Aproveitando a vinda do pesquisador Philippe Dubois à Unicamp, a Galeria do Instituto de Artes (Gaia) inaugurou na quinta-feira (3) duas mostras com o uso da fotografia e o processo de revelação como arte. As exposições "Sorte revelada, Descaminhos e descobertas" e "Recapturas em gestos" podem ser visitadas até 11 de setembro.
Em tempos de consolidação da fotografia digital para além das máquinas especificas para esse fim, o uso de técnicas que remontam ao século 19 pode trazer um novo olhar sobre o processo fotográfico. A exposição "Sorte revelada, Descaminhos e descobertas", que está na sala 1 da Gaia, traz materiais produzidos pelo projeto Imagineiro . Roger Sassaki, organizador e pesquisador do projeto, criou o grupo a partir de um projeto de pesquisa e experimentações sobre esses processos de fotografia, realizado no seu ateliê em São Paulo e da realização de oficinas, sendo difundidas em seu blog.
O material presente na mostra foi produzido pelos métodos de placa úmida de colódio, onde a nitrocelulose obtida a partir do algodão é diluída em éter e álcool. As imagens produzidas são feitas artesanalmente por meio da ambrotipia (desenvolvida na década de 1850, onde a imagem positiva é aplicada sobre placas de vidro), e da ferrotipia (processo em que a imagem positiva é criada diretamente sobre uma chapa de ferro revestida com esmalte).
Roger Sassaki, 2'50"
Nos últimos três anos Roger Sassaki vem ministrando oficinas práticas sobre técnicas e linguagens fotográficas. Posteriormente ele convida os participantes a montarem uma obra para uma exposição, planejando desde parte funcional, materiais, tema e a produção autoral de cada um. Além das obras de Roger, estão expostas na Gaia produções de Anna Silveira, Bruna Queiroga, Laura Del Rey, Lucio Libanori, Manuel Gomes, Maria Clara Scobar, Maurício Sapata, Mauricio Virgulino, Osirís Lambert, Plínio Higuti, Simone Wicca e Tiana Chinelli.
Bruna Queiroga e Mauricio Virgulino 3'13"
Já na sala 2 está em cartaz "Recapturas em gestos", com obras de Ligia Minami e Ricardo Hantzschel. Fotógrafa e mestre em poéticas visuais pelo Instituto de Artes da Unicamp, Ligia Minami realiza uma pesquisa em processos históricos da fotografia do século 19, como as técnicas da monotipia, cianotipia e gravura. Em sua mostra, Ligia apresenta trabalhos da série "Abraço", com retratos misturados com fotogramas em cianotipias, onde elementos são acrescentados durante a impressão na fotografia original.
Ligia Minami 2'50"
Fotografo há 35 anos e educador, Ricardo Hantzschel realizou entre 2011 e 2015 o ensaio "Homens de Sal", sobre o trabalho de extração das salinas da Lagoa Araruama, na Região dos Lagos, Rio de Janeiro. Trata-se de uma atividade econômica de exploração mineral em processo de extinção onde a vida dos trabalhadores é resgatada. E durante a impressão das imagens foi incorporado o próprio sal da região, por meio da técnica de papel salgado.
Ricardo Hantzschel 3'03"
Após a rápida transição tecnológica realizada do analógico para o digital na década passada, o uso de técnicas de produção e revelação fotográfica dos primórdios ajuda não apenas a resgatar a história, mas também uma reflexão sobre a estética e a realização de experimentações artísticas. A presença de Philippe Dubois na Gaia, onde ministrou uma palestra sobre o artista italiano Paolo Gioli e participará do seminário “Fotografia e Cinema”, dos programas de pós-graduação em multimeios e em artes visuais do IA, foi o estopim para a iniciativa de realizar as duas exposições.
"Se você está trazendo um pensador como Philippe Dubois, é importante discutirmos os primórdios dessa linguagem. Quais são os métodos, as linguagens adotadas e o primeiro momento em que as imagens são relevadas", explica Ivanir Cozeniosque Silva, coordenadora da Galeria. “São técnicas do século 19, com um olhar adequado ao fotógrafo e com a maneira de pensar a imagem dos dias de hoje. Nós queremos mostrar aos jovens de hoje que não existe apenas a fotografia digital. Acho importante que eles conheçam que existem outras técnicas e processos onde a imagem emerge”.