Marimba é um instrumento originário da África, no século 16, mas ao ser adotado pela música ocidental, passou por reformulações, assemelhando-se ao piano. Se alguém pensa que assim ficou mais fácil se tornar um bom intérprete do instrumento, o percussionista espanhol e professor da Universidade do Porto Miquel Bernat explica que é preciso experimentar várias possibilidades técnicas para chegar a um resultado artístico satisfatório. Em turnê no Brasil, o músico realizou um concerto no dia 21, no Instituto de Artes, e em masterclass com estudantes do curso de música da Universidade, dia 22, falou sobre a importância de aliar as técnicas a elementos artísticos do próprio músico. Em 20 dias, ele percorre algumas cidades brasileiras para divulgar o livro Estudios de Concierto para Marimba Vol I: Los saltos y la extension.
A obra, segundo Bernat, é o primeiro volume de uma série dedicada ao estudo técnico e à ampliação do repertório para percussão. A extensão e o salto, um dos desafios para o intérprete de marimba, é o foco principal do conteúdo da obra. “Na cultura ocidental, o instrumento contém lâminas e teclas que seguem a lógica do piano, mas a dificuldade é tocar com quatro ou seis baquetas, por isso foco a extensão e os saltos. Temos uma baqueta no meio e outra no ar. A dificuldade é que, para não errar, precisa ter o cuidado para que a outra baqueta caia na nota que buscamos. É preciso aprender a mexer com elas para obter acordes mais abertos, mais fechados e para alcançar toda a extensão”, explica.
Percussionista desde os 6 anos de idade, Bernat possui formação clássica e compôs importantes orquestras europeias, além de atuar como solistas em vários concertos. Hoje, dedica-se mais à música contemporânea. O início da carreira docente, segundo Bernat, é marcado, entre outras realizações, pela participação, em 2004, no Festival Internacional de Música da Unicamp, dirigido pelo maestro português Osvaldo Pereira. Em 2000, ele esteve no Brasil para participar do Festival Ritmos da Terra, com o grupo Drumming, de Porto, Portugal. “Brasil é referência e tem uma qualidade excepcional e inspiradora. Gosto muito de música popular brasileira. E agora abre muito a participação da percussão na música erudita também. Já está no sangue, então este aspecto é fácil os músicos brasileiros. Hoje, o Brasil é bem desenvolvido na área de percussão para música erudita.”
Em suas viagens pelo mundo para concertos e divulgação musical, Bernat diz ter compartilhado experiências com instrumentistas importantes da percussão brasileira, como os professores do IA da Unicamp João Dalgalarrondo e Fernando Hashimoto, atual pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp, e Fernando Rocha, de Belo Horizonte.
Nesta quarta, às 20 horas, é a vez da Fundação de Desenvolvimento Cultural (Fundec) de Sorocaba receber o concertista catalão, que segue para São Paulo, Goiânia, Belo Horizonte e, em seguida, o professor volta às salas de aula, na Universidade do Porto para continuar seu trabalho de formação de novos músicos. Ou seriam novos professores? Afinal, de acordo com Hashimoto, uma análise das fotos do Festival Internacional de Música de 2004 revela que muitos dos participantes da oficina ministrada pelo músico catalão se tornaram professores universitários. “Miquel tem uma importância inquestionável na formação de professores. Ele dá aula em institutos muito importantes e há 17 anos existe esta cooperação.”
A turnê, na opinião de Hashimoto, mostra duas coisas: “A primeira é como fazer projetos com subvenção bem-feitos, e a segunda diz respeito ao trabalho de comissionar peças novas para repertório. Isso amplia a linguagem do instrumento e as possibilidades técnicas”. Para Hashimoto, Bernat é unanimidade entre os percussionistas. “Muitas das obras que tocamos foram comissionadas ou escritas por ele. Então tem influência muito grande. Este trabalho cooperativo que realiza com outros compositores e também nos grupos que ele dirige é muito importante para a comunidade.”