A manhã desta sexta-feira (23) foi intensa para os apreciadores e estudiosos da música clássica contemporânea. A homenagem do V Festival de Música Contemporânea Brasileira à pianista e compositora Marisa Rezende foi iniciada com a apresentação de trabalhos acadêmicos sobre sua obra. O evento contou com a presença da homenageada, que brindou pesquisadores e púbico com colocações e comentários sobre as exposições.
“Os trabalhos foram ótimos. Cada um focalizou um recorte da obra e foram muito competentes em fazer colocar suas observações. O Potiguara trabalha há mais tempo com isso, a Flávia trabalhou há muito tempo, o Tadeu acho que tem uma aproximação mais recente e a menina Késia, está lá em Londres. Cada um se aproximou da obra em momentos de vida diferentes, mas têm um laço afetivo na hora de fazer o trabalho, tem um cuidado e um carinho, que são importantes”, observou Marisa ao fim das comunicações.
A compositora afirmou muitas vezes ser engraçado ter a obra destrinchada de tal maneira. “Às vezes, as pessoas 'viajam' no sentido de que eu teria feito isso ou aquilo. Isso é normal. A obra que a gente faz é sempre entregue de bandeja para o intérprete. A pessoa que faz trabalho teórico também é um intérprete, no sentido de que vai ler coisas específicas ali”, afirmou. Mas ressaltou que o diálogo durante o processo de pesquisa a permitiu pontuar possíveis hipóteses improcedentes. “Uma vez que, a gente está vivo e se conhece, a gente troca.”
Extensões e estruturas
A primeira comunicação oral foi transmitida da Universidade de Oxford Brookes, na Inglaterra, onde a pianista Késia Decoté realiza seu doutorado. A pesquisadora investiga a possibilidade de tornar recitais de piano experiência mais abrangentes e imersiva, por meio da soma de outras disciplinas. Em seu trabalho, as obras de Marisa Resende foram inseridas em instalações e performances. “Foi uma pessoa que pegou as peças de Marisa Rezende e transformou, agregando coreografia e encenações. Além disso, é uma pessoa que está fora do Brasil fazendo uma pesquisa sobre Mariza Rezende. É uma perspectiva interessante”, comentou Carina Jolly, convidada pelo Festival para avaliar as apresentações orais, em parceria com Itamar Vidal, doutorando da Unicamp. Juntos devem ajudar a selecionar os trabalhos que serão premiados pelo Festival.
Os pesquisadores que seguiram - Flávia Vieira, Potiguara Menezes e Tadeu Taffarello - apresentaram discussão estrutural do processo composicional de Marisa. “Eles mergulharam em como as peças foram escritas, em que elementos foram utilizados”, apontou Carina.
Para Itamar Vidal, o conjunto dos trabalhos apresentados possibilitaram uma visão abrangente sobre a obra da compositora homenageada. “O que a organização fez foi muito interessante. Trouxe vários pontos para análise. As comunicações deram uma visão completa do trabalho da Marisa.”
Nova versão de Ginga
No concerto desta noite, no Teatro Municipal de Campinas José de Castro Mendes, será apresentada nova versão da peça Ginga. “A novidade é a formação instrumental. Hoje, eu não vou ter contrabaixo. Será o violoncelo”, contou Marisa revelando a complexidade desse tipo de adaptação. “Dá sempre muito trabalho. Não é como tirar uma roupa e botar outra. Cada conjunto instrumental gera uma sonoridade própria.”
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