Um genocídio matou mais de 800 mil pessoas em 1994 em Ruanda, África, trazendo grande destruição. Anos depois, a documentarista e jornalista brasileira Ana Terra Athayde percorreu as ruas de Kigali, capital de Ruanda, em busca de depoimentos de jovens que cresceram enquanto o país se recuperava do massacre. O resultado desse trabalho foi o documentário Filhos de Ruanda, que acaba de ser finalizado.
O filme será exibido pela primeira vez na Unicamp no dia 11 de setembro, às 14h30, no auditório da Escola de Educação Corporativa da Unicamp (Educorp). O evento é promovido pela Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen) em conjunto com a Cátedra dos Refugiados da Unicamp. A entrada é franca. Assista a um trecho do filme.
Após a exibição de 45 minutos de documentário, foi convidada a participar de um debate sobre o tema a documentarista e jornalista Ana Terra Athayde, ao lado de Lúcia Ramos Monteiro, pesquisadora de cinema da ECA-USP; e de Ana Carolina de Moura Delfim Maciel, coordenadora da Cocen, que é historiadora e documentarista.
A ideia, ao colocar em pauta essa temática, é fomentar um tipo de discussão pautada num produto audiovisual, uma forma de manifestação distinta da textual e que traz novos elementos como a imagem. Ana Carolina acrescenta que a documentarista Ana Terra trouxe ao filme a dimensão da superação, "de como a população se recuperou após o genocídio."
Ana Terra conta um pouco sobre a história do filme. Ela foi selecionada pela IWMS (International Women’s Media Foundation) como fellow para fazer uma reportagem na África pelo seu interesse de ver como o país havia se reconstruído após o genocídio. Encontrou histórias duras. "Eram vizinhos matando vizinhos, familiares matando familiares. A reconciliação só foi possível graças a um esforço da população e do governo. As pessoas foram capazes de criar arte, criar empresas e de criar um futuro", diz.
Em Ruanda, 78% da população tem menos de 35 anos, informa Ana Terra. "É uma população jovem que traz as marcas de um passado de genocídio e um presente de reconstrução. Sessenta e quatro por cento do parlamento é composto por mulheres", relata Ana Terra, admirada com o protagonismo feminino na política e naquela sociedade.
O massacre, por extremistas étnicos hutus contra tutsis e hutus moderados, exterminou um décimo da população do país em apenas 100 dias. O povo se reergueu e hoje convive pacificamente com os assassinos. Nos últimos sábados de cada mês, a população se reúne para um mutirão (chamado umuganda) a fim de reconstruir o que se perdeu.
"Quando as pessoas vêm a Ruanda, elas pensam que os ruandeses, especialmente os mais jovens, se sentem um pouco perturbados por conta do que aconteceu aqui. Elas só pensam no genocídio. Elas pensam que você é diferente das outras pessoas, talvez porque você tenha toda essa história, porque seus pais talvez tenham participado do genocídio. Quando as pessoas vêm a Ruanda, elas se surpreendem ao ver que viramos esta página sombria de nossa história", conta Serge Nors, 21 anos, um dos personagens do documentário.