Nenhuma tempestade abalou o maior vestibular da historia da Unicamp. Foram 76.225 candidatos realizando as provas da primeira fase do Vestibular Unicamp 2018, neste domingo (19), em 31 cidades do estado de São Paulo, além de Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza. Segundo José Alves Freitas Neto, coordenador executivo da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest), o aumento no número de candidatos disputando as 3.340 vagas, em 70 cursos de graduação da Unicamp, é um sinal da valorização da universidade pública. “É o reconhecimento da sociedade em relação aos trabalhos feitos na Unicamp, em ensino pesquisa. Nesse contexto de crise que as universidades públicas estão passando, a sociedade sinaliza que há uma demanda para a expansão do número de vagas, que é uma demanda dos jovens e uma demanda do futuro do país”, afirmou em coletiva à imprensa concedida após o encerramento da prova, na sede da Comvest.
Para Ana Maria de Almeida, coordenadora adjunta da Comvest, o recorde de inscrições é motivo de orgulho para toda a Universidade. “Nos sentimos honrados pela confiança que esses jovens e suas famílias colocam na Unicamp. É preciso reconhecer o investimento feito nesse sistema público e pedir o apoio de todos para que a gente continue fazendo esse trabalho e possa demonstrar para a sociedade em geral que esse investimento tem um valor e tem uma função no país”, enfatizou.
A abstenção geral foi de 9,02%, um pouco superior à do ano passado, quando foi de 8,6%. O menor índice de ausência ocorreu em Piracicaba, com 6,70%. Entre as capitais, Fortaleza registrou o índice mais baixo de abstenções, 10%, sendo o mais alto Belo Horizonte com 15,31%. Na avaliação da Comissão, esses números são indicadores do bom retorno que tiveram as cidades que abriram vestibular nesse ano. “Os números indicam que a universidade tem uma abrangência nacional e que vale a pena continuar fazendo vestibular com essa perspectiva”, apontou o coordenador executivo.
Números da primeira fase
Apenas em Valinhos o local de prova foi afetado pelas chuvas. Duas salas que seriam utilizadas foram alagadas e tiveram que ser substituídas. A Comvest informou que a realização das provas não foi afetada, tendo seu inicio sido retardado em apenas sete minutos para entrada dos candidatos.
A prova
A coordenadora acadêmica Márcia Rodrigues de Souza comentou alguns aspectos da prova, que segundo ela procurou refletir os princípios da Universidade. A valorização da diversidade cultural, a formação do leitor crítico que consiga olhar para o mundo e não apenas para conhecimentos livrescos e o trabalho com temas socialmente relevantes, foram alguns dos aspectos destacados.
Para o coordenador executivo, o modo de fazer o ingresso dos estudantes na Unicamp procura ser “condizente com a perspectiva de uma universidade comprometida com a sociedade e que quer ter no seu interior toda a diversidade dessa sociedade”.
O sistema anti-cola que rastreia sinais de celulares e radiofrequencia foi testado com sucesso. Segundo José Alves, nenhuma tentativa de fraude foi detectada. “Percebemos celulares ligados em stand by, mas não houve nenhuma comunicação sendo realizada durante a prova”, afirmou. Sobre a utilização do sistema nos próximos anos, Freitas Neto informou que a Comvest tem interesse em todas as atitudes possíveis para coibir fraudes e que dados consolidados serão submetidos às instancias superiores da Universidade para apreciação.
Jornal da Unicamp
A Comvest utilizou oito versões da mesma prova na primeira fase do Vestibular 2018. Em cada caso a ordem das questões era diferente. Na versão Q, o Jornal da Unicamp é citado quando se discute o tema meritocracia na sétima questão. O texto do jornal foi escrito pelo jornalista Manuel Alves Filho e publicado em 7 de junho deste ano. A sugestão dessa pauta ocorreu no ‘mesão’, uma reunião semanal em que os membros da Secretaria de Comunicação da Unicamp (SEC) discutem temas para os diferentes veículos de comunicação da Universidade.
Confira a questão 7 da prova Q
Em maio deste ano, uma festa do 3º ano do Ensino Médio de uma escola do Rio Grande do Sul propôs aos alunos que se preparavam para o vestibular uma atividade chamada “Se nada der certo”. O objetivo era “trabalhar o cenário de não aprovação no vestibular”, e como “lidar melhor com essa fase”. Os alunos compareceram à festa “fantasiados” de faxineiros, garis, domésticas, agricultores, entre outras profissões consideradas de pessoas “fracassadas”. O evento teve repercussão nacional e acirrou o debate sobre a meritocracia. Para Luis Felipe Miguel, professor de ciência política, “o tom de chacota da festa-recreio era óbvio”, e teria sido mais interessante “discutir como se constrói a hierarquia que define algumas ocupações como subalternas e outras como superiores; discutir como alguns podem desprezar os saberes incorporados nas práticas dessas profissões (subalternas apenas porque contam com quem as faça por eles); discutir como o que realmente ‘deu certo’ para eles foi a loteria do nascimento, que, na nossa sociedade, determina a parte do leão das trajetórias individuais”.
(Adaptado de Fernanda Valente, Dia do ’se nada der certo’ acende debate sobre meritocracia e privilégio. Carta Capital, 06/06/2017. Disponível em http://justificando.cartacapital.com.br/2017/06/06/dia-do-se-nada-der-certoacende-debate-sobre-meritocracia-e-privilegio/. Acessado em 08/06/2017.)
As alternativas a seguir reproduzem trechos de uma entrevista do professor Sidney Chalhoub (Unicamp e Harvard) sobre o mito da meritocracia. (Manuel Alves Filho, A meritocracia é um mito que alimenta as desigualdades, diz Sidney Chalhoub. Jornal da Unicamp, 07/06/2017.) Assinale aquela que dialoga diretamente com a notícia acima.
a) É preciso promover a inclusão “e fazer com que o conhecimento que essas pessoas trarão à Universidade seja reconhecido e disseminado”.
b) Com a adesão da Unicamp ao sistema de cotas, um “novo contingente de alunos colocará em cheque vários hábitos da universidade”.
c) “As melhores universidades do mundo (que servem de referência) adotam a diversidade no ingresso dos estudantes há bastante tempo”.
d) “O ideal seria que todos aqueles que tivessem condições intelectuais e interesse em entrar na universidade obtivessem uma vaga”.
Em família
Tainara Viana, candidata ao curso de Educação Física, tinha uma preocupação além da prova. Cuidar de Olívia, de apenas sete meses. A missão ficou para o marido, Marcos Nascimento, que alimentou e cuidou do bebê. Os três vieram do município de Diamante do Norte, no Paraná.
Resultados
A Comvest vai divulgar o gabarito das questões na próxima quinta-feira (23/11), em sua página eletrônica www.comvest.unicamp. A prova da primeira fase já está disponível para consulta na mesma página, bem como os índices de abstenção por cidade. A lista de aprovados na primeira fase será divulgada no dia 11 de dezembro (confira aqui), juntamente com os locais de prova da segunda fase. A Comvest está disponibilizando, aos candidatos, um formulário de alteração de dados, até as 23h59 do dia 21/11. Os dados que podem ser corrigidos são os seguintes: nome, RG, data de nascimento, telefones, e-mail, ano de conclusão do ensino médio e opção pelo PAAIS (Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social).
Segunda fase
A segunda fase será realizada nos dias 14, 15 e 16 de janeiro de 2018. As Provas de Habilidades Específicas para os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais e Dança, serão feitas entre 23 e 26 de janeiro de 2017, em Campinas.
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