Antonio Candido empresta nome à biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem

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Antonio Candido, primeiro diretor do IEL
Professor Antonio Candido, primeiro diretor do IEL

Uma das mais destacadas bibliotecas da América Latina, a biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, recebeu na tarde desta terça-feira (19) o nome de Antonio Candido (1918-2017), ex-docente da Unicamp e primeiro diretor do instituto. O descerramento de placa aconteceu dentro da biblioteca, cujo acervo tem 130 mil exemplares e uma coleção de 1.050 títulos de periódicos. Essa foi homenagem póstuma da comunidade do IEL ao professor Antonio Candido, crítico literário, sociólogo e ensaísta que foi um dos fundadores do IEL e que faleceu no último mês de maio. Sua filha caçula, Marina de Melo e Souza, que é professora da USP, esteve na cerimônia.

Marina relatou que se lembra muito de quando seu pai vinha a Campinas empenhado no projeto de construir as bases do IEL. "Essa iniciativa era, antes de tudo, um projeto de educação que ele muito apreciava”, conta. “Meu pai ficaria muito contente neste momento com essa homenagem, muito embora não andasse em busca de louvação. Foi representante de uma geração única na área de Humanidades no país.”

O reitor da Unicamp Marcelo Knobel manifestou sua alegria em prestar essa homenagem. Qualificou como uma honra poder reconhecer pessoas que, como o professor Antonio Candido, se dedicaram inteiramente a um bem maior. “Com o risco de perdermos a autonomia universitária, temos que discutir um país que tenha ética. Estamos tentando recuperar uma educação mais abrangente e mais humanística. Isso não é fácil. Mas as ideias que nasceram aqui precisam ser recuperadas e ser vividas. É disso que nosso país precisa”, disse ao se referir ao professor Antonio Candido.
 

A bibliotecária Ana (de vestido), Marina (à esquerda) e Teresa Atvars (ao centro)
Marina (à esquerda), Teresa Atvars (ao centro) e a bibliotecária Ana (à direita): Antonio Candido é relembradoi

A coordenadora geral da Universidade, Teresa Dib Zambon Atvars, salientou que é preciso reverenciar essa memória. “É nossa obrigação fazer isso, pois estamos falando aqui de pessoas que conseguiram criar e executar um plano com múltiplas e boas ideias.” O diretor do IEL, Flávio Ribeiro de Oliveira, destacou que Antonio Candido foi uma referência fundamental nos estudos literários e nos estudos multidisciplinares que buscam compreender a sociedade em que se vive sob uma perspectiva da história, da psicologia e da literatura.

Os professores Rodolfo Ilari e Antonio Arnoni Prado foram convidados a relembrar o colega Antonio Candido. O professor Ilari relatou uma convivência marcante com o homenageado, desde que o conheceu na USP. Foram vários encontros e muitas conversas. “Reencontrei-o na Unicamp, quando essa estrutura estava sendo montada. Foi uma grande alegria. Sua ideia era manter um núcleo forte de professores e evitar que a Linguística fosse invadida por oportunistas”, revelou. “Se temos o instituto que ora temos é graças ao professor Antonio Candido”, reconheceu. Ilari frisou que essa é uma justa homenagem da biblioteca do IEL e que Antonio Candido também poderia oferecer seu nome a esse instituto, a exemplo de Gleb Wataghin que nomina o Instituto de Física (IFGW).

Ele recordou que o homenageado comprou muitos livros para a biblioteca do IEL naqueles primeiros anos. Dos primeiros 200 volumes do instituto, pelo menos 15 foram ofertados por ele com verba própria. “A biblioteca sempre foi um espaço dele. Sugiro, portanto, que, ao lado de sua placa, coloquem também uma foto de Antonio Candido e o nome das suas obras, para que os alunos conheçam quem ele foi para a Unicamp e para o país”, propôs.
 

