A cidade de Codó, no Maranhão, tem pouco mais de 120 mil habitantes e fica distante quase trezentos quilômetros da capital São Luís. Codó é conhecida por abrigar terreiros de terecô famosos, mas também por ter um dos mais baixos índices de desenvolvimento do Brasil. Codó agora também é conhecida na cidade britânica de Leeds, que abriga uma universidade parceira da Unicamp. A universidade coordena um projeto que gerou o documentário “Um pouco de tudo, talvez”, com direção e roteiro de Gilberto Alexandre Sobrinho, professor do Instituto de Artes (IA) vinculado ao programa de pós-graduação em Multimeios.
O curta-metragem já fez sua estreia internacional, no Festival Internacional de Cinema de Leeds. Nesta sexta-feira, no Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas, será apresentado pela primeira vez no Brasil. Com imagens de um celular e o apoio de um cinegrafista na cidade, Sobrinho e equipe fizeram um “filme-diário” que conta como foi o processo de aproximação dos instrutores do projeto com cinco meninas da cidade, as oficinas que realizaram em Codó e os impactos dessa experiência para todos.
O filme é parte do projeto de pesquisa internacional Voicing Hidden Histories (Dando Voz a Histórias Escondidas), financiado pelo AHRC (Conselho de Pesquisa nas Artes e Humanidades do Reino Unido). Na Universidade de Leeds o projeto é vinculado ao Centro de Cinema Mundial e Culturas Digitais.
Segundo Sobrinho, a ideia do projeto é repensar o conceito de nação no contexto do Brics, do ponto de vista das comunidades periféricas ou marginalizadas, e utilizando a narrativa audiovisual como forma de fortalecimento das comunidades. O professor, que já é autor de uma trilogia sobre o legado afro-brasileiro, sobretudo em Campinas (veja aqui), foi convidado do projeto pela professora Stephanie Dennison da universidade britânica. Ela já esteve na Unicamp como professora visitante.
Assista ao vídeo do projeto (em inglês):
Voicing Hidden Histories: Participatory Filmmaking, Advocacy and International Development from Paul Cooke on Vimeo.
Codó foi escolhida por ocupar uma das piores posições no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), mas, ao mesmo tempo, a cidade está em um estado muito rico culturalmente. Há o paradoxo dos grandes centros, como São Luis, que geraram grandes intelectuais, mas também uma cultura afro-brasileira e ameríndia muito rica também, porém estigmatizada. Aí estão as histórias escondidas que o projeto pretende mostrar, afirma Sobrinho. “Como um território com altos índices de desigualdade social, pode ser tão rico culturalmente e como as pessoas de lá vivem com esses dilemas, essa era uma das nossas perguntas”.
Adolescentes
As cinco adolescentes que aparecem no documentário ajudam a equipe de realizadores a pensar sobre as questões colocadas, mas também disparam outras perguntas, principalmente em relação a um novo feminismo e seus impactos nas mulheres de Codó. A organização não governamental Plan-International trabalha a questão do gênero na cidade maranhense e também foi parceira da Unicamp na realização do documentário.
“Havia um grupo de meninas que tinha feito um trabalho de liderança na cidade e elas concordaram em participar do projeto”, destacou Sobrinho. O filme-diário apresenta os encontros, as oficinas e as discussões que o grupo realizou em duas viagens de duas semanas. “Quando chegamos na cidade nós não conhecíamos o lugar e não queríamos impor nada então era preciso construir alguma coisa coletivamente para que aquela história impactasse nas nossas vidas”.
SERVIÇO
"Um pouco de tudo, talvez"
Exibição dia 15/12/2017
19h30
MIS Campinas
Rua Regente Feijó, 859 - Centro