O Hospital de Clínicas da Unicamp realizou com sucesso seu primeiro tratamento por cateterismo cerebral (trombectomia) em um paciente vítima de AVC. O paciente de 40 anos sofreu um AVC isquêmico enquanto trabalhava e foi encaminhado para atendimento de urgência no HC. Como o tratamento trombolítico, que desentope a circulação cerebral não resolveu, a equipe médica decidiu pelo procedimento de cateterismo cerebral. O paciente passa bem e deve ter alta nos próximos dias sem sequelas.
Na Urgência Referenciada HC da Unicamp são atendidos em média, 90 pacientes/mês. No Brasil, a cada 5 minutos uma pessoa morre por AVC, sendo a segunda causa de morte e a primeira de incapacidade no país, de acordo com a Associação Brasil AVC (ABAVC). No mundo, a cada ano, 17 milhões de pessoas têm um Acidente Vascular Cerebral, 6,5 milhões morrem e 26 milhões vivem com incapacidade permanente. Por ser a principal causa de incapacidade, o AVC precisa ser identificado e tratado rapidamente para que o paciente tenha menos sequelas.
A equipe médica do HC da Unicamp e da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), juntamente com outros 25 centros no Brasil, integra o estudo clínico “Resilient” do Ministério da Saúde. Esse comitê pretende avaliar 600 pacientes em todo o País, vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico nas primeiras seis horas do início dos sintomas (fase hiperaguda). O intuito é utilizar procedimentos minimamente invasivos que diminuam os riscos de sequelas nos pacientes, como o realizado no HC, semana passada.
De acordo com o neurologista intervencionista do HC, Fabricio Buchdid Cardoso, responsável pelo atendimento e o procedimento no paciente, o tratamento trombolítico, que desentope a circulação cerebral quando utilizado em até 4,5 horas do início dos sintomas, aumenta as chances em até 30%. “Já esse tratamento por cateterismo cerebral, quando utilizado em até oito horas, aumenta as chances em mais de 50% e no caso de nosso paciente a chance foi 90%”, comemora Cardoso.
Para o neurologista Wagner Mauad Avelar, responsável pelo ambulatório de AVC, o socorro tem de ser rápido justamente para evitar que a área do cérebro atingida permaneça muito tempo sem ser irrigada. Quando isso acontece, o tecido fica necrosado, o que impede a sua recuperação. “Ou seja, time is brain [tempo é cérebro]”, afirma. A maior preocupação é com a ocorrência de hemorragia, um AVC isquêmico pode se transformar em hemorrágico quando um vaso necrosado se rompe e faz uma hemorragia dentro da isquemia.
O estudo clínico “Resilient” do Ministério da Saúde tem a finalidade de comprovar em âmbito nacional o que já se sabe em estudos internacionais. “Este tipo de procedimento de neurointervenção para o AVC isquêmico tem grande benefício, principalmente na redução da incapacidade e sequelas, e ainda na redução de custos com internação de UTI, antibióticos e fisioterapia”, comenta o professor do Departamento de Neurologia da FCM, Li Li Min.
De acordo com os médicos esse procedimento não está na rotina de atendimento do HC até que o Ministério da Saúde conclua o projeto “Resilient” e comprove a exequibilidade e o custo-efetividade da trombectomia mecânica no Brasil. Os neurologistas reforçam que o sucesso da técnica depende de um bom fluxo colateral, ou seja, que outras artérias estejam levando sangue à área do cérebro afetada pelo AVC.
AVC - Os especialistas recomendam alguns procedimentos que atentam aos sintomas. Levantar os braços e pernas para detectar fraqueza, dar um sorriso para observar se há desvio na fase, e falar para verificar alterações na linguagem. Pois entre os principais sintomas e sinais de alerta estão paralisia (dificuldade ou incapacidade de movimentação); dor de cabeça muito forte, súbita, sobretudo se acompanhada de vômitos; fraqueza ou dormência na face, nos braços ou nas pernas, geralmente é afetado um dos lados do corpo; perda súbita da fala ou dificuldade para se comunicar e compreender o que se diz e perda da visão ou dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos.
Outros sintomas do acidente vascular isquêmico são tontura, perda de equilíbrio ou de coordenação. Os ataques isquêmicos podem manifestar-se também com alterações na memória e da capacidade de planejar as atividades diárias, bem como a negligência. Neste caso, o paciente ignora objetos colocados no lado afetado, tendendo a desviar a atenção visual e auditiva para o lado normal, em detrimento do afetado.
Aos sintomas do acidente vascular hemorrágico intracerebral podem-se acrescer náuseas, vômito, confusão mental e, até mesmo, perda de consciência. O acidente vascular hemorrágico subaracnóide, por sua vez, comumente é acompanhado por sonolência, alterações nos batimentos cardíacos e freqüência respiratória e eventualmente convulsões.
Caius Lucilius com Juliana Castro
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp