Mídia e ativismo, linchamentos virtuais, aprendizado ao longo da vida (formal e informal) e treinamento de inteligência artificial são alguns dos temas que estão sendo estudados pelo Grupo Mídia, Discurso, Tecnologia e Sociedade (Midites) do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), coordenado pelo professor Rodrigo Esteves de Lima Lopes. Esses temas também integraram o corpus de discussão, na manhã desta quinta-feira (22), do 1º Encontro Mídias Digitais, Tecnologia e Sociedade, realizado no auditório do instituto com mais de 100 participantes. O objetivo do evento é agregar/congregar as pessoas que trabalham nessa área, oxigenar as pesquisas e ampliar horizontes. Veja a programação.
A professora Lúcia Rottava, da área de Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ministrou a primeira palestra do dia. Ela falou sobre os efeitos das construções metafóricas em textos escritos em contexto acadêmico, destacando um exemplo de memórias de leitura. Segundo a docente, “o sujeito-leitor, ao ter dificuldades na leitura, busca sempre adequar, ao texto lido, conhecimentos já adquiridos em experiências anteriores”.
A mestranda Izadora Pimenta, ao abordar a sua dissertação de mestrado sobre discurso midiático do racismo no futebol, comentou que está buscando identificar padrões na imprensa utilizados para fazer a cobertura do racismo no futebol. Ela questiona os julgamentos que estão presentes em artigos, mesmo a imprensa sendo considerada um meio teoricamente “neutro”.
Na sua pesquisa, ainda em andamento, ela vem verificando que as hardnews (notícias factuais) estão abarrotadas de ideologias que incitam a opinião pública, por meio de palavras estrategicamente escolhidas. Ela usou um exemplo de racismo contra o jogador de futebol Daniel Alves. Durante o Campeonato Espanhol de 2014, devido ao bom desempenho do seu time, o Barcelona, o atleta recebeu algumas bananas arremessadas pela torcida adversária. Ele então respondeu ao insulto comendo uma banana e continuou jogando normalmente.
Após a partida, a imprensa colocou o jogador numa posição de herói, “de alguém que teria acabado com o racismo para sempre, criando uma solução inventiva para combater essa forma de discriminação social”. Segundo a pesquisadora, em geral os jogadores são colocados na mídia no papel de vítimas, de pessoas que não tomam atitudes contra situações como essa.
Na época, o jogador foi capa da revista Veja: “Como Daniel Alves derrotou o racismo”. “Só que o jogador não viu a abordagem desse modo: que ele derrotou o racismo", relatou Izadora. Para isso, a pesquisadora procurou também investigar como os entrevistados o viram nessa situação. "Eles compraram a ideia da imprensa, de tratá-lo como um herói”, constatou.
Izadora agora se prepara para passar pela sua qualificação. A jovem entende que o racismo é perverso até por uma questão estrutural da sociedade brasileira. Os brasileiros, disse, se imaginam numa democracia racial, acreditam que estão num país miscigenado e com as mesmas oportunidades. "Pretendo ver se esses padrões estão se refletindo na imprensa e, depois, no ideário das pessoas."
De acordo com o professor Rodrigo Lopes, o Midites trabalha na intersecção da linguagem, da tecnologia e da linguística, em especial no ensino. "Temos mais de dez pesquisas em andamento no grupo que discutem a relação da sociedade com a tecnologia, a formação do indivíduo, a cidadania, as minorias e o ensino de línguas."
As tecnologias, salientou, são vistas como parte integrante da sociedade. "Enxergamos o ser humano como um ser tecnológico. E as tecnologias existem como formas de ampliar as suas possibilidades", acredita o docente. "É importante percebermos os impactos sociais, mas não fazemos futurologia. Fazemos análises de como a sociedade se desenvolve nesse momento – as consequências que ela tem agora.”