A tecnologia drone (um veículo aéreo não tripulado e controlado remotamente) hoje é fundamental para ajudar a coletar imagens, colaborar para interpretações, análises e diagnóstico, por exemplo, de processos erosivos e de construções de estradas. Ela é capaz de criar mapas em tempo real de como as doenças se espalham e de avaliar a probabilidade de novas erupções vulcânicas. Suas aplicações vão da engenharia à agricultura.
Essa é apenas uma das muitas tecnologias que estão sendo abordadas em dois eventos que correm simultaneamente na Unicamp: o XVII Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada e o I Congresso Nacional de Geografia Física, organizados pelo Departamento de Geografia (DGEO) e Instituto de Geociências (IG). Ambos começaram na última quarta-feira (28) com minicursos e trabalho de campo. Na noite de quinta-feira (29), houve a cerimônia de abertura no Centro de Convenções da Unicamp. Veja a programação completa, que prossegue até o dia 2 de julho.
Segundo o professor do IG Archimedes Perez Filho, coordenador geral do evento, a ideia foi trazer novos métodos e técnicas usados nas distintas áreas da geografia física, entre elas climatologia, geomorfologia, biogeografia, geodiversidade, geoarqueologia, patrimônio histórico. A geografia experimentou uma retomada a partir das décadas de 1980 e de 1990 com as questões ambientais. “Há uma variedade de aspectos sendo discutidos e isso certamente atraiu um grande número de interessados no evento. São cerca de 1.400 participantes distribuídos em duas salas”, contou. Os temas, disse, são extremamente relevantes para todo território nacional, tanto nos aspectos físicos naturais, como nos aspectos sociais.
Archimedes está envolvido num projeto que utiliza novas metodologias para o reconhecimento de datação de materiais de deposição em rios que compõem a paisagem atual. A iniciativa faz parte de um convênio com a Universidade de Coimbra, já no quinto ano com apoio da Fapesp. “Estive lá em fevereiro, onde passei um mês, rodando 2.500 km em Portugal, percorrendo praticamente todo o território português”, relatou. “Analisamos os diferentes níveis de terraços fluviais."
O objetivo do projeto é compreender a evolução e pulsações climáticas de dez mil anos até o momento atual. De acordo com Archimedes, o terraço é uma formação no fundo do vale que resulta do abaixamento do nível do mar. O rio provoca algumas incisões que, em determinados momentos, podem determinar um clima mais quente e mais úmido. “No Brasil, estamos provando que a história da evolução do relevo tem uma nova concepção: a de que ela é extremamente recente. Estamos desvendando, por meio de técnicas e procedimentos metodológicos (como a Luminescência Opticamente Estimulada), quando um cristal de quartzo foi exposto à luz solar pela última vez, antes de ser coberto por sedimentos mais recentes.”
Conforme o professor, esse projeto está chegando à sua fase final e poderá revelar como se dá essa evolução. “Já pudemos concluir que a paisagem atual é por demais frágil, principalmente no mundo tropical. Temos que tomar muito cuidado, portanto, com o seu uso, com sua ocupação”, alertou. Enfatizou ainda que os resultados encontrados são extremamente significativos para políticas públicas, porque tudo isso diz respeito à questão de planejamento urbano ou rural. "Se não houver planejamento e conhecimento que o anteceda, se ocuparmos essa paisagem e não tivermos cuidado, poderemos ter que enfrentar sérios problemas. Será o início do fim: com consequências catastróficas", constatou.