Serão muitos dias de homenagens do mundo científico (e de fora dele) a Stephen Hawking, gênio da física que nasceu no mesmo dia em que se comemorou o terceiro centenário da morte de Galileu Galilei, e morreu nesta quarta-feira, aos 76 anos, no mesmo dia do nascimento de Albert Einstein – coincidência lúdica, quiçá cósmica. Página e páginas já estão sendo publicadas sobre a trajetória de Hawking, que se tornou mundialmente famoso por sua vitalidade intelectual mesmo com todas as limitações físicas provocadas pela esclerose lateral amiotrófica (ELA), diagnosticada aos 21 anos – os médicos lhe deram no máximo mais três de vida.
É consenso entre docentes da Unicamp ouvidos pelo Portal da Unicamp, que o cientista nascido em Oxford (Inglaterra), em 8 de janeiro de 1942, será lembrado principalmente por suas contribuições ao entendimento das origens e estrutura do Universo – e do papel dos buracos negros –, mas também por seus livros de divulgação científica, como Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros (1988), seu primeiro best seller. Mas a ELA também não impediu que Hawking levasse uma vida atribulada e divertida fora dos muros da academia, com dois casamentos que inspiraram o filme “A Teoria de Tudo” e aparições interpretando a si próprio em séries como “Jornada das Estrelas” e “Simpsons”. Em 2007, aos 65 anos, ele realizou o sonho de flutuar, numa experiência dentro de um jato da Nasa que simula ausência de gravidade.
O professor Samuel Rocha de Oliveira, do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc), afirma que o legado deixado por Hawkins para a física teórica e as ciências em geral, para se entender o Universo, talvez seja a maior dos últimos 50 anos. “Seus trabalhos sobre a criação de partículas em espaços com buracos negros – área com a qual também lido – e uma série de outros trabalhos estruturais sobre gravitação da relatividade geral foram fundamentais para minha formação e pesquisa.”
Para Oliveira, todas as dificuldades físicas enfrentadas por Hawking eram compensadas por um intelecto muito acima da média. “Seus principais resultados foram na física teórica, mas acho que seu grande legado, mais ou menos na linha de Einstein, foi de usar a lógica e modelos matemáticos para descrever e prever aspectos do Universo sem precisar ir ao laboratório. É impressionante seu raciocínio metodológico, racional e matemático. Agora fica a tristeza por uma pessoa que teve uma sobrevida bem acima da esperada, felizmente, e que vinha produzindo questionamentos até há poucas semanas, como a respeito do ‘antes de o tempo ser criado’”.
O reitor Marcelo Knobel, que é docente do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), explica que os buracos negros, objetivos principais dos estudos de Stephen Hawking, são entidades que possuem uma massa extremamente concentrada e com extrema força de gravidade. “A massa vai ficando tão confinada e a gravidade é tão forte que nada escapa, nem a luz. Há uma distorção extrema do espaço-tempo naquele ponto, condição curiosa e fascinante. Hawking previu que consequências essas forças têm no Universo e suas deduções ainda estão sendo verificadas e exploradas. Ele contribuiu muito na área de física teórica para compreensão do Universo, de por que estamos aqui.”
Knobel também enalteceu a determinação do célebre físico inglês, que apesar das limitações físicas que alteraram profundamente a sua vida, conseguiu ser um cientista completo. “Ele não se contentou em falar apenas para cientistas: publicou livros de divulgação científica, debateu com o público, estava o tempo todo na mídia, em séries e programas de televisão e viajou o mundo todo, indo até à Antártica. Apesar da dificuldade extra para viver e trabalhar, ganhou notoriedade mundial.”
O professor João Pitelli, do Imecc, também destaca os livros de divulgação de Stephen Hawking e, no campo científico, elege a “Criação de partículas por buracos negros” como o trabalho mais importante. “Segundo a teoria clássica, os buracos negros podem apenas absorver, e não emitir partículas: tudo entra e não sai, nem a luz escapa. No artigo fica bem claro que efeitos quânticos podem criar e emitir partículas, como se fossem corpos com determinada temperatura. Em minha opinião, esse foi seu maior legado e que o deixou famoso.”