Melhorar a qualidade de vida de pessoas necessitadas empregando como alavanca o empreendedorismo. Essa é o lema da Enactus Unicamp, uma organização internacional sem fins lucrativos que opera em 36 países e 1.730 universidades. Esse trabalho, que na Unicamp é orquestrado por estudantes sensibilizados com a população carente, soma-se ao de 72 mil estudantes voluntários no mundo todo.
Fundada em 2013 pelo Núcleo das Empresas Juniores, a Enactus Unicamp atualmente tem em andamento na comunidade de Campinas três projetos sociais de grande relevância: os projetos Madrepérola, o Pureco e 14 Bis. As ações sociais são o carro chefe da iniciativa, conta Renê Grottoli Siqueira, o novo presidente da Enactus Unicamp. Ele tomou posse na noite dessa quarta-feira (23) no salão nobre da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). Seu mandato será de um ano e dividirá as atividades com a diretoria executiva, de RH, de marketing, de projetos e administrativa.
O estudante comenta que o projeto Madrepérola acontece numa comunidade do Parque Itajaí que se reúne quinzenalmente no Cecompi (Centro Comunitário da Criança Parque Itajaí e Região). O trabalho é dirigido a mulheres desempregadas, mediante sua capacitação. “Estamos montando um modelo de negócios com elas na área de costura”, informa. A ideia é a confecção de roupas íntimas, biquínis e roupas de ginásticas para serem colocados no mercado.
Vinte mulheres participam desse projeto e, graças a uma parceria com o Vezo (Instituto de Moda, Campinas), 15 delas farão um curso básico de costura com duração de quatro meses. Elas devem aprender a operar uma linha de produção, desenhar, usar as diferentes máquinas e suas possíveis aplicações. “Diferente do que prega o assistencialismo, queremos empoderar as mulheres, criando competências na própria comunidade”, revela Renê. “Em geral, quando elas conseguem alavancar o negócio sozinhas, é o momento do Enactus procurar outra comunidade para desenvolver novos projetos.”
Uma segunda frente desse projeto é o desenvolvimento de sutiãs mais anatômicos e mais confortáveis para mulheres que tiveram a mama retirada em virtude do câncer, as mastectomizadas. Pretende-se aproveitar a capacitação em costura das mulheres do Madrepérola. “Assim, essas mulheres terão um ganho e conseguirão propor um produto mais atrativo e mais acessível”, afirma. "O doutor Cássio Cardoso Filho, médico mastologista do Caism e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, está nos ajudando nisso, além do Hospital da Mulher."
Outro projeto do grupo que está em curso é o Pureco, desenvolvido junto à comunidade do Campo dos Amarais, que abrange moradoras do Jardim Santa Mônica e do Jardim São Marcos com idade entre 30 e 50 anos. O trabalho está envolvendo mulheres desempregadas que atuavam como domésticas. A Enactus está desenvolvendo o aplicativo Pureco, mais ou menos nos moldes do Uber. O aplicativo recruta as mulheres cadastradas para fazerem faxina na casa de estudantes da Unicamp na região de Barão Geraldo.
Esse aplicativo tem alguns campos a serem preenchidos como dia, horário da faxina, os cômodos que devem ser limpados, se é preciso lavar roupa ou a louça, entre outros. O Pureco é acessado pelas mulheres de seus celulares. A implantação desse aplicativo está prevista para acontecer até o início do ano que vem. Contou com o apoio da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação e do Instituto de Computação da Unicamp. “Não estamos terceirizando essa atividade. Vamos mostrar a essas mulheres como utilizá-lo, pois o aplicativo será delas”, garante.
Um outro projeto ainda é o 14 Bis, realizado junto à Cooperativa Santo Expedito, na Vila Castelo Branco. Seu objetivo é dar voz às cooperativas de catadores de recicláveis para melhorar as condições de trabalho e a qualidade de vida de seus cooperados, com geração de renda, além de reduzir os danos ambientais pelo descarte.
No momento, um novo projeto está sendo formatado pelo time da Enactus. Terá como foco a sustentabilidade, a exemplo do projeto 14 Bis, que envolve uma cooperativa de catadores de recicláveis na Vila Castelo Branco. “Estamos prospectando alguma comunidade próxima da Unicamp para conhecer as suas demandas, mas vamos na linha da sustentabilidade. Devemos aplicar uma metodologia de projetos baseado no livro PMBok, uma ferramenta considerada ideal para projetos sociais”, explica.
Renê faz um apelo: “que outros alunos venham integrar nosso time e impactar a vida das pessoas. Essa é uma oportunidade única e que nos faz sair da bolha da Unicamp para buscar novos horizontes. Quando saímos do nosso foco e olhamos para as outras pessoas, somos até mais felizes”, ressalta Renê, que é de Pederneiras, ama a área automotiva, já trabalhou no setor industrial, mas que se apaixonou mesmo foi pelas atividades sociais que conheceu atuando na Enactus.
Segundo Renê, serão muitos os desafios que a Enactus terá pela frente, entre os quais uma maior divulgação das suas ações, para conseguir mais apoio ainda e chamar mais pessoas para trabalharem nessa causa. “O sonho é mudar a vida das pessoas para melhor”, enfatiza.