O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel
O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel

O professor Antonio Arnoni contou que, para fazer o curso de Antonio Candido, era preciso ler os originais (romances, poemas, crônicas). Arnoni tinha receio de ser orientado por Antonio Candido na pós-graduação, tal era o grau de complexidade que se impunha no curso. Foi um dos cinco escolhidos para ser seu aluno. "Criou-se uma grande amizade, que perdurou a vida toda", afirmou. O curso não foi fácil. As leituras eram dificílimas e nunca houve, da parte de Antonio Candido, elogios ou a sensação de que estivesse satisfeito.

Suas aulas eram sempre inesperadas, principalmente quando Antonio Candido abordava o Brasil. Ele decifrava diferentes épocas e fornecia vasta bibliografia. Escavava os bastidores para então apresentar os livros, que sempre partiam da importância do autor e da evolução da obra. "Suas avaliações eram sempre impessoais. Gostava de conversar com os alunos e de apontar novos caminhos", pontuou. "Ele sempre foi um exemplo pessoal, e suas atitudes confirmaram isso. Mas sempre manteve uma vocação para o anonimato. Não fazia questão de aparecer. Seu alinhamento político era com a sua consciência. Raros são os professores que conseguem manter uma dimensão intelectual e pessoal. Logo, essa homenagem tem muito a ver com a integridade desse grande intelectual", reforçou.

Após cerimônia no auditório do IEL, o público seguiu para a biblioteca da unidade onde, além de presenciar o descerramento de placa, visitou uma exposição sobre Antonio Candido, da área de Coleções Especiais da Biblioteca Central Cesar Lattes (BCCL), promovida quando o literato faleceu. A ideia, de acordo com a bibliotecária Ana Llagostera, é manter uma exposição fixa de livros de reserva técnica, livros autorais, livros que ganharam o prêmio Jabuti. Ana aproveitou para mostrar aos visitantes da biblioteca o projeto de reconstrução e expansão da biblioteca do IEL, que sofreu um incêndio em 2013, atingindo mais da metade do prédio.
 

Professor Ilari fala sobre Antonio Candido
Professor Ilari fala sobre Antonio Candido
Professor Arnoni fala da integridade de Antonio Candido
Professor Arnoni fala da integridade de Antonio Candido

Credenciais
Antonio Candido de Mello e Souza (1918-2017) contribuiu para o enriquecimento do acervo bibliográfico da instituição. Em 1989, doou, juntamente com seus irmãos, a biblioteca de seu pai Aristides Candido de Mello e Souza. O acervo de 3.528 livros, que possui o nome do seu pai, pode ser encontrado na área de Coleções Especiais e Obras Raras da BCCL. Durante a inauguração da BCCL em 1989, Antonio Candido declarou que "a biblioteca deveria ser equivalente ao laboratório como centro da Universidade, formando ambos o seu duplo coração”.

O professor Antonio Candido foi autor de obras fundamentais de crítica como Formação da Literatura Brasileira (Momentos Decisivos), de 1959, e estudos sociológicos clássicos, como Os Parceiros do Rio Bonito (1964), sobre o caipira paulista e sua transformaçãoCandido era um estudioso da literatura brasileira e estrangeira, com uma obra crítica extensa, respeitada nas principais universidades do país e do exterior. Entre as várias distinções que recebeu, o docente foi agraciado com o título de doutor Honoris causa da Unicamp. Foi professor emérito da USP e da Unesp. Era casado com Gilda de Melo (já falecida) e tinha três filhas: Ana Luiza, Laura e Marina.

Leia textos que falam de Antonio Candido produzidos pela Unicamp:
Antonio Candido dialoga com outros intelectuais em exposição na Unicamp - Portal da Unicamp
Candido reencontra o instituto que criou na Unicamp - Jornal da Unicamp
O mundo dos livros e o mundo digital, segundo Antonio Candido - Jornal da Unicamp

Marina, filha do homenageado, ao lado da placa da Biblioteca Antonio Candido
Mesa de abertura das homenagens. Com a palavra, Marina
Público que prestigiou o homenageado
Imagem de capa
Cerimônia de descerramento de placa na Biblioteca Antonio Candido

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004