“O método é só o instrumento, a ponta do iceberg. Mas o que faz esse iceberg 'flutuar' e o que lhe dá sustentação são as teorias e os conceitos filosóficos e pedagógicos”, assinalou Paulo Marcondes, docente da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), durante evento realizado no auditório do GGBS da Unicamp. Ele falou a coordenadores de cursos de graduação, a docentes PED’s, PAD’s e a interessados. O evento está ocorrendo com transmissão AO VIVO.
Essa atividade vinculou-se ao Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizado (EA)2 da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), chamada RenovaGrad, que visa ao aprimoramento do ensino na graduação da Unicamp, discutissão de práticas de ensino inovadoras, questões pedagógicas, metodologias ativas e ambientes virtuais de aprendizagem. O professor Paulo Marcondes inaugurou as atividades da RenovaGrad.
Paulo Marcondes refletiu sobre “O uso de recursos eletrônicos para qualificar o ensino de graduação”, em conferência dialogada. Ele comentou com o público que a escola como é conhecida hoje teve origem na Idade Média. "A sala de aula ainda permanece nos mesmos moldes. Foi um modelo de sucesso. Ocorre que ele não funciona mais”, desmistificou.
O docente disse que é preciso trilhar caminhos diferentes no ensino, outra lógica, pois a que está em voga não está mais atraindo os jovens, sobretudo na graduação. Na Idade Média, pressupunham-se dois modelos: o Trivium (ciclo básico) e o Quadrivium (ensino aplicado). "O processo é praticamente o mesmo. Criou-se um manual de como montar uma escola, no qual se prescreve como deve ser a governança, o ensino, os ciclos, a prova, a sala de aula, etc. Estudamos mediante esse modelo que hoje é, com certeza, inadequado para a vida contemporânea”, frisou.
Segundo ele, com a internet, atualmente os alunos checam o que os seus professores estão falando praticamente in loco e se desinteressam com os conteúdos muitas vezes distantes de sua realidade. Por outro lado, reconhece que muitos alunos são bem-sucedidos profissionalmente porque aprenderam, em grande parte, nas atividades de extensão que foram incluídas no currículo.
Em sua opinião, é necessário agir no âmago da questão, criando uma certa insegurança para que novos conceitos surjam. “Uma área importantíssima hoje são as comunidades de prática”, revela. É um grupo que se une para tratar de um tópico ou de um interesse. Essas pessoas trabalham juntas para encontrar meios de melhorar o que fazem, resolvendo um problema da comunidade ou tendo um aprendizado diário, através da interação sistemática. O termo foi chancelado por Etienne Wenger e Jean Lave em 1991.
“A comunidade que usa o WhatSapp é uma comunidade de prática, entretanto nem sempre usa essa ferramenta como poderia no ensino”, declarou ele. "Numa comunidade de prática, o papel docente é o de facilitador, com a lógica de aprender com o grupo", explicou. A Unicamp tem o maior número de iniciativas nessa linha com a presença das diversas ligas estudantis, lembrou Eliana Amaral, durante debate com o palestrante.
Paulo fez um apanhado geral do que seria criar uma competência para o trabalho docente ou de educação, bem como falou das teorias de aprendizagem e as ferramentas disponíveis para os professores usarem com seus grupos de alunos. À tarde, ampliou o tema, quando ministrou uma oficina no mesmo auditório sobre alguns métodos ativos de ensino e aprendizagem.
O médico contou que mudou para a UFSC a fim de auxiliar na implantação de um curso de medicina novo dentro do programa de expansão Mais Médicos. Foi para criar um projeto pedagógico diferente. “Agora, nosso projeto pedagógico não tem em seu planejamento aulas teóricas. É baseado inteiramente em métodos ativos de ensino-aprendizagem. O curso vai começar no ano que vem".
Vários grupos pensam nesse tipo de ação atualmente. “Temos o Programa Faimer Brasil de Desenvolvimento Docente e a rede internacional The Network Towards Unit for Health, a qual procura interferir na formação e fazer a inserção da escola na comunidade, promovendo mudanças do serviço de saúde”, informou Paulo, cuja formação é em medicina, com mestrado e doutorado em engenharia elétrica e de computação pela Unicamp no ano de 2000. Fez outro mestrado em Illinois, EUA, em educação para profissionais de saúde. Também foi supervisor de residência de medicina da família por vários anos. Com essa experiência, ele observou até aqui que uma das maiores dificuldades no curso de medicina é a implantação das diretrizes curriculares, visto que exige uma mudança de mentalidade.
O convidado frisou que pretende desenvolver colaborações com a PRG da Unicamp, ao que acrescentou Eliana Amaral, titular dessa Pró-Reitoria, que estão sendo propostas mudanças, ativação e renovação. “Ao longo de nossa trajetória, acabei encontrando Paulo em trabalhos relacionados à tecnologia do ensino na área da saúde, num programa internacional de desenvolvimento para profissionalização da docência. Ele é um dos membros do grupo gestor dessa iniciativa. Então, pensando na transição pela qual estamos passando, não só na saúde, Paulo é uma pessoa bastante instrumental porque conhece a Unicamp e, como já trabalhou em grandes instituições, acabou enfrentando muitas transições. Pretendemos realizar mais dessas dobradinhas, trazendo convidados para desenvolverem várias atividades e para oferecerem sua experiência às diversas unidades da nossa Universidade", realçou Eliana Amaral. Nessa terça-feira (15), Paulo Marcondes passará o dia na Faculdade de Ciências Médicas fazendo atividades junto à pós-graduação.