“É certamente a descoberta do século. Estamos há 100 anos em busca dessa detecção. Estará nos livros: é o início da Era da Astronomia de Ondas Gravitacionais”. Assim comentou o professor Anderson Fauth, do Instituto de Física (IFGW) da Unicamp, sobre o prêmio Nobel de Física, anunciado na terça-feira (3). O prêmio foi atribuído aos pesquisadores Rainer Weiss, Barry Barish e Kip S. Thorne que conseguiram provar a existência das ondas gravitacionais, previstas por Albert Einstein, em 1915, em sua Teoria Geral da Relatividade.
Segundo Fauth, a descoberta terá impactos em toda sociedade. Primeiramente, será sentida nas esferas teóricas da produção de conhecimento, influenciando estudos nas mais diversas áreas. Em médio e longo prazo, a expectativa é de transformações radicais nos rumos da inovação tecnológica. “Quando a física faz uma descoberta desta dimensão, o impacto é para toda humanidade”, afirmou.
Fauth comparou a detecção à descoberta das ondas eletromagnéticas, que hoje permeiam nosso dia-a-dia nas tecnologias dos aparelhos celulares, GPSs, etc. Mas ressalta que as ondas gravitacionais não são fáceis de manipular como as eletromagnéticas. “São fenômenos com dimensões de energia enormes, que envolvem corpos com dezenas de vezes a massa do Sol e em situações de colapso”, explicou.
As ondas gravitacionais detectadas pelos pesquisadores norte-americanos foram geradas pela colisão de dois buracos negros há 1,3 bilhão de anos. Por meio de uma técnica extremamente sensível, denominada interferometria laser, com estruturas de mais de três quilômetros de comprimento, localizadas em três laboratórios, posicionados em diferentes partes do globo terrestre, pela primeira vez as ondas gravitacionais puderam ser detectadas de maneira direta.
O processo experimental para detecção das ondas gravitacionais foi iniciado na década 1960 por Joseph Weber, que propôs os instrumentos de ressonância de barra. Esses instrumentos propiciaram detecções indiretas, que embora tenham sido consideradas fortes evidências da existência das ondas gravitacionais, ainda não era a comprovação de sua existência.
Com a interferometria laser e o aperfeiçoamento das tecnologias, a própria existência das ondas gravitacionais acabou sendo posta em cheque. “Os detectores já estavam com tal sensibilidade que começavam as especulações de que elas poderiam não existir”, contou Fauth.
A cooperação internacional que possibilitou a descoberta deve ser intensificada nos próximos anos com a construção de outros dois laboratórios de interferometria laser na Índia e no Japão. Além disso, o professor do IFGW aponta para uma tendência de convergência dos estudos na área. “Cada técnica detecta uma parte da informação, mas não enxerga outra. Todas têm limitações. A fonte que gera as ondas gravitacionais deve gerar também partículas, acelerar partículas, gerar ondas eletromagnéticas... Esses outros fenômenos poderão ser vistos por outras técnicas. Essas técnicas diferentes tendem agora a convergir”, pontuou
No Brasil
Desde 2001, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) desenvolve um projeto brasileiro de detecção ondas gravitacionais. O IFGW participa do projeto na área de detecção de raios cósmicos, para que estes não se apresentem como ruído na detecção das ondas gravitacionais. “Há uma radiação constante de raios cósmicos e os detectores de ondas gravitacionais são sensíveis a eles. O detector de raios cósmicos funciona como um veto para saber se o sinal percebido é realmente de ondas gravitacionais, ou ruído pela passagem de raios cósmicos”, explicou Fauth.
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