O espetáculo Tripas, escrito e dirigido pelo dramaturgo Pedro Kosovski e encenado por Ricardo Kosovski, venceu o 30º Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro na categoria Inovação. O espetáculo é parte do pós-doutoramento de Ricardo Kosovski pela Unicamp, sob orientação do pesquisador Renato Ferracini, do Lume Teatro (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp). O prêmio entregue no último dia 13 foi comemorado especialmente pelo reconhecimento da relação já estabelecida há tempos entre o teatro e a universidade.
“A universidade brasileira produz espetáculos, pensamento e ações que transbordam o que a gente pode chamar de mercado. Muito das grandes pesquisas e práticas teatrais e dos grandes espetáculos produzidos hoje no país tem algum vínculo com a universidade. O prêmio reflete o que já vem acontecendo e também chama a atenção para a potência desse vínculo”, afirmou Renato Ferracini. O trabalho corporal do ator Ricardo Kosovski foi desenvolvido na pesquisa junto ao Lume.
Kosovski é professor do Departamento de Direção Teatral da Escola de Teatro e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). A peça foi pensada a partir de uma experiência de quase morte que ele teve que enfrentar há três anos, por conta de uma diverticulite. “Atravessando o problema de saúde eu e meu filho Pedro nos prometemos que quando acabasse faríamos uma peregrinação”, conta.
A peregrinação se transformou no trabalho de pesquisa para a montagem, que por sua vez se transformou na pesquisa de pós-doutorado. “Meu objeto de pesquisa residia no meu estar em cena, no ator como sujeito e objeto de pesquisa”. No monólogo a doença foi um pretexto. “O espetáculo fala de fronteiras. A fábula central é a de um homem que está detido na fronteira do golfo de Ácaba, na Jordânia, e precisa de um parecer favorável para atravessar”.
Sobre a parceria com Renato Ferrarini, o ator e professor afirma que a orientação ofereceu os caminhos concretos para a construção do corpo físico na cena. A peça já foi apresentada em Campinas, no Lume, teve agenda no Rio de Janeiro e vai continuar em cartaz em outras capitais.
“De todos os prêmios que fomos indicados o que eu realmente queria ganhar era esse, quando um corpo de jurados identifica num trabalho artístico seus fundamentos de pesquisa”. Ricardo afirma que quer usar o prêmio como ato político para salientar a importância da aproximação cada vez maior do teatro com a universidade. “Os estudantes sempre formaram a massa crítica do público de teatro, discussões políticas eram feitas no teatro e com a dita ‘abertura política’ e reconhecimento dos partidos de esquerda essa discussão se deslocou para a militância partidária. No momento político que vivemos o prêmio aponta para a possibilidade de reaproximação. Há docentes e pesquisadores ávidos por terem acolhidos no seu próprio ambiente espetáculos teatrais. Existe um circuito universitário que o próprio teatro convencional desconhece”, observou.