A voz, um estranho-familiar que nos acompanha desde o princípio da vida e sobre a qual sabemos tão pouco, foi tema do Fórum Permanente de Vida e Saúde, nesta terça-feira (30), no Centro de Convenções da Unicamp. O evento, sob o título “Voz: subjetividade, expressão e psicopatologia”, foi promovido pelo Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitação (DDHR), da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e fez parte da série de fóruns programada pela Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU).
Segundo Kelly Cristina Brandão da Silva, professora do DDHR e organizadora do evento, o objetivo do Fórum foi apresentar um panorama geral das distintas pesquisas que envolvem o assunto, abordando a temática da voz em suas múltiplas facetas. “Desde o inicio da vida, o bebe é convidado a esse mundo através das vozes, principalmente a voz materna”, explicou Kelly. Outros aspectos abordados pelo evento foram a voz nas psicopatologias, a voz profissional do professor e a historia oral.
Na conferência de abertura, a psicanalista, fonoaudióloga e professora da Universidade Paris VII, Erika Maria Parlato de Oliveira, abordou o papel da voz na constituição psíquica do ser humano. “A voz, principalmente a materna, dá ao bebê condições essenciais para sua organização psíquica”, afirmou. Segundo ela, a maturidade auditiva é atingida antes do nascimento e já no terceiro trimestre de gestação o bebê responde aos estímulos da voz materna. Erika explicou que, aos ouvido do bebê, a voz é canto. “É do som, não do sentido das palavras, que o bebê se apropria”, disse.
Outra dimensão da voz é criação do endereçamento. De acordo com Mário Eduardo Costa Pereira, psicanalista e psiquiatra do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria (DPMP) da FCM da Unicamp, que compôs a mesa “Voz em psicopatologia”, “a voz, como o olhar, é uma garantia de que eu te reconheço como existindo. A primeira experiência que a gente tem de existir de fato é quando você se vê olhado e dirigido por alguém.” Para Pereira, a voz tem efeitos sobre a própria constituição das pessoas. Ela pode dar dignidade, respeito ou ser simplesmente uma voz de comando, uma voz que instala o outro na posição de objeto. “Todas essas questões se traduzem depois em uma atitude básica do sujeito em relação ao mundo”, argumenta.
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