Centenas de pessoas estiveram na tarde desta quinta-feira (31) no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) para prestar homenagem póstuma às pesquisadoras Maria Érbia Cássia Carnaúba, de 32 anos, e Carolina Blasio da Silva, de 33 anos, ex-alunas do Departamento de Filosofia da Unicamp. Ambas faleceram no último sábado (26) no mesmo acidente automobilístico no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas. Carolina Blasio defendeu sua tese na sexta-feira (25), um dia antes do acidente.
Familiares, professores, funcionários, alunos e amigos das pesquisadoras estiveram na solenidade do IFCH, além dos seus orientadores: os professores Marco Antonio Caron Ruffino (orientador de Carolina) e Marcos Nobre (orientador de Maria Érbia).
Marco Ruffino salientou que o trabalho de pesquisa de Carolina era de altíssimo nível. “Eu a conheci em 2010, em Ouro Preto-MG. Ela era psicóloga, depois veio a filosofia, a metafísica, a lógica. Ela sabia muito. Tinha criatividade e tinhas ideias bastante originais. Apaixonou-se pela lógica e falava do tema como quem fala de poesia", expressou. "Carolina estava muito feliz com a defesa, pois foi um longo caminho. Enquanto escrevia sua tese, teve um bebê, viajava muito e morava na Alemanha. Não sei como ela conseguiu terminar uma tese tão trabalhosa, densa e dominando a bibliografia contemporânea como ninguém. Foi uma grande perda para nós e para a pesquisa”, assinalou.
Com a palavra o professor Marcos Nobre, ele lembrou que Maria Érbia se jogava inteiramente de cabeça nos seus projetos. Recordou que ela era uma pessoa muito corajosa e entendia que o trabalho acadêmico devia estar sempre ligado à sua experiência de militância. "Ela nunca abriu mão de sua experiência de vida. Era uma pessoa de firmes convicções", recordou. Durante seu discurso, Nobre leu duas páginas da tese de doutorado de Érbia. O trecho abordava temáticas como a sensibilidade e a razão, a luta contra a violência, a moralidade, a cultura e a estética, entre outros pontos. No texto, Érbia dizia "que vítimas do poder têm sido a base dessa cultura".
Amigos e colegas do IFCH discursaram lembrando as homenageadas. O irmão de Mária Érbia, acompanhado de familiares na cerimônia, relatou que sua família veio do sertão nordestino e que viveu momentos muito difíceis economicamente. “Enfrentamos uma miséria profunda num local onde o retirante está sempre buscando um lugar melhor. Foi assim com Érbia. Ela saiu do sertão e foi em busca do seu sonho em Campinas, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Espanha e em vários países do mundo. Foi mostrando sua luz. Agora creio que o lugar mais confortável para ela é o coração de cada um.”
Américo, marido de Maria Érbia, agradeceu a homenagem do IFCH e falou que sua esposa era uma pessoa encantadora, doce, acolhedora e uma guerreira. João Marcos, marido de Carolina, enviou uma mensagem da Alemanha também agradecendo a homenagem. Comentou que, poucas horas antes dela falecer, eles trocaram mensagens de amor. Encerrou dizendo que tudo o que viveram juntos valeu muito a pena.
Após os discursos, todos acompanharam a cerimônia de plantio de uma árvore – um manacá-da-serra – no jardim do instituto, em memória das pesquisadoras. Os registros fotográficos realizados durante as homenagens formarão um dossiê a ser encaminhado para as famílias das ex-alunas da Unicamp.
Veja nota de pesar da Reitoria da Unicamp.