O Brasil teve, nos últimos 50 anos, uma política de desenvolvimento científico e tecnológico ativa, incluindo, há pelo menos 20, a inovação. Nesse período, a produção científica brasileira cresceu constantemente e ganhou importância internacional. Pesquisadores brasileiros, de diversas áreas, atuam hoje na fronteira do conhecimento. Também como consequência dessas políticas, hoje o país conta com organizações de pesquisa reconhecidas em todo mundo como locais de excelência. Por outro lado, o uso do conhecimento para geração de inovação e bens e serviços, caminhou em ritmo muito mais lento. Essa é a avaliação de Sergio Salles Filho, diretor do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, que proferiu na quinta-feira (12) a palestra “Impacto de políticas de Ciência & Tecnologia no Brasil no período recente”, no IG. O evento foi promovido pela Associação dos Geógrafos Brasileiros, seção Campinas.
“As políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) foram razoavelmente bem sucedidas para desenvolver a comunidade científica e a ciência brasileiras, mas não foram tão bem sucedidas para desenvolver pesquisa dentro do setor empresarial. Há um fosso. O conhecimento que é produzido não é um conhecimento produzido para ser utilizado”, afirmou Salles Filho.
Segundo os dados da OCDE apresentados pelo professor, a ciência no Brasil, nos últimos 20 anos, cresceu em proporção maior do que a maioria dos demais países, mas esses resultados não se refletem no valor agregado produzido pela indústria nacional. De acordo com Salles Filho, a razão principal desse descolamento é o excesso de proteção concedido às empresas, que as poupam da competição internacional. “As empresas não se engajam em pesquisa e inovação porque simplesmente não precisam. Os padrões de competição aqui são do mercado interno.” Segundo o professor, o Brasil é um dos países de economia mais fechada do mundo. “No último relatório da OCDE, a questão da abertura aparece como principal problema da economia brasileira.” Para ele, um processo de abertura controlada é fundamental para colocar as empresas brasileiras em um padrão de competição que torne a inovação uma necessidade.
DPCT
Na Unicamp, o Departamento de Política Cientifica e Tecnológica (DPCT) do IG, dedica-se à investigação do assunto há 25 anos. Entre os grupos de pesquisa atuais, Salles Filho destacou temas como as tecnologias de informação e comunicação (TIC´s), a bioeconomia e o setor automobilístico. “Temos hoje no departamento vários laboratórios olhando para como desenvolvimento científico e tecnológico tem evoluído, em diferentes áreas e setores da economia, avaliando a capacidade de inovação das empresas e a capacidade de produção de conhecimento das universidades e dos centros de pesquisa”, contou.
Dentre os trabalhos recém-concluídos, o professor mencionou a tese de Camila Zeitoum ("Criação e apropriação de valor em análise de política: uma abordagem para software no Brasil"), que investigou como as políticas voltadas para TIC´s no Brasil influenciaram o desempenho do setor. Segundo ele, o resultado é dramático. “Investimos no setor cerca de um bilhão de reais por ano em pesquisa. Damos incentivos fiscais na ordem de 6 a 7 bilhões, dependendo do ano. E os resultados são pífios. Do ponto de vista de mercado, os resultados são muito baixos. Nos últimos 10 anos, o setor de TICs no Brasil está estagnado em termos de agregação de valor, a produtividade do trabalhador caiu e a balança comercial é uma das mais deficitárias que existe na economia brasileira”, resumiu.