de transportes, seja os de carga e os de passageiros”, frisou.
Transporte
O professor Auteliano Santos explicou que o pano de fundo do Simpósio de Engenharia Ferroviária traz uma nova abordagem que está sendo utilizada pelas empresas ferroviárias – a de investir em pesquisas conjuntas para resolver problemas reais. “É investir recursos em bolsas, patrocínio de pesquisas e planos de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Isso já vem ocorrendo”, segundo ele.
Atualmente, há dois grandes projetos sendo desenvolvidos na FEM, no valor de R$ 2 milhões. “O pessoal da Vale tem financiado projetos também em outras universidades, como a USP, a Federal do Espírito Santo, a Universidade Federal do Maranhão. Eles têm fornecido importante apoio à pesquisa e têm encontrado diversos pesquisadores interessados nesse trabalho”, revelou.
O objetivo do evento é divulgar oportunidades de financiamento para os professores e divulgar as pesquisas que já estão sendo feitas nos diversos institutos de pesquisas pela empresa Vale. Destina-se a profissionais que trabalham em empresas da área ferroviária, alunos de pós-graduação vinculados aos projetos da Vale e profissionais e pesquisadores que trabalham com pesquisa nas empresas ferroviárias. “Esse simpósio trata especificamente de transporte ferroviário de carga e é voltado às empresas que trabalham com transporte de carga e pesquisas nessa área. Pretendemos fazer outros simpósios, mas desta vez voltados ao transporte de passageiros”, anunciou.
Para o diretor da FEM, Antonio Carlos Bannwart, o tema da pesquisa ferroviária é vital para o Estado, para o país e para a universidade, pois forma pessoas que vão trabalhar no setor industrial. "Os estudantes precisam ter um engajamento com os temas nacionais, e a proposta do simpósio inclui uma discussão entre a academia e o setor industrial. Minha pesquisa, por exemplo, é na área de energia. E vejo aqui um esforço grande e uma contribuição fundamental que a área ferroviária pode dar ao racionalizar o sistema de transportes", afirmou.
Denile Boer, da gerência executiva de tecnologia e inovação da empresa Vale e ex-aluna da Unicamp, fez a primeira palestra do dia. Ela apresentou o que é a área de inovação da Vale e quais são as opções de pesquisas que essa empresa tem apoiado nos últimos anos. A Vale é uma mineradora que está presente nos cincos continentes. É líder mundial na produção de minério de ferro e também produz carvão, fertilizantes, manganês, ferro, ligas e subprodutos como ouro, prata, cobalto e platina. Também faz investimentos em logística, siderurgia e energia.