Desde que parte dos servidores técnico-administrativos da Unicamp decidiu entrar em greve, no último dia 22 de maio, a Administração Central da Universidade tem adotado uma postura baseada na transparência, no respeito e no diálogo construtivo e responsável com a categoria. Nos últimos 45 dias, foram realizadas ao menos oito reuniões de negociação com o Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), além de diversos encontros técnicos para tratar da pauta específica dos funcionários. A despeito das sérias dificuldades financeiras enfrentadas pela instituição, que projetam um déficit orçamentário de R$ 239 milhões para 2018, a Administração Central apresentou duas importantes propostas econômicas ao STU, que rejeitou ambas e ainda decidiu radicalizar o movimento, promovendo a ocupação das dependências da Reitoria.
Intransigente, a posição do Sindicato não tem levado em consideração o grave momento que atravessa a economia brasileira, que traz reflexos significativos para as receitas da Unicamp, cujo orçamento está baseado na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Em todas as reuniões de negociação da qual participou, o reitor Marcelo Knobel afirmou que, se o Cruesp seguisse a recomendação das equipes técnicas das universidades, estas não ofereceriam qualquer reajuste salarial.
Ainda assim, numa decisão política e em reconhecimento à defasagem salarial dos funcionários, acumulada ao longo dos últimos quatro anos, o Conselho ofereceu um reajuste salarial da ordem de 1,5%. Embora possa parecer pequeno, o índice traz um impacto significativo para as três universidades públicas paulistas. No caso da Unicamp, ele representa uma despesa adicional de cerca de R$ 2,5 milhões ao mês. Ao final de um ano, considerando salário, 13º salário e abono de férias, o montante sobe para algo em torno de R$ 34 milhões.
Já a oferta de ampliação do valor do auxílio alimentação representa uma despesa adicional de R$ 5,7 milhões no período de julho a dezembro deste ano e de R$ 11,460 milhões em 2019. Outra proposta feita pela Administração Central, cujo cálculo do impacto sobre o orçamento não tem como ser realizado agora, refere-se à destinação de 10% da arrecadação excedente do ICMS em 2018 para aplicação nos planos de carreira de servidores, docentes e pesquisadores.
Por outro lado, se a Universidade atendesse integralmente às reivindicações contidas na pauta original do STU, de recomposição do auxílio alimentação com base na inflação acumulada, concessão de vale refeição, implantação da carreira e isenção de cobrança do transporte fretado, os gastos suplementares seriam de R$ 315 milhões, ou seja, mais que dobrariam o déficit estimado.
Em razão das graves dificuldades financeiras que a Universidade atravessa e da incerteza sobre os rumos da economia e da política do país, tem afirmado o reitor Marcelo Knobel, é totalmente inviável atender às demandas do Sindicato. “Como gestores públicos, nós temos responsabilidades com a preservação das atividades da Universidade. Precisamos evitar uma situação ainda mais crítica, na qual até mesmo os salários ficariam ameaçados”, tem ponderado o dirigente.
Tão importante quanto discutir de forma transparente e responsável com o STU sobre a atual condição financeira da Universidade, é informar corretamente a sociedade sobre o andamento das negociações com o Sindicato. Dessa forma, a Unicamp tem registrado, com textos e fotos, todas as reuniões entre as partes e disponibilizado as informações em seu sítio na internet. Além disso, a Universidade também tem fornecido diariamente à imprensa, por meio de notas ou de entrevistas de seus porta vozes, dados sobre a realidade orçamentária da instituição, bem como acerca do andamento das conversações com o Sindicato.
As contas da Unicamp, como tem assegurado a Administração Central, são totalmente abertas à consulta pública. “Aqui não se esconde nada. Todas as nossas decisões são tomadas com base na realidade revelada pelos números. Entendemos que as nossas propostas não atendam aos interesses dos trabalhadores, mas neste momento não temos condições de avançar em relação ao que oferecemos ao Sindicato. Vale ressaltar que continuamos abertos ao diálogo. Assim que superarmos as dificuldades atuais, nada impede que voltemos a tratar, no futuro, de questões relacionadas à pauta econômica dos trabalhadores”, tem insistido Marcelo Knobel.
Apesar de todo o esforço empreendido pela Administração Central para construir um acordo com o STU, a entidade sindical não realizou ao longo dos últimos 45 dias nenhum movimento nesse sentido. Ao contrário disso, e mesmo diante da radicalização da greve, a Reitoria propôs por meio de ofício enviado na tarde desta quinta-feira (5) a realização de mais uma reunião de negociação, com a condição de que a Reitoria fosse desocupada. Em resposta, o STU afirmou também em ofício que os trabalhadores deliberaram em assembleia pela continuidade da paralisação.
Acrescentou, ainda, que a mesma assembleia aprovou duas propostas: reajuste do auxílio alimentação para R$ 1.080,00 e o não desconto dos dias parados durante a greve, com a consequente reposição do trabalho acumulado e a emissão de folha suplementar para o pagamento dos descontos realizados. O reitor reiterou a sua disposição em continuar negociando com o Sindicato, mas observou que as conversas somente terão prosseguimento após a completa desocupação do prédio da Reitoria.
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