Eliminar desperdícios continuamente e resolver problemas de maneira sistemática fazem parte da síntese do pensamento enxuto, a filosofia Lean, que a cada dia ganha mais adeptos no mundo todo. Esse tema acaba de ganhar as páginas do livro Lean na Prática, organizado pelo médico neurologista Li Li Min e colaboradores, que será lançado no próximo dia 12 de abril, às 17 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
Trata-se de uma coletânea de capítulos com experiências de aplicação de Lean na área da saúde e no setor industrial. A obra, editada pela Global South Press, foi organizada pelo Grupo de Inovação em Gestão da Saúde (Gigs) da Unicamp. São 400 páginas dedicadas a 35 cases escritos por autores de diferentes instituições.
O livro será comercializado em versão impressa e eletrônica (e-Book) no Amazon, no iKindle e em outras plataformas internacionais. O lançamento ocorrerá no contexto do VII Congresso Lean Six Sigma. A versão eletrônica será gratuita para baixar durante o evento e dois dias depois, mesmo para quem não tenha participado do evento. Após esse prazo, para ter acesso, será preciso adquirir o livro em eBook.
Congresso
O VII Congresso Lean Six Sigma ocorre nos dias 12 e 13 de abril, no auditório 5 da FCM. Neste ano, o evento mantém a tônica de congresso aberto, não restrito à área da saúde. “Isso porque várias inovações e as melhores práticas estão acontecendo em outros setores da sociedade também. Todas essas experiências são passíveis de serem replicadas”, frisa Li Li Min. As inscrições podem ser feitas eletronicamente. A expectativa de participação é de um público de aproximadamente 300 pessoas.
O encontro será dividido em blocos temáticos. Um deles é sobre a indústria 4.0 (Quarta Revolução Industrial), sob a perspectiva da automação industrial e da Internet das Coisas (IoT). “Já se discute quanto a automação vai substituir as pessoas. A Toyota, precursora desse pensamento, já experimentou muitas inovações, mas enfatiza que, até esse momento, a robótica e a automação ainda são complementares à atividade humana, não substitutas", expõe.
Outra tema a ser abordado no congresso é a educação e como a proposta de Lean pode contribuir para oferecer um ensino mais generalista. “Hoje falamos de metodologias ativas de ensino-aprendizagem, que de certa maneira têm um paralelo com o pensamento enxuto. Talvez as pessoas já tenham escutado falar sobre design thinking [abordagem que busca a solução de problemas de forma coletiva e colaborativa], que tem em seu arcabouço de constructo muitos elementos da filosofia do pensamento enxuto”, informa. Li Li Min explica que o design thinking é utilizado como instrumento de gestão e de otimização de tempo, em busca de respostas.
Uma mesa-redonda discutirá as práticas de saúde usando o pensamento enxuto, mostrando o quanto foi melhorada a eficiência nos processos e o quanto se reduziu e se trouxe de aporte econômico com a sua aplicação, além da satisfação do cliente.
O neurologista conta que a “cereja do bolo” do congresso será a última sessão, que versará sobre Lean City – Cidade Enxuta, abordada pelo professor emérito e diretor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Earll Murman. Em paralelo também será feita uma abordagem sobre a Lean Public, como o pensamento enxuto vem sendo aplicado no governo.
“Quando se fala em governo sempre se pensa em um gigante cheio de burocracias e sempre se pergunta por que a fila que as pessoas têm que enfrentar é monstruosa e por que elas são quase sempre maltratadas nas repartições públicas. O que de tão diferente existe entre uma repartição pública e uma privada, se no final das contas elas envolvem ofertas de serviços?”, questiona o médico. O secretário municipal de Administração de Campinas, Paulo Zanella, apresentará dados da sua administração à frente da Secretaria de Administração. Li Li Min será o moderador na sessão de saúde e de Lean City/Lean Public.
Nessa edição do congresso, foram convidados dois palestrantes internacionais: o professor Earll Murman e a professora Sheryl Johnson, da Escola Técnica de Negócios (o WPI), a terceira escola politécnica mais antiga do mundo, depois do MIT.
Lean Healthcare
Nesse evento, alguns trabalhos mostrarão redução de tempo na assistência e melhoria de atendimento em Pronto Socorro. Segundo Li Li Min, dois pontos em geral mais doloridos nos hospitais, em termos de espera de atendimento, são o Centro Cirúrgico e o Pronto Socorro.
“Vou à consulta mas o que me interessa é a conversa que terei com o médico. O tempo de espera, a TV e o café não me interessam. Também ninguém vai ao hospital para ler revista. Vai para conversar com o médico e resolver alguma condição incômoda ou alguma doença", comenta o coordenador do evento. "A espera não agrega valor. O que acontece muitas vezes é que a pessoa vai ao médico e espera duas horas para ser visto em apenas cinco minutos. A única coisa que importou foram esses cinco minutos. Agora, como podemos limpar todo o resto, que é o desperdício?
De acordo com ele, o Lean visa eliminar o desperdício e melhorar sempre uma situação problemática. “O paciente é o nosso cliente. Mas muitas vezes existe uma distorção de que o sistema de saúde é mais importante que ele em si. Por isso falamos em uma medicina centrada no paciente. Quem deve ditar as necessidades é o paciente", afirma.
O pensamento Lean Healthcare nasceu da necessidade de elevar as discussões para melhorias na área da saúde, sobretudo uma melhor qualidade de assistência: mais eficaz, mais efetiva, centrada no paciente, equitativa, oportuna, com rapidez.
Gigs
O grupo Gigs teve sua origem em um ponto focal do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que discutia pensamento enxuto, o Lean Health Care, aplicado à saúde. Ficou nucleado na FCM e Li Li Min tornou-se coordenador desse grupo focal. Uma parceria foi firmada através de e-mails e conversas com o diretor do MIT, que por anos foi diretor da Ednet (Education Network). A Ednet era uma organização dentro do MIT responsável por propagar o conhecimento do pensamento enxuto mundo afora. Hoje, além da Unicamp, o ITA e a USP-Lorena também participam dessa iniciativa no Brasil.
Surgiram vários interessados no tema que sentiram a necessidade de ter um espaço, um fórum comum, para conversar sobre o que há de novo e de melhores práticas em distintas frentes. O grupo começou então a ver gestão pela maneira mais profissional, sendo criado o Gigs.
As atividades ficaram mais ligadas ao ensino e à pesquisa. No ensino, tem havido eventos anuais, debatendo as melhores práticas de Lean, que começaram com Lean Day, depois vieram os fóruns permanentes da Unicamp e, como só um dia se mostrou insuficiente para o tema avançar, o Lean Day passou a ser o Congresso de Lean Six Sigma.
Li Li Min realça que, quando o Lean saiu do Japão e foi para os Estados Unidos, havia muito ceticismo das pessoas. Mas teve uma boa aceitação e aplicação entre os norte-americanos, e também entre os brasileiros. Nas indústrias automobilística e espacial, não se fala de outro tipo de gestão, de estilo gerencial.