Antonio Candido de Mello e Souza (1918-2017) ainda dialoga com a sociedade através de suas obras e numa exposição que acaba de ser inaugurada na Biblioteca Central ´Cesar Lattes’ (BC-CL) da Universidade, que leva o seu nome. Nela, o escritor, linguista, crítico literário, sociólogo e ex-professor da Unicamp também dialoga com intelectuais como Sérgio Buarque de Holanda, Florestam Fernandes, Érico Veríssimo, Henriqueta Lisboa, entre outros, através das dedicatórias.
Vinte e seis obras estão em destaque em nove expositores no terceiro andar das Coleções Especiais e Obras Raras da biblioteca para serem visitadas pelo público até o último dia do mês de julho das 9 às 17 horas. A maior parte do acervo é sobre literatura francesa e brasileira. Também há obras com grifos e anotações de Antonio Candido, e obras com dedicatórias de ilustres.
Segundo Maria Helena Segnorelli, diretora das Coleções Especiais e Obras Raras da BC-CL, os livros foram doados à biblioteca da Unicamp em 1989, por ocasião do falecimento do pai de Antonio Candido, o reumatologista Aristides Candido de Mello e Souza. São cerca de 3.500 livros da biblioteca do seu pai e de sua mãe Clarissa, e 800 do acervo pessoal do linguista. “Essa é uma homenagem que fazemos a eles. Com isso, propiciamos à Universidade um conhecimento sobre Antonio Candido que agora está sob a nossa guarda e preservação. O intuito da exposição é promover esse acervo, que foi encontrado dentro do acervo do seu pai."
Maria Helena revelou que a interação de Antonio Candido foi particularmente estreita com o historiador e jornalista Sérgio Buarque de Holanda, nome que também integra o acervo de Coleções Especiais da Unicamp. “É interessante notar que dentro de um grande acervo dois grandes intelectuais brasileiros conversam e aparecem lado a lado, como acontecia na vida.”
Na dedicatória do livro Teresina Etc, Antonio Candido reconheceu a importância da obra de Sérgio Buarque e de seu ‘protagonismo magno’, lembrando a fiel amizade que os unia. "Esses grandes intelectuais se empenhavam por ajudar as pessoas a entenderem a História do Brasil e a política social. Um colaborou com a obra do outro”, disse Maria Helena. Tanto que, num trecho do livro Os Parceiros do Rio Bonito, Antonio Candido frisou que, relendo este livro para começar as provas, ficou impressionado ao ver quanto ele era influenciado pela sua obra, sobretudo Bandeirantes e Mamelucos e Monções.
A exposição tem tido boa procura e interessa muito a estudiosos. Vários intelectuais dedicam seus livros a Antonio Candido. São os casos de Florestam Fernandes, que agradece o linguista pela colaboração na crise universal no livro Elementos de Sociologia Teórica. Na exposição, há ainda dedicatórias de Alfredo Bosi, Cassiano Ricardo, Guilherme Figueiredo. Todos se diziam admiradores de Antonio Candido. “Tinham uma relação de humildade, não uma demonstração de egos”, ressaltou Maria Helena. Em sua opinião, desse material, podem surgir pesquisas de linguística e de estudos brasileiros. “Atualmente, andamos carentes de grandes intelectuais como referência e como exemplo."
Antonio Candido é um dos últimos intelectuais de uma grande geração de humanistas, salientou ela. “Ele formava, junto com Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil), Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala), Caio Prado Jr. (Formação do Brasil Contemporâneo) e Celso Furtado (Formação Econômica do Brasil), um dos cinco mais importantes intelectuais do Brasil, com sua obra Formação da Literatura Brasileira. Estudou os momentos decisivos da formação do sistema literário brasileiro."
A ideia desta exposição é homenagear Antonio Candido, mostrar a interação com os intelectuais de renome nas dedicatórias e apresentar obras de relevo no país.