O COLE, que acontece a cada dois anos na Unicamp desde 1978, propõe um olhar diferente para a leitura, que ultrapassa os limites da palavra escrita em sua 21ª edição. O evento é o principal congresso na área de leitura no Brasil. Os participantes serão convidados a pensar a leitura e a educação a partir do prisma das vozes dissonantes. “São todas as vozes que de alguma maneira fazem a nossa língua oficial variar e propõem outra maneira de pensar. São as vozes, ou línguas, indígenas, africanas e afro-brasileiras. São as vozes das mulheres, das crianças, dos velhos. Vozes que vêm sendo silenciadas e invisibilizadas”, explicou Alik Wunder, professora da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, presidente da Associação de Leitura do Brasil e coordenadora do evento. As atividades acontecerão entre 10 e 13 de julho, no Centro de Convenções, Casa do Lago e Faculdade de Educação.
“Resgatamos um modo de entender a leitura muito próximo de Paulo Freire, em que ela é pensada como uma leitura do mundo e não só a leitura da palavra”, afirmou Alik Wunder. Além de olhar para literaturas dissonantes como a indígena e a feminista, o congresso propõe a escuta de outras formas de expressão presentes na linguagem oral, na linguagem corporal e na relação com o outro, que marcam a escrita, a relação com a palavra e nosso modo de pensar.
As quatro conferencistas mulheres darão o tom do debate. A poetisa e cantora Déa Trancoso, do Vale do Jequitinhonha, interior de Minas Gerais, abrirá o evento com uma conferência poético-musical. Ana Godinho, filósofa portuguesa, abordará as variações da língua na conferência “A língua vai para onde ela quiser”. A formação de professores por meio da escrita biográfica será apresentada por Maria da Conceição Passeggi. E o debate sobre literatura e feminismo será trazido por Amara Moira, mulher, trans, escritora e doutora em Estudos Literários pelo Instituto de Linguagem (IEL) da Unicamp.
Outro destaque do evento será o debate sobre literatura indígena. Majoritariamente escrita em português, no caso brasileiro, conta as narrativas das aldeias para os não-indígenas. Tradicionalmente passadas de geração a geração por meio da linguagem oral, essas histórias ganham tratamento literário e criações nas mãos de escritores indígenas. “Elas nos ensinam sobre o que é ser indígena, o que é viver na floresta, o que é escutar a floresta e o que é estabelecer outra relação com o mundo”, explicou a coordenadora do evento. Este debate será conduzido por Daniel Munduruku, escritor indígena e professor visitante da FE.
A programação inclui ainda mesas redondas, rodas de conversa, comunicações de trabalhos acadêmicos, lançamentos de livros e exposições. As inscrições podem ser realizadas pelo site ou no local do evento. Toda a programação da Casa do Lago é aberta ao público.