“O professor Michel Debrun foi um mestre polivalente: professor de graduação, de mestrado, um dos fundadores nas ciências humanas na Unicamp e um dos idealizadores da concepção do instituto interdisciplinar que foi o IFCH dos anos 70”, lembrou o professor Francisco Foot Hardman, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), durante mais um fórum visando resgatar a trajetória do estudioso francês, que adotou o Brasil há seis décadas para pesquisar o pensamento nacional. O fórum “Michel Maurice Debrun – Professor, pensador e filósofo”, aconteceu nesta quinta-feira, no auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), organizado pelo Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE).
Foot Hardman, que colaborou para a realização do evento juntamente com o professor Álvaro Bianchi (IFCH), participou da primeira mesa da tarde, sobre “Michel Debrun: um ‘brasileiro radical’ no campo minado das ‘identidades nacionais’”. “Entre seus estudos, o professor Debrun trabalhou com a questão da identidade nacional brasileira e, como disse a professora Ítala [D’Ottaviano], ele tinha o plano de produzir um livro com uma síntese de toda a sua reflexão sobre o tema. Esse livro não chegou a ser concluído por causa do seu perfeccionismo – hoje ele estaria com problemas nesse afã produtivista da academia, porque era um homem de longa maturação, que tinha um saber enorme, mas que publicava pouco porque era autocrítico, via e revia por tantas vezes e tantos anos os seus escritos.”
O docente do IEL destaca os estudos de Debran sobre a identidade nacional brasileira. “Ao mesmo tempo em que ele reconhece a ideia de uma cultura brasileira, mostra como é problemático esse conceito, pois na verdade, talvez, não se possa falar em uma, mas em culturas brasileiras. Da mesma maneira que é muito difícil imaginar uma identidade brasileira única – são diferentes identidades, muitas delas, inclusive, em disputa, em conflito”, finaliza. Foot Hardman teve a companhia da professora Maria Stella Martins Bresciani (IFCH) na mesa mediada pelo professor Armando Boito (IFCH).
A segunda seguinte tratou do “Arquivo Michel Maurice Debran: cenários e pesquisas”. “A ideia é trazer a público a produção acadêmica deixada pelo professor Debran. Temos praticamente cinco obras inacabadas, como Identidade Nacional Brasileira e Ideologia da Realidade Brasileira – corrijo: estão acabadas, mas ele era um perfeccionista”, informa a professora Eliane Morelli Abrahão, responsável pelos Arquivos Históricos do CLE. “Dispomos de aproximadamente 6.000 manuscritos, incluindo trabalhos inéditos sobre o pensamento de Gramsci. Queremos que os alunos pesquisem esse material. As outras duas integrantes da mesa [Maria Vitória Grisi e Yeda Endrigo] são estagiárias que ajudaram no arranjo da documentação e estão desenvolvendo pesquisas em cima da documentação.”
A professora Ítala D’Ottaviano, membro do CLE, participou da última mesa, sobre “Auto-organização”, juntamente com a professora Maria Eunice Quilic Gonzales, da Unesp-Marília. “Vamos abordar os temas com os quais Debrun trabalhou em seus últimos anos de vida, que são sobre processos de auto-organização e sistemas auto-organizados. Esta foi de fato a sua última fase intelectual, onde de certa forma encontra ferramentas e uma metodologia para analisar os temas que tinha trabalhado: a visão gramsciana, a filosofia política própria e os trabalhos de mais de dez anos sobre nação e identidade nacional”.
A professora Ítala conta que colaborou com Debrun desde o início dos seminários, em 1987, sobre ordem, desordem, organização e auto-organização, entre outros temas. “Ele tinha análises profundamente originais e inovadoras, inclusive contemporaneamente, na literatura internacional. Tínhamos publico juntos uma primeira coletânea pelo CLE, ‘Estudos interdisciplinares sobre auto-organização’, primeiro volume. Desde que faleceu, em 1997, publicamos mais cinco, além de dois outros volumes sobre o trabalho dele. Portanto, temos continuado essa linha de investigação e publicado vários textos, com bastante repercussão nacional e internacional.”
A única mesa da manhã, “Gramsci”, teve a participação dos professores Álvaro Bianchi e Ricardo Antunes, do IFCH, e do advogado e diplomata Antonio de Moraes Mesplé.