Quando o poeta italiano Dante Alighieri imaginou o inferno na famosa obra A Divina Comédia, ele deixou uma dúvida para a posteridade. Que o inferno seria uma espécie de funil que levaria ao fogo eterno é certo. Mas as almas ainda precisariam atravessar etapas ou “círculos” de muito sofrimento; e ninguém sabe como elas conseguiriam sair de um círculo para entrar em outro. Eis a questão que matemáticos e pintores tentaram, ao longo da história, tentar responder. Um deles foi o pintor italiano Sandro Botticelli propondo que houvesse escadas entre os níveis. Porém esta não seria a melhor solução segundo o arquiteto e doutorando da Unicamp Paulo de Tarso Coutinho Viana de Souza. Para o pesquisador, a figura geométrica de uma espiral seria mais funcional e plausível. A ideia foi traduzida em um vídeo de computação gráfica que agora está disponível no site Digital Dante, vinculado à Universidade de Columbia, dos Estados Unidos.
Segundo Paulo de Tarso o site é uma plataforma acadêmica que tem como editora a professora Teodolinda Barolini, considerada uma das maiores especialistas do mundo em Dante Alighieri . Em uma carta enviada ao doutorando ela fez vários elogios ao trabalho do pesquisador afirmando que ele oferece “uma maneira moderna e tecnicamente avançada de trazer o inferno de Dante à vida”. Há dois anos o pesquisador vinha mantendo contato com a professora. O filme foi pensado para a site e também para compor sua tese de doutorado, desenvolvida no programa de Artes Visuais do Instituto de Artes (IA) da Unicamp com orientação de Haroldo Gallo. Para construir a espiral ele utilizou as imagens do ilustrador Gustave Doré provavelmente o maior ilustrador da Divina Comédia.
Além do vídeo da espiral o site incorporou mais três filmes idealizados pelo arquiteto e que trazem as representações do próprio Dante, de Boticelli, e do matemático Antonio Manetti. No texto que antecede os vídeos o título chama a atenção para “a visão de um arquiteto sobre o inferno de Dante”. A espiral imaginada por Paulo de Tarso seria descontínua em dois pontos, onde ocorreriam as passagens de um nível para o outro. “Encontrei na figura geométrica da espiral a solução para o transito de Dante e Virgílio no inferno porque na obra Dante sempre desperta num outro ciclo, nunca sabemos como ele atravessou”